Dois meses após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais, os membros do Congresso vão reunir-se esta segunda-feira, 6 de janeiro, para certificar os votos dos grandes eleitores de cada um dos estados norte-americanos. A sessão vai ser liderada, como dita a Constituição dos EUA, pela vice-presidente, Kamala Harris, que foi também a candidata derrotada nas últimas eleições.

A vice-presidente vai em voz alta ler os votos eleitorais e, de seguida, o Congresso conta os resultados de cada estado para confirmar a vitória de Trump. Esta é apenas a terceira vez na história dos Estados Unidos que o candidato derrotado lidera a contagem dos votos do Colégio Eleitoral, lembra a BBC. A primeira vez foi em 1961. O republicano Richard Nixon era vice-presidente norte-americano quando perdeu as eleições do ano anterior para o democrata John F. Kennedy, tendo depois conduzido a sessão que certificou a vitória do rival.

Mais recentemente, o papel de confirmar a vitória do rival coube a um democrata. Em 2001, o vice-presidente Al Gore certificou o que viriam a ser quatro anos de presidência de George W. Bush, depois de ter sido derrotado, à tangente, pelo candidato republicano poucas semanas antes.

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A sessão desta segunda-feira acontece precisamente quatro anos depois da invasão do edifício do Congresso por parte de apoiantes de Donald Trump, que não aceitavam a derrota do candidato republicano nas eleições de 2020. Por causa dos motins, que provocaram cinco mortes, o Congresso decidiu, em 2022, alterar a Lei de Contagem Eleitoral — uma lei de 1887 que estipula as regras para a contagem de votos eleitorais —, no sentido de tornar claro, em letra de lei, que o papel do vice-presidente na sessão conjunta do Congresso é apenas cerimonial, retirando à pessoa que detém o cargo qualquer hipótese de obstruir ou bloquear a certificação dos resultados — algo que Trump pediu ao então vice-presidente Mike Pence que fizesse, depois das eleições de 2020.

Outra alteração feita à lei em causa diz respeito ao número mínimo de membros do Congresso que podem levantar objeções aos resultados de cada estado. Se até aí, bastava que um membro de cada uma das câmaras (Câmara dos Representantes e Senado) levantasse uma objeção, agora é necessário reunir 20% dos membros de cada uma das câmaras, isto é, mais de 100 pessoas. Na certificação dos votos, em 2021, o congressista Paul Gosar, um republicano do Arizona, juntou-se ao senador Ted Cruz, um republicano do Texas, para se opor aos votos de Biden do Arizona (um estado que o candidato democrata vencera por uma curta margem).

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A sessão conjunta foi então suspensa e tanto a Câmara dos Representantes como o Senado debateram separadamente a objeção, que acabou rejeitada. O mesmo aconteceu, nesse ano, com uma outra objeção em relação aos resultados do sempre disputado estado da Pensilvânia, lembra a CBS, também ganho por Biden em 2020.

Desta vez, não é expectável que surjam incidentes do género na contagem dos votos do Colégio Eleitoral, uma vez que a vitória de Trump foi robusta. O republicano ganhou em todos os chamados swing states (conseguindo mais 86 grandes eleitores do que Harris), tendo sido o primeiro candidato do Partido Republicano a vencer no voto popular nos últimos 20 anos.