Uma vez. Duas vezes. Três vezes… 18 vezes. Podia tratar-se de um caso inusitado ou não estivéssemos a falar do Estádio da Madeira, no Funchal. Como tem sido recorrente desde que o Nacional se tornou uma equipa de Primeira Liga, a partida desta sexta-feira entre os alvinegros e o FC Porto foi interrompida duas vezes devido ao nevoeiro e, mais de uma hora depois, viria a ser adiada pelo árbitro Tiago Martins. Só no século XXI, este foi o 18.º jogo adiado ou interrompido devido às condições climatéricas na Choupana.

Certo é que este Nacional-FC Porto começou a ser jogado no início desta semana e ainda em 2024. As primeiras notícias a circular na imprensa nacional não eram animadoras e apontavam para fracas condições às 18 horas desta sexta-feira. Tiago Margarido e Vítor Bruno, treinadores das duas equipas, e até André Villas-Boas foram questionados por essas previsões na quinta-feira e mostraram-se preparados para qualquer eventualidade, reforçando a decisão de começar e acabar o jogo neste terceiro dia do novo ano.

E assim foi, ainda que o início de mais uma fatídica histórica que teve como pano de fundo a Choupana tenha sido animador. Durante a manhã desta sexta-feira, o Diário de Notícias da Madeira documentou que o nevoeiro estava longe de pairar sobre aquela zona, localizada a mais de 600 metros de altitude, e as últimas previsões eram francamente positivas. Contudo, o cenário começou a complicar-se durante a tarde e, por volta das 15 horas, o nevoeiro já estava perto do estádio. A uma hora do apito inicial, o nevoeiro começou a aproximar-se do relvado e, já depois das 18 horas, instalou-se em definitivo.

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Por essa altura, já o desafio tinha começado com algum atraso provocado pela comitiva portista, que demorou mais alguns minutos a dirigir-se para o túnel de acesso ao relvado. No que ao futebol diz respeito, a formação da casa dispôs da primeira ocasião de perigo, com Diogo Costa a parar Luís Esteves quando este seguia isolado (2′). A partir daí, o protagonismo passou para o apito e a voz de Tiago Martins, que entraram em cena, num primeiro momento, para analisar um lance em que Rodrigo Mora pisou Djibril Soumaré. Após ver as imagens, o árbitro ficou-se pelo amarelo.

Em cima do oitavo minuto do desafio, Tiago Martins voltou a puxar do apito para interromper o jogo pela primeira vez devido à fraca visibilidade, mas retomou-o menos de três minutos depois. Contudo, o minuto 14’30 acabou por ditar o fim precoce deste Nacional-FC Porto. Os jogadores e as equipas técnicas dirigiram-se de imediato para os balneários e, à luz do regulamento da Liga Portugal, o árbitro recorreu aos dois períodos de meia-hora para tomar a decisão definitiva.

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Mais de uma hora depois, o juiz voltou a subir ao relvado e, acompanhado por Lucas França, deslocou-se a uma das balizas para verificar a visibilidade. Do outro lado, um dos assistentes fez o mesmo com Diogo Costa e terá sido nesse momento que foi conhecida a decisão final. O jogo foi mesmo adiado e a bola não voltou a rolar esta sexta-feira, apesar da insatisfação dos homens da casa e de uma maior permissibilidade da formação portista. Pouco depois da decisão final, a visibilidade era praticamente perfeita, em parte por conta da chuva que começou a cair na Choupana.

Restante 75 minutos vão ser jogados às 17h de 15 de janeiro

Apesar de um desacordo inicial, não foi preciso esperar muito mais tempo para se conhecer a nova data do Nacional-FC Porto. “A Liga Portugal informa que o encontro entre Nacional e FC Porto, da 17.ª jornada da Primeira Liga, que foi interrompido ao minuto 14’30, devido a nevoeiro intenso, vai ser reatado dia 15 de janeiro, pelas 17h00, face às previsões meteorológicas adversas para este sábado e acordo alcançado entre clubes”, anunciou a Liga Portugal em comunicado.

Na nota de imprensa, a entidade que tutela o futebol profissional deu ainda conta do regulamento em vigor para a nova data, frisando que “a ficha técnica pode ser alterada para incluir qualquer jogador que, encontrando-se regulamentarmente inscrito à data do jogo interrompido, dela não constasse inicialmente”, os jogadores suspensos à data do jogo [Nico González] “não podem ser utilizados” e os titulares “não podem ser incluídos na ficha técnica como suplentes”, regras que já tinham sido postas em prática no recente Nacional-Benfica.

Choupana, um caso (in)comum

Esta foi a 18.ª vez que uma partida disputada no Estádio da Madeira foi adiada ou suspensa no século XXI, a quarta nos últimos 12 meses, o que perfaz um recorde. Nesta lista salta à vista um caso insólito. Trata-se do Nacional-Naval, em 2010, que demorou três dias a ser concluído. O jogo estava marcado para o dia 5 de dezembro de 2010, um domingo, mas não chegou a começar e foi adiado para segunda-feira devido às condições climatéricas. No dia 6, o jogo foi novamente suspenso, desta feita aos 54 minutos, e acabou por ser concluído na terça-feira, dia 7.

Curiosamente, nesse mesmo dia, o árbitro Hugo Pacheco voltou a interromper a partida aos 84 minutos, devido ao nevoeiro. Contudo, a interrupção durou apenas três minutos e, apesar das fracas condições de visibilidade, o árbitro insistiu no reatamento. As suspensões não ficaram por aí e, pouco depois, Pacheco teve de suspender o jogo pela quarta vez, mas os cinco minutos finais acabaram por ser concluídos. Os madeirenses venceram por 2-1, depois de terem estado a perder e terminarem o segundo dia empatados a uma bola. Devido aos constantes adiamentos, a partida foi concluída com dois novos elementos na equipa de arbitragem, o auxiliar Sérgio Serrão e o quarto árbitro Marco Ferreira.

Mais recentemente, o Nacional-Benfica passou de 6 de outubro para 19 de dezembro, depois de ter sido interrompido duas vezes na primeira data, a última das quais aos nove minutos. Também o Sporting consta na lista de adiamentos, ainda que por razões diferentes do nevoeiro. Em 2021, os leões visitaram a Choupana numa altura em que passava pela região a depressão Filomena e, devido à chuva e ventos fortes, o jogo só começou no dia seguinte, que contou com chuva e granizo, ainda que estas não tenham afetado o desenrolar da partida.

As duas tentativas, o nevoeiro que logo desapareceu, o jogo que foi adiado 5 vezes: a crónica do Nacional-Benfica (que durou 8 minutos)