Alienar cerca de 80 milhões de euros em património, acabar com dois milhões de euros de despesa em rendas e aumentar a receita dos jogos sociais: estas são algumas das metas do plano de reestruturação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que o provedor Paulo Duarte Sousa identificou como essenciais para reequilibrar as contas da instituição.
Em entrevista esta quinta-feira ao Público e à Renascença, o provedor destacou que a Santa Casa tem uma carteira de ativos de perto de mil milhões de euros e que é necessário conseguir uma maior rentabilidade. “Temos de conseguir recompor as nossas contas e ganhar espaço para ter uma situação mais estável no futuro, conseguindo ao mesmo tempo que a Santa Casa cumpra a sua missão de apoio aos mais frágeis”, declarou.
Sublinhando o foco do mandato no reforço da tesouraria, Paulo Duarte Sousa defendeu que a SCML estará confortável quando a tesouraria líquida atingir 100 milhões de euros: “Temos ainda um caminho pela frente”.
O provedor da SCML fixou 80 milhões de euros como o objetivo em alienações, embora tenha esclarecido que algumas não serão efetivas, uma vez que a ideia passa por depois reinvestir nos próprios ativos imobiliários que a instituição detém em Lisboa. De acordo com Paulo Duarte Sousa, muitos destes imóveis não estão a ser devidamente aproveitados e alguns estão mesmo em situação de degradação e a exigir obras de recuperação, enquanto se gastam cerca de dois milhões de euros em rendas.
“Está previsto que uma grande parte desse montante (80 milhões de euros), logo que consigamos atingir os 100 milhões de tesouraria corrente, seja reinvestido na própria carteira”, referiu, recusando o cenário de um pedido de empréstimo à banca para renovação do imobiliário da Santa Casa.
Já sobre as receitas dos jogos sociais, que em maio de 2024 — quando tomou posse como provedor — apresentavam uma variação negativa de 5,8% face ao ano anterior, Paulo Duarte Sousa manifestou a expectativa de uma evolução positiva.
“Ainda não temos as contas encerradas, e é precipitado fazer qualquer tipo de julgamento mais profundo, mas acho que somos capazes de chegar ao dia de hoje e dizer que os beneficiários dos jogos sociais de Estado vão ter, em 2024, uma receita superior à que tiveram em 2023”, observou, sem deixar de sinalizar que a atividade rende cerca de 3.300 milhões de euros por ano.
O provedor da Santa Casa assumiu ainda que irá continuar com o programa de reformas antecipadas e assumiu ter identificado “bastantes” casos de familiares a trabalharem na instituição, alguns dos quais em situações de conflito de interesses que estão agora a ser declaradas.
“A Santa Casa é uma estrutura com uma cultura muito própria. E foi essa cultura que no passado terá permitido que se desenvolvesse uma prática que era normal, que os familiares de colaboradores também lá trabalhassem. O que é muito relevante e não pode acontecer é que alguém que tem um familiar a exercer funções e está em claro conflito de interesses possa continuar nessas funções. Não podemos ter alguém que tem uma relação com outra pessoa e que é superior hierárquico dessa pessoa”, sentenciou.