Fenómeno literário que misturava histórias interativas com elementos de jogos de tabuleiro, fez sucesso em Portugal nos anos 80 e 90 sob o nome Aventuras Fantásticas. A Porto Editora recupera agora estes livros do esquecimento, reeditando dois deles sob a denominação original britânica desta série: Fighting Fantasy.

O Feiticeiro da Montanha de Fogo e A Masmorra Infernal têm lançamento previsto para março, não havendo ainda nem data definida nem garantia de que regressam às livrarias portuguesas com as icónicas capas de fantasia que os popularizaram.

Estes tratam-se de livros-jogo criados na senda do género literário interativo Choose Your Own Adventure — a tradução literal para português é algo como Escolha a Sua Aventura —, onde o leitor pode escolher que rumo toma a história, optando por seguir por determinados capítulos (o equivalente literário ao filme Bandersnatch da série Black Mirror).

Onde Fighting Fantasy inovou foi ao trazer para essa fórmula sistemas de jogo RPG (“role-playing game” ou, traduzindo, “jogos de interpretação de papéis”), onde o leitor tem uma personagem com uma série de características — força, perícia e sorte — que são postas à prova ao encontrar monstros e outros desafios. Neste modelo de jogo, o leitor não só tem de tomar as decisões certas para chegar ao fim com sucesso, como tem de manter um inventário de objetos que podem ser fundamentais.

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Esta série de livros foi concebida por Steve Jackson e Ian Livingstone, ambos escritores e designers de jogos britânicos, responsáveis por fundar a influente empresa Games Workshop — que tornar-se-ia mundialmente famosa pelo franchise Warhammer e que levou os jogos Dungeons & Dragons para o Reino Unido. Aliás, foi ao observar 5000 pessoas a jogar este RPG em simultâneo em 1980 que um representante da Puffin — chancela juvenil do grupo editorial Penguin — desafiou-os a escrever um livro sobre o fenómeno.

Ao invés, Jackson e Livingstone optaram por conceber O Feiticeiro da Montanha de Fogo, lançado em 1982 e escrito a quatro mãos, nos tempos livres da gestão da Games Workshop. O enredo é muito simples: o leitor assume a ação de um aventureiro que quer descobrir o tesouro de um poderoso feiticeiro que está escondido na Montanha de Fogo, guardado num baú com duas fechaduras. Para lá chegar, contudo, tem de lidar com um percurso repleto de monstros e perigos e encontrar as chaves.

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A primeira tiragem, de apenas 5000 cópias, rapidamente esgotou, sendo que O Feiticeiro da Montanha de Fogo viria a vender milhões de exemplares por todo o mundo e dar origem a uma série de 59 livros — entre histórias de fantasia, ficção científica e terror — que terminou em A Maldição da Múmia. Depois do declínio no final dos anos 90 e início dos anos 2000, os direitos desta série foram adquiridos pela Wizard Books, que comissionou seis originais entre 2002 e 2012, antes do grupo norte-americano Scholastic — atual detentor — recuperar os Fighting Fantasy com um conjunto de reimpressões e sete novos títulos, alguns deles escritos por Livingstone e Jackson.

Em Portugal, a série ficaria conhecida pelo título Aventuras Fantásticas e a publicação ficou a cargo da Editorial Verbo, que trouxe para o mercado português 39 dos 59 títulos distribuídos no Reino Unido, com o lançamento de O Feiticeiro da Montanha de Fogo a ocorrer em 1985. Como a Porto Editora faz agora questão de mencionar, resgata a série — cujos direitos se perderam após o definhar da Verbo no seio do Grupo Babel — 40 anos depois de chegar ao nosso país.

Além do título já mencionado, a Porto faz também chegar A Masmorra Infernal, sexto volume da sequência original, publicado em 1984 no Reino Unido e editado em Portugal em 1987. Nesta aventura, é preciso sobreviver a um labirinto conhecido por Garra, projetado pelo Barão Sukumvit, estando repleto de “armadilhas diabólicas” e de “horríveis criaturas das trevas”.