A pouco e pouco, as orquestras e companhias de dança começam a regressar à normalidade. Passados os habituais concertos de Natal e de Ano Novo, repletos de valsas vienenses e polcas de bater o pé, começam a surgir as primeiras datas de 2016. A agenda de música clássica está bem recheada, e há muito por onde escolher. O Observador reuniu algumas sugestões, em Lisboa e no Porto. E prometemos que nenhuma delas inclui Strauss.
Porto
Depois do sucesso do Concerto de Natal, que esgotou com mais de mês e meio de antecedência, a Casa da Música do Porto regressa aos espetáculos com um evento especial de Dia dos Reis. Pela primeira vez desde a sua criação, em 2016, a Orquestra Barroca vai sair da Casa da Música e tocar no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, no Porto, no dia 6 de janeiro. Rui Pereira, editor de programação da instituição, explicou ao Observador que o concerto “é uma novidade” e que partiu de um convite da Associação Comercial do Porto. O reportório irá incluir “temas alusivos à epifania”. O espetáculo tem início marcado para as 21h30.
Apenas dois dias depois, a 8 de janeiro, a Orquestra Sinfónica do Porto, dirigida pelo britânico David Parry, irá apresentar “Uma noite na ópera italiana“, uma gala dedicada a alguns dos mais conhecidos compositores italianos. O reportório irá incluir árias de Gioachino Rossini, Vicenzo Bellini e Gaetano Donizetti. O concerto, marcado para as 21h, irá ainda contar com as atuações da meio-soprano Ezgi Kutlu e do tenor Barry Banks, presenças habituais nos grandes teatros líricos europeus e norte-americanos.
No âmbito do ciclo “Mãe Rússia”, a 15 de janeiro, a Casa da Música apresentará o espetáculo “Sagração Russa“, com a Orquestra Sinfónica do Porto e a violinista Viviane Hagner. O programa irá incluir o Concerto n.º 4 para violino e orquestra de Alfred Schnittke e a Sagração da Primavera, uma das mais famosas peças de Igor Stravinski.
Dois dias depois, a 17 de janeiro, será a vez de Vésperas, do compositor russo Sergei Rachmaninoff. Inspiradas por cânticos tradicionais, as Vésperas constituem uma das mais celebradas peças de liturgia do ocidente e são unanimemente consideradas uma das mais importantes obras-primas da música russa. A peça será interpretada pelo Coro da Casa da Música, fundado em 2009, que será dirigido pelo maestro Paul Hillier. O concerto está marcado para as 18h.
No Ciclo Piano Fundação EDP da Casa da Música, o grande destaque vai para Grigory Sokolov, um dos grandes pianistas russos da atualidade. Sokolov começou a sua carreira musical com apenas 12 anos, altura em que realizou o seu primeiro recital a solo em Moscovo. Quatro anos mais tarde, tornou-se no mais jovem vencedor do Concurso Tchaikovski, uma competição de música clássica que se realiza todos os anos na capital russa.
Desde a abertura da Casa da Música, em 2005, que Sokolov regressa a Portugal anualmente para participar no Ciclo de Piano. E sempre com um programa novo e com interpretações arrebatadoras. Para o concerto de 8 de março, o pianista escolheu três obras de Fryderyk Chopin: dois noturnos e uma sonata. O espetáculo irá decorrer pelas 21h, na Sala Suggia da Casa da Música. E promete ser inesquecível.
Outro dos destaques do Ciclo Piano de 2016 é Alexander Romanovsky, o mais jovem vencedor de sempre do Concurso Internacional Busoni. Para a estreia na Casa da Música, o pianista decidiu combinar as vertentes mais líricas e épicas de dois dos grandes nomes do Romantismo: Ludwig van Beethoven e Robert Schumann. O concerto está marcado para o dia 12 de abril, às 21h, na Sala Suggia.
Lisboa
No Teatro Nacional de São Carlos, no Chiado, o novo ano irá começar com a ópera Dialogues des Carmélites, de Francis Poulec. Baseada no drama homónimo de Georges Bernanos, a peça conta a história de 16 carmelitas, executadas na Place de la Revolution a 17 de julho de 1794 por crimes contra o povo francês. A ópera, unanimemente reconhecida como uma das obras-primas da música clássica moderna, subirá ao palco do teatro lisboeta nos dias 3 e 5 de fevereiro, às 20h, e a 7 de fevereiro às 16h.
No mês seguinte, será a vez de Iphigénie en Tauride, uma tragédia em quatro atos do alemão Christoph Willibald Gluck. A ópera, com libreto de Nicolas-François Guillard, centra-se na figura mitológica de Efigénia, filha mais velha de Agamémnon e irmã de Orestes, personagem principal da tragédia grega Oresteia, de Ésquilo. A peça será apresentada nos dias 5, 7, 9 e 11 de março, às 20h, e a 13 de março às 16h.
Em maio e em junho, já perto do final da temporada, o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa irão interpretar duas peças do compositor italiano Giuseppe Verdi. Nos dias 5 e 7 de maio, às 20h, será apresentada Messa da Requiem e, entre os dias 9 e 11 de junho, o drama lírico Nabucco, sobre o rei Nabucodonosor da Babilónia.
A 7 de janeiro, o Centro Cultural de Belém irá receber o recital de piano “SATIE.150”, de Joana Gama, que pretende assinalar os 150 anos do compositor e pianista francês Erik Satie. Para além de obras de Satie, o alinhamento do espetáculo irá incluir peças de outros autores, como John Cage, John Adams ou Alexander Scriabin, que com ele partilham o mesmo gosto pela desformalização da música.
O concerto, marcado para as 21h, será o primeiro de uma série de 12 recitais que serão realizados pela pianista em vários pontos do país. A seguir a Lisboa, Joana Gama irá seguir para o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Pode consultar o calendário completo de “SATIE.150” aqui.
Exatamente um mês depois, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida pelo maestro Garry Walker, e o grupo vocal Voces Caelestes irão apresentar, em estreia absoluta, o Concerto para violino de António Pinho Vargas, uma encomenda do Centro Cultural de Belém. O concerto, marcado para as 17h, irá ainda incluir a Sinfonia n.º 9 de Beethoven, um clássico que vale sempre a pena voltar a ouvir.
No mês seguinte, a 13 de março, a Orquestra de Câmara Portuguesa irá interpretar as últimas três sinfonias de Mozart: a Sinfonia n.º 39 em Mi bemol Maior, a Sinfonia n.º 40 em Sol menor e a Sinfonia n.º 41 em Dó Maior. O concerto acontecerá pelas 17h de domingo, no Grande Auditório do CCB.
Nos dias 6 e 8 de abril, será a vez de A Flowering Tree, do compositor norte-americano John Adams. A ópera em dois atos é inspirada num conto do sul da Índia sobre um jovem casal de apaixonados. Os concertos da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, com coprodução da Göteborg Opera, do Teatro Comunale di Bolzano e do Chicago Opera Theatre, estão marcados para as 20h. Os músicos serão dirigidos pela maestrina Joana Carneiro.
A pensar nos fãs de J.R.R. Tolkien, a Fundação Calouste Gulbenkian irá começar o novo ano com a projeção do filme O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel, com música ao vivo a cargo do Coro e Orquestra Gulbenkian. O filme de Peter Jackson será projetado em duas sessões às 20h, a 8 e 9 de janeiro.
No final do mês, o Grande Auditório da Gulbenkian irá receber o pianista polaco-húngaro Piotr Anderszewski, já familiarizado com as paisagens portuguesas. No dia 31 de janeiro, Anderszewski irá interpretar peças de Johann Sebastian Bach, Robert Schumann e Béla Bartók. O concerto está marcado para as 19h. Poucos dias depois, será a vez de a Orquestra Gulbenkian apresentar obras dos russos Sergei Rachmaninoff e Igor Stravinsky, dois dos mais importantes compositores do século XX, e da finlandesa Kaija Saariaho.
No dia 14 de fevereiro, irá decorrer no âmbito do ciclo dos “concertos de domingo” uma das novidades desta temporada — os concertos de São Valentim. Os espetáculos, marcados para as 11h e para as 16h, irão incluir algumas das peças mais conhecidas de Mozart, Tchaikovsky, Giuseppe Verdi ou Pietro Mascagni.
Em março, a propósito do ciclo “grandes intérpretes”, subirá ao palco do Teatro Maria Matos a ópera L’Autre Hiver, de Dominique Pauwels, inspirada na relação turbulenta dos poetas “malditos” Arthur Rimbaud e Paul Verlaine e com personagens que surgem apenas em vídeo. A música estará a cargo do Coro Gulbenkian. A peça será apresentada em duas sessões, a 11 e 12 de março, ambas marcadas para as 21h30.
Também em março, por altura da Páscoa, a Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Michel Corboz, irá interpretar, nos dias 22 e 23 de março, a obra Paixão segundo São João, do mestre barroco Johann Sebastian Bach. Os concertos estão marcados para as 19h.
Para os apaixonados do piano, nos dias 7 e 8 de abril, às 21h e às 19h, respetivamente, o pianista Artur Pizarro irá tocar peças de Franz Liszt, Frédéric Chopin, Modest Mussorgsky e Maurice Ravel. O músico será acompanhado pela Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Michael Nesterowicz.
Em maio, o Teatro Camões, a casa da Companhia Nacional de Bailado, irá receber, em estreia mundial, o bailado Romeu e Julieta, inspirado na famosa peça de William Shakespeare. Com coreografia de Rui Horta, música de Bruno Pernadas e figurinos de Ricardo Preto, o bailado estará patente no teatro do Parque das Nações nos dias 29 e 30 de abril, às 21h, 13 e 14 de maio, também às 21h, e 8 e 15 de maio, às 16h.