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O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, concedeu uma longa entrevista ao podcaster norte-americano Lex Friedman, próximo do magnata Elon Musk. Publicada este domingo, o chefe de Estado foi questionado sobre variados tema relacionados com o conflito e deixou também um aviso: se o Presidente eleito norte-americano Donald Trump retirar os Estados Unidos da América (EUA) da NATO, o líder russo, Vladimir Putin, “vai destruir a Europa”.

“Calculemos o tamanho das Forças Armadas na Europa. Porque é que Hitler conquistou quase toda a Europa? Por causa do seu exército”, começou por dizer Volodymyr Zelensky, referindo que as maiores Forças Armadas são as ucranianas. “O segundo lugar, França, tem Forças Armadas quatro vezes inferiores a nós”, enfatizou o Presidente ucraniano.

Para Volodymyr Zelensky, o Presidente russo sonha com uma “NATO fraca sem os Estados Unidos”. Isso, conjeturou, “levaria a uma guerra em grande escala”. Com objetivos expansionistas, o chefe de Estado da Ucrânia denunciou que Vladimir Putin deseja uma “recuperar todos os territórios” que pertenceram a União Soviética — como os países Bálticos, ou a Moldávia. Sem Washington na Aliança Atlântica, isso abriria caminho para futuras invasões.

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Questionado sobre um cessar-fogo na Ucrânia, o Presidente ucraniano disse que apenas haverá um acordo se existirem “garantias de segurança” concedidas à Ucrânia pelos Estados Unidos, o único país que, na visão de Volodymyr Zelensky, tem capacidade para as implementar. O objetivo é que, no futuro, a Rússia não leve a cabo mais nenhum ataque contra território ucraniano.

Para isso, Volodymyr Zelensky defendeu a adesão da Ucrânia à NATO, mesmo admitindo que nem todo o território ucraniano seria integrado na Aliança Atlântica. Sobre a entrada na União Europeia, o Presidente ucraniano também garantiu que o país está num bom caminho, tendo feito várias reformas essenciais para entrar no bloco comunitário, tais como na áreas da corrupção e da banca. “A guerra não nos parou. Atrasou-nos, mas passámos por muita coisa.”

Ainda em relação à União Europeia, Volodymyr Zelensky defendeu que deve estar presente em eventuais negociações de paz. “É muito importante para nós que a Europa, porque fazemos parte da Europa não só geográfica como geopoliticamente, tenha voz”, destacou o líder ucraniano, realçando, no entanto, que primeiro se “vai sentar com Donald Trump”. “Primeiro, falamos com Trump, acordamos com ele como acabar com o conflito e como parar Putin.”

A ideia de Volodymyr Zelensky é que Donald Trump “ofereça fortes garantias de segurança” também à Europa. Só depois disso, salientou, é que “pode haver uma conversa com os russos”. 

Em relação a Donald Trump, o Presidente ucraniano mostra-se confiante na forma como tentará terminar a guerra, deixando-lhe vários elogios na conversa com Lex Friedman. “Estou a contar com ele e penso que o nosso povo está a contar com ele. Ele tem poder suficiente para exercer pressão sobre Putin. Partilhamos a ideia de paz atráves da força, que é muito importante”, sublinhou Volodymyr Zelensky, acrescentando que “Putin tem medo de Trump”.

Neste sentido, Volodymyr Zelensky contou que visitará Donald Trump poucos dias depois de o Presidente eleito tomar posse a 20 de janeiro. “Será a primeira ou uma das primeiras” visitas de um líder estrangeiro, adiantou o líder ucraniano, realçando que isso demonstra que este “tema é importante” para o magnata.

Questionado sobre a sua opinião no que toca às eleições presidenciais norte-americanas de 2024, Volodymyr Zelensky disse que Donald Trump era “muito mais forte” do que a candidata democrata, Kamala Harris. “Ele foi forte. Nos comícios, mostra isso.”

Sobre as eleições presidenciais na Ucrânia, que não se realizaram em maio de 2024 por causa da lei marcial em vigor, Volodymyr Zelensky garantiu que terão lugar “imediatamente após o fim da lei marcial”. Questionado sobre se concorreria a um segundo mandato, o chefe de Estado não deu uma resposta concreta: “Não sei. É uma pergunta muito difícil. Depende de como esta guerra acaba. Tudo depende do que as pessoas querem.”

Zelensky diz que Lukashenko lhe pediu desculpa ao telefone: “Foram lançados mísseis da Bielorrússia, mas foi Putin. Eu não estou no comando”

O Presidente ucraniano revelou ainda que pouco depois do início da guerra o homólogo bielorrusso lhe ligou a pedir desculpas pelos ataques lançados a partir de território bielorrusso. “Não sou eu que estou no comando”, terá dito o Presidente bielorrusso.

“Alguns dias depois do início da guerra, falei ao telefone com Lukashenko e ele pediu-me desculpa, disse-me: ‘Não fui eu, foram de facto lançados mísseis a partir do meu território, mas foi Putin quem os lançou.’ Estas são as palavras dele, tenho testemunhas”, revelou Zelensky na longa entrevista.

Em resposta, Zelensky disse que chamou “assassino” a Lukashenko.

Putin “não ama o seu povo, ama o seu círculo mais próximo”

O Presidente ucraniano considerou ainda que Putin “não ama a Rússia nem o seu povo”: “Ele ama apenas o seu círculo próximo”. Zelensky vai ainda mais longe e dá como exemplo o envio de jovens de 18 anos para a frente de batalha, afirmando que até os enviou para a Síria e para África.

“Ele envia miúdos de 18 anos para a guerra… E não é porque os ‘fascistas’ foram para o seu país e ele precisa defendê-lo. Ele é que veio ao nosso país e envia [os miúdos]”, disse, fazendo um paralelo com a sua filha de 20 anos: “Para mim ela ainda é uma criança”.

Para o Chefe de Estado ucraniano, Vladimir Putin é como “Voldemort”, da sequela Harry Potter. “Ele é escuridão personificada.” Volodymyr Zelensky afirmou que o Presidente russo pensa que a Ucrânia “lhe pertence” e é o seu país”, querendo “estrangulá-lo com um abraço”. “‘Amo-te tanto que te quero matar’. Este é o seu amor”, criticou.

Zelensky sugere ativos congelados para comprar armas

O Presidente da Ucrânia garantiu, na mesma entrevista, que não “precisa de presentes” dos Estados Unidos, no que diz respeito ao envio de armas ou ajuda financeira. Assim, Volodymyr Zelensky sugere que os “ativos congelados” russos devem servir para comprar armas. “Dinheiro russo, não ucraniano, não europeu. Ativos russos. Eles têm de pagar por isso.”