O ataque que matou 15 pessoas e feriu outras 35 na noite de passagem de ano, em Nova Orleães, foi sem margem para dúvidas “um ato de terrorismo, premeditado e maléfico”, sentenciou esta quinta-feira o FBI, após algumas informações iniciais contraditórias sobre a classificação do ataque.
A investigação está agora focada apenas no atacante já conhecido, e que foi abatido pela polícia. “Não concluímos, neste ponto, que mais alguém esteja envolvido no ataque”, disse um dos responsáveis pela unidade de Terrorismo do FBI, Christopher Raia. Mais uma vez, esta informação surpreendeu, uma vez que a procuradora do Louisiana, Liz Murril, ainda esta quarta-feira tinha dito à NBC que “com alguma certeza” haveria “várias pessoas envolvidas”.
Desta vez, uma série de representantes das autoridades locais e das forças de segurança fizeram questão de corrigir a informação, garantindo que, tanto quanto sabem, o antigo militar Shamsud-Din Jabbar agiu sozinho — uma conclusão a que chegaram tendo por base a análise de três telemóveis que eram do atacante (incluindo os seus registos de chamadas) e dois computadores portáteis, assim como centenas de depoimentos recolhidos desde o ataque.
A análise às pistas e provas já recolhidas está a ser feita de forma “agressiva”, asseguraram as autoridades — o que não significa que não tenham sido cometidos erros ou que toda a informação seja segura. Por isso, e sempre frisando que só foram detetados erros na mensagem — como a ideia inicial de que poderia haver ainda outros atacantes à solta — porque esta está a ser transmitida com “transparência”, o governador do Louisiana, Jeff Landry, comparou a investigação a um “puzzle gigante” que “não se monta em cinco segundos”.
Além disso, neste momento — e sempre com lembretes de que é “muito cedo” para tirar conclusões definitivas e que a investigação “só dura há 24 horas” — as forças de segurança asseguram, pela voz de Christopher Raia, que não têm motivos para acreditar que haja uma ligação entre este ataque e a explosão de um carro da Tesla, de Elon Musk, em Las Vegas, à porta de um hotel de Donald Trump.
Veículo da Tesla explode e faz um morto à porta de hotel de Donald Trump em Las Vegas
Raia explicou os detalhes conhecidos até agora sobre os últimos passos do atacante: Shamsud-Din Jabbar levantou a carrinha que alugou e “usou como arma” a 30 de dezembro, tendo conduzido de Houston até Nova Orleães na noite de dia 31. Nessa mesma noite, “publicou vídeos proclamando o seu apoio ao Estado Islâmico”, tendo a polícia encontrado cinco vídeos diferentes. “No primeiro, o suspeito explica que tinha planeado magoar familiares e amigos”, mas desistiu da ideia porque “tinha medo de que as notícias não se focassem na guerra entre crentes e não crentes”.
Nos vídeos, o antigo militar também dizia que se tinha juntado ao Estado Islâmico antes deste verão e que já escrevera um testamento.
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Sobre os motivos para a forma como desenhou e executou o ataque, Raia reconheceu: “Podemos assumir que era um sítio com muita gente, na noite de passagem do ano. Vamos estar a investigar como prioridade o caminho para a radicalização. Ele inspirou-se a 100% no Estado Islâmico”. E excluiu uma teoria que já tinha circulado, segundo a qual o atacante teria vestido um colete suicida.
Neste momento, reforçaram os vários responsáveis, e estando até ver excluída a ideia de que Shamsud-Din Jabbar tenha agido com ajuda de terceiros, a população “não corre qualquer risco nesta localização”. A garantia é particularmente importante numa altura em que Nova Orleães se prepara para receber mais um evento de grandes dimensões, o Super Bowl, jogo marcado para dia 9 de fevereiro.
“Há um volume de agentes de segurança sem precedentes em Nova Orleães. Este tipo de acontecimento pode acontecer em qualquer cidade, e a tragédia é essa. Para protegermos os americanos do mal, temos de esmagá-lo. E é isso que vamos fazer. Se não, a maldade vai aparecer à nossa porta”, frisou o governador. “Neste momento, este é um dos sítios mais seguros no mundo”.