O novo dono da TAP David Neeleman defendeu que as companhias ‘low cost’ são o maior desafio, revelando que o plano é ter tarifas baixas para “quem quiser viajar atrás e mais apertado”. 

“Talvez o maior desafio sejam as companhias aéreas ‘low cost’. Passei pelo Porto no outro dia e fiquei assustado com oito aeronaves da Ryanair e mais quatro da easyJet. Não podemos desistir. Temos que nos tornar mais competitivos”, afirmou o empresário num encontro com trabalhadores da TAP, a decorrer nas instalações da empresa em Lisboa. 

Segundo o empresário, o plano é segmentar: “Vamos ter uma tarifa de 39 euros, mas o passageiro vai sentar-se atrás e pagar pela bagagem”, isto é, “vai ser Ryanair com uma frequência de cinco vezes por dia, em vez de uma”.

O consórcio Gateway que assumiu o controlo da TAP decidiu também já avançar com a encomenda de 53 novos aviões para reforço e renovação da frota da companhia aérea. A informação é avançada numa mensagem enviada pela transportadora aos membros do programa passageiro frequente Victoria.

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A compra de 53 aviões era um dos principais compromissos previstos na proposta de aquisição da TAP da Gateway que foi escolhida como vencedora da privatização, em junho deste ano. Nesta mensagem aos seus clientes mais fieis, a TAP diz que “foi já decidida a encomenda de 53 aviões novos, de última geração, mais confortáveis e eficientes, novos interiores de cabina, com produtos adequados a cada segmento de clientes”.

O reforço da frota da TAP e da rede de destinos, com destaque para o Brasil e América do Norte, será a fase seguinte, mas a prioridade no imediato é “adaptação e o reforço dos métodos de trabalho para a consolidação da TAP”. A estratégia de David Neeleman, que é o dono da companhia brasileira Azul, acentua a aposta nas rotas brasileiras, não obstante, este mercado da TAP estar a registar quedas muito significativas de receita, causadas pela redução da procura por razões económicas, mas também pela desvalorização do real face ao euro. 

A venda de 61% do capital da TAP, fechada ontem à noite, ao agrupamento constituído por Humberto Pedrosa e David Neeleman é descrita como o início de “um novo ciclo”, numa mensagem que sublinha “as experiências e qualidades de gestão reconhecidas nacional e internacionalmente no setor dos transportes e no transporte aéreo, em particular”, dos dois novos acionistas. 

Apesar das mudanças, a TAP promete preservar as qualidades e o caráter português, bem como o reforço do hub (centro operacional) em Lisboa e do seu papel na ligação da Europa a África e às Américas.

Os dois novos donos da empresa, Humberto Pedrosa e David Neeleman, estão a passar o primeiro dia da TAP privada com os trabalhadores da empresa. 

O dinheiro já chegou, diz Neeleman

David Neeleman afirmou no final que os cerca de 150 milhões de euros que o consórcio tinha que pagar no fecho da compra “está a chegar ao banco hoje”, revelando que receava pela falência da companhia. 

“O dinheiro está a chegar ao banco hoje. Vamos ter dinheiro para começar a fazer as coisas que temos para fazer”, revelou um dos novos donos da TAP no encontro com os trabalhadores do grupo, referindo-se aos cerca de 150 milhões de euros previstos no plano de capitalização. 

David Neeleman contou que há três dias tinha a preocupação que acontecesse à TAP o mesmo que aconteceu à transportadora aérea da Estónia, que declarou falência depois de a Comissão Europeia ter exigido o reembolso de 91 milhões de euros que a empresa recebeu do Estado. 

“Se o Governo colocasse um centavo nesta empresa [TAP] ia começar a investigação [da Comissão Europeia]”, afirmou o dono da Azul, aludindo às dificuldades de tesouraria invocadas pelo Governo para fazer a transferência das ações para o consórcio Gateway.

Na quinta-feira, o ministro da Presidência, Marques Guedes, disse que o “iminente colapso” financeiro da TAP levou o Governo a atuar de imediato no fecho da privatização da empresa, revelando que estava em causa a continuidade da operação e o pagamento dos salários aos trabalhadores. 

O empresário considerou que o dinheiro injetado é “bastante”, mas, contrapôs, “na aviação é pouco”, apresentando a sua estratégia para uma TAP forte, que passa por ter tarifas que possam concorrer com as companhias ‘low cost’. 

Na sua intervenção, Neeleman lembrou que além da injeção de cerca de 369 milhões de euros — que segundo o Governo terá que acontecer até 23 de junho de 2016 — o consórcio fará “outros financiamentos”, nomeadamente na renovação da frota com a encomenda de 53 aeronaves. 

No total, trata-se de um investimento superior a “1.000 milhões de euros”, sublinhou o empresário.