Cerca de uma centena de militantes do PS pede um referendo interno para escolher o candidato que o partido vai apoiar nas eleições presidenciais de 2026, considerando que essa decisão deve ser feita de maneira alargada e não apenas por dirigentes.

Este manifesto, subscrito por cerca de 100 militantes socialistas, surge numa altura em que, segundo o jornal Expresso, o ex-presidente da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues defende que o PS deve realizar primárias abertas para escolher quem vai apoiar nas eleições presidenciais de 2026, considerando que “só poderá ter hipótese de passar à segunda volta uma candidatura que abranja todo o partido”.

Em declarações à agência Lusa, o ex-candidato a secretário-geral do PS Daniel Adrião, um dos subscritores iniciais do manifesto, disse que estes 100 militantes pretendem que “haja, dentro do partido, um referendo interno para que se possa decidir quem é o candidato presidencial que o PS vai apoiar nas eleições de 2026”.

“A realização do referendo fortalecerá a democracia interna do partido, porque permitirá que essa tomada de decisão seja o mais alargada possível e não apenas centrada num pequeno grupo de dirigentes e que conte com a participação ativa dos militantes e dos simpatizantes do partido”, frisou.

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Daniel Adrião reconheceu que o facto de haver várias personalidades da área do PS a posicionarem-se para a corrida a Belém — como o ex-secretário-geral socialista António José Seguro ou o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno — incentivou estes subscritores a pedirem um referendo interno, frisando que o facto de não haver um candidato “absolutamente consensual” aconselha a que haja uma auscultação das bases.

Adrião, que se candidatou quatro vezes à liderança do PS, afirmou que “sempre que o partido se abriu, saiu reforçado, ganhou força e conseguiu mobilizar os portugueses”, recordando o referendo interno, em 1983, sobre a política de alianças — que levou à formação do chamado ‘bloco central’ — ou, mais recentemente, em 2014, as primárias para escolher o candidato a primeiro-ministro, ganhas por António Costa contra António José Seguro.

Interrogado sobre a possibilidade de o PS poder ficar 25 anos sem conseguir eleger uma das suas personalidades para a Presidência da República – o último chefe de Estado socialista foi Jorge Sampaio, entre 1996 e 2006 – preocupa estes subscritores, Daniel Adrião respondeu: “Com certeza”.

“É fundamental que a escolha do PS seja consentânea com aquilo que é a vontade maioritária dos portugueses. Nós sabemos que a influência do eleitorado do PS é grande na sociedade portuguesa e a decisão relativamente ao candidato a apoiar deve estar alinhada com aquilo que é a vontade maioritária dos eleitores do PS”, disse.

Portanto, reforçou, “é fundamental que o PS abra esta decisão aos eleitores, porque são os eleitores que, no fim do dia, decidem as eleições, não são exclusivamente militantes do PS e, muito menos, alguns dirigentes do PS”.

“É a base eleitoral do PS que, de facto é determinante e é essa que tem de ser ouvida para que o PS não corra riscos desnecessários, mais uma vez, numa eleição presidencial”, sustentou.

Daniel Adrião frisou que este manifesto tem o mesmo objetivo que as primárias pedidas por Eduardo Ferro Rodrigues, mas frisou que os subscritores optaram por “não falar de primárias por respeito à função presidencial”.

“As eleições presidenciais são eleições unipessoais, não são eleições partidárias. Portanto, aqui não se trata da escolha do candidato do PS às presidenciais, trata-se da definição do apoio a um candidato presidencial”, disse, admitindo que, nessa escolha interna, possam candidatar-se pessoas ideologicamente próximas do “socialismo democrático e da social-democracia, mas que não são membros do PS”.

“Essas pessoas também devem estar na equação. Por isso, preferimos chamar-lhe referendo interno, consulta, e não primárias”, explicou.