O diferendo entre a Câmara Municipal de Gaia e a Quercus sobre a nova localização do festival Marés Vivas vai ser solucionado pelo Ministério do Ambiente. Ao Observador, Eduardo Vítor Rodrigues, presidente do município, disse que pediu ao gabinete de João Pedro Matos Fernandes “a análise ao assunto”. Mas só depois de ter escolhido a nova localização. O ministério confirmou e anunciou que decidiu criar uma Comissão de Acompanhamento para o evento.

A Comissão vai ser formada por três representantes do Ministério do Ambiente e vai trabalhar “em articulação com a Câmara Municipal de Gaia, podendo ouvir e pedir aconselhamento a outros profissionais e membros de organizações ambientais”, pode ler-se no comunicado enviado às redações. O objetivo é definir medidas de minimização prévias à realização do festival Marés Vivas, “nomeadamente o local e orientação do palco, a delimitação de zonas de circulação interdita, as barreiras acústicas suplementares e todas as que se julgarem relevantes que reduzam potenciais impactos ambientais”.

A Comissão “irá acompanhar e fiscalizar as atividades ligadas ao referido festival, recolhendo informação sobre o ruído produzido e a perturbação efetiva provocada sobre a fauna local”, o que deixa a Quercus satisfeita. A associação ambiental tinha ameaçado, esta segunda-feira, ir para a justiça caso o Governo não fiscalizasse o impacto que o barulho e transferência do evento, que todos os anos recebe milhares de pessoas no Cabedelo, pode vir a ter nas centenas de espécies de aves que estão na Reserva Natural. “A Quercus quer evitar o tribunal a todo o custo. Agora vamos esperar“, disse ao Observador João Branco, presidente da Direção Nacional da Quercus.

Durante vários anos, o festival Marés Vivas realizou-se num terreno privado da Praia do Cabedelo, junto à Afurada, afastado cerca de 900 metros da Reserva Natural do Estuário do Douro. A mudança deve-se, segundo o presidente da Câmara, ao facto os terrenos estarem agora ocupados pela construção “de três loteamentos de prédios de nove pisos, em cima do rio, e aprovados em 2008”. Eduardo Vítor Rodrigues questiona também os impactos ambientais que a construção poderá ter. Mas recusa que a mudança, que diz ser temporária, do festival para 90 metros ao lado da Reserva, traga consequências de maior.

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Não são umas centenas de metros que vão fazer a diferença”, disse. No entanto, a decisão de mudar para ali o festival foi tomada sem que o município tivesse procurado conhecer previamente as consequências para a fauna e a flora que rodeiam o espaço. Só agora, confirmou o presidente da autarquia ao Observador, foi pedido um parecer.

mapa quercus festival mares vivas

No mapa fornecido pela Quercus, é possível ver a proximidade entre o novo recinto e a Reserva Natural.

O festival Marés Vivas está marcado para os dias 14, 15 e 16 de julho e é lá que irá atuar Elton John, o único cabeça de cartaz até ao momento. Isto se a Comissão de Acompanhamento verificar que a realização do evento naquele local é viável. O presidente da Câmara disse não estar a considerar uma alternativa, porque “não há nenhum entrave legal”.

“Enquanto que, na anterior localização, o palco e a emissão de som estavam diretamente viradas ao estuário, nesta nova localização o palco ficará de costas para o Estuário, direcionando o som no sentido oposto”, explicou Eduardo Vítor Rodrigues. João Branco reconhece que, se assim for, o impacto do som pode diminuir “um bocado”. Mas que, mesmo assim, “o impacto é brutal”.

“O movimento de pessoas e viaturas vai, fatalmente, perturbar as espécies existentes na Reserva Natural, em plena época de nidificação das aves”, pode ler-se no comunicado enviado na segunda-feira pela Quercus.

“O ruído, especialmente à noite, aterroriza as aves que voam descontroladamente e vão posteriormente ferir-se ou morrer. Prova disso foi o lançamento do “maior foguete do mundo” do Porto para o Estuário do Douro. Este evento, que foi denunciado pela QUERCUS, em 2010, resultou em inúmeras mortes de aves do estuário.”