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O testemunho de uma sobrevivente do Bataclan. "Fingi estar morta durante mais de uma hora"

Este artigo tem mais de 5 anos

Isobel sobreviveu à chacina do Bataclan. Fingiu-se de morta entre dezenas de mortos. E contou, no Facebook, o que lá viveu. Não é uma mensagem de ódio. É uma mensagem de amor. E agradecimento.

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FRANCK FIFE/AFP/Getty Images

FRANCK FIFE/AFP/Getty Images

Isobel Bowdery é sul-africana. 22 anos. Foi ao concerto dos Eagles of Death Metal no Bataclan com o namorado, Amaury. Sobreviveu. Sobreviveram os dois. Isobel relatou no Facebook, na primeiríssima pessoa, emotiva, o que lá viu e viveu. A publicação, ilustrada por uma peça de roupa ensanguentada, teve, desde sábado, mais de 650 mil partilhas de utilizadores daquela rede social. As mensagens de solidariedade para com o testemunho de Isobel Bowdery sucedem-se. Às centenas. 

Isobel conta que, quando os atiradores chegaram ao Bataclan, a disparar, de Kalashnikov empunhadas, chegou a crer, “ingenuamente”, tratar-se de “parte do espetáculo”. Não era. “Foi um massacre. Dezenas e dezenas de pessoas foram mortas à minha frente. As poças de sangue encharcaram o chão.”

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Publicado por Isobel Bowdery em Sábado, 14 de Novembro de 2015

A sobrevivente do ataque terrorista à sala do Bataclan recorda que tudo aconteceu “num instante”. Mas para ela, Isobel, o que se seguiu ao instante de chacina, durou incontáveis instantes. “Chocada e sozinha, fingi estar morta durante mais de uma hora. (…) A suster a minha respiração, a tentar não me mexer, não chorar – não mostrando àqueles homens o medo que queriam ver em mim. Tive uma sorte incrível em sobreviver. Mas muitos não sobreviveram.”

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89. São 89 os espectadores, como ela o era, que não sobreviveram. Isobel Bowdery escreve, com crueza, o perfil dos carrascos. “Atos como este demonstram a depravação dos humanos. As imagens daqueles homens a circularem à nossa volta como abutres vai assombrar-me para o resto da vida. O modo como apontaram meticulosamente as armas para abater as pessoas na plateia, (…) sem nenhuma consideração pela vida humana. Nada parecia real. Só esperava que a qualquer momento alguém me dissesse que era um pesadelo.”

Mas, mais do que o terror, Isobel alonga-se a descrever quem lhe fez bem naquela noite de mal-querer; a agradecer aos seus “heróis” — como lhes chama. E os agradecimentos vão todos “para o homem que (…) colocou a sua vida em perigo para tapar a minha cabeça enquanto eu chorava; para o casal que trocou palavras de amor e me fez acreditar que há bondade no mundo; para o polícia que conseguiu resgatar centenas de pessoas; para os desconhecidos que me ergueram da estrada e me consolaram durante 45 minutos, numa altura em que me convenci de que o rapaz que amo tinha morrido; (…) para a mulher que abriu a porta da sua casa aos sobreviventes; para o amigo que (…) foi comprar-me roupas novas, para que não tivesse de usar este top manchado de sangue.” E termina: “Vocês fazem-me acreditar que este mundo pode ser melhor. Para que isto não volte a acontecer.”

Diz sentir-se “uma privilegiada”, não só por ter sobrevivido, mas por ter estado no Bataclan, nos “últimos suspiros” de quem não sobreviveu. Acreditou, Isobel Bowdery, “genuinamente que me iria juntar a eles, (…) deitada no chão, sobre o sangue de estranhos, enquanto aguardava que uma bala acabasse com a minha vida de somente 22 anos. Vi o rosto de cada pessoa que alguma vez amei e sussurrei: ‘amo-te’. Uma e outra vez.”

A mensagem de Isobel não é de ódio. Nem revolta. Não pede sangue que cubra o sangue das vítimas. É de incredibilidade, de choque, sim. Mas é sobretudo de amor. E de esperança. Termina assim: “Ontem [sexta-feira] à noite, a vida de muitos de nós mudou para sempre e cabe-nos agora ser melhores pessoas. Viver as vidas com que as vítimas inocentes desta tragédia sonharam, mas que infelizmente nunca vão poder viver. Descansem em paz, anjos. Nunca serão esquecidos.”

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