A Comissão de Ética e Conduta da Galp Energia estará a investigar uma denúncia anónima sobre o presidente executivo (CEO) Filipe Silva, por eventual conflito de interesse devido a um alegado relacionamento próximo e pessoal com uma diretora do grupo, avança o Eco. Esta comissão em 2023 recebeu 54 reportes, tendo arquivado 22 por falta de provas.
Ao jornal, o gestor assume, por escrito, que teve “conhecimento da denúncia, mas não conheço o teor da mesma e assim que tiver conhecimento dela apenas a discutirei com a Comissão de Ética“. Filipe Silva acrescentou ainda, ao mesmo órgão de comunicação social, que não participou à Comissão de Ética qualquer relacionamento com quadros da Galp ao mesmo tempo que assumiu que nenhuma relação pessoal “ameaçou a integridade das decisões da Galp“.
Contactada pelo Eco, Paula Amorim, presidente do conselho de administração da Galp, aponta a comissão de ética como o órgão da “estrutura interna e independente a quem cabe, designadamente, proceder à receção e tratamento de informações transmitidas ao abrigo do Procedimento de Comunicação de Irregularidades e, quando aplicável, à instrução de eventuais processos de averiguação”, recusando falar sobre o caso e reiterando “o compromisso da Galp no cumprimento do Código de Ética e Conduta”.
Apesar da denúncia anónima e da alegada investigação pela Comissão de Ética, o código de conduta da Galp é omisso em relação a situações de relacionamentos pessoais, assim como a necessidade de o comunicar ao órgão. É referido apenas que “a Galp dispõe de normas, procedimentos e mecanismos que visam a prevenção, deteção e tratamento de conflitos que possam surgir entre os interesses particulares das pessoas da Galp, em benefício próprio ou de terceiros, e o cumprimento das suas funções na Galp. As pessoas da Galp têm a obrigação de reconhecer quando estejam, possam vir a estar ou possam ser percecionados como estando perante uma situação que configure conflito de interesses“, devendo, nesses casos, “reportar através da plataforma existente para o efeito, por forma a que sejam tomadas as medidas que permitam eliminar ou gerir tais conflitos”.
A empresa tem um canal de denúncias interno. Recebida uma denúncia, “a Comissão de Ética e Conduta desencadeará os processos de averiguação, se necessário com recurso a consultores externos vinculados por acordos de confidencialidade, tendo em vista o apuramento dos factos e posterior enquadramento dos mesmos à luz deste Código”, indica-se no código de ética.
A Comissão de Ética e Conduta é, por nomeação do conselho fiscal, composta por três membros “com comprovados conhecimentos nas áreas de ética e compliance, auditoria e recursos humanos”. O presidente é proposto pelo presidente do conselho de administração (Paula Amorim). Compõem atualmente a Comissão: Tito Arantes Fontes (Presidente), Sandra Bomtempo Costa, responsável pela Auditoria Interna, e Nuno Moraes Bastos, secretário da sociedade e responsável por Compliance.
No relatório e contas da Galp referente a 2023 indica-se que nesse ano a Comissão de Ética e Conduta recebeu “54 reportes que foram investigados ao abrigo da Norma Interna sobre Comunicação de Irregularidades”. Desses, 21 estavam relacionados com assédio moral no local de trabalho, 5 com potencial conflito de interesses, 3 com proteção de consumidores e 3 com discriminação.
Dos 54 casos reportados, 22 foram encerrados devido a falta de provas dos factos descritos, 6 exigiram a adoção de medidas pela sociedade a fim de adaptar a conduta às normas estabelecidas no Código de Ética e Conduta, 11 ainda estão em curso e 15 são denúncias fora do âmbito que não têm medidas de mitigação definidas. Ainda não há dados referentes a 2024.
Contactada pelo Observador, a empresa não comenta o caso. O CEO indicou, por sua vez, ao Eco que prestará esclarecimentos à comissão de ética.
Filipe Silva, agora com 60 anos, assumiu a presidência executiva da Galp em janeiro de 2023, substituindo Andy Brown. Tem um mandato de quatro anos, que termina em 2026. Até então era administrador financeiro da petrolífera desde 2012. Antes de ingressar na Galp teve uma carreira ligada à banca, no Deutsche Bank e no Finantia.
Galp escolhe novo CEO. Filipe Silva vai substituir Andy Brown