A relação de amor entre as camisolas e os cachecóis deu há muito tempo uma filha: a gola alta. Os marinheiros usaram-na, as estrelas de cinema usaram-na, Steve Jobs transformou-a no seu uniforme. Mas se for para falar da adolescente problemática da família moda, é mesmo a gola subida. Como escreve a Vogue norte-americana, a camisola que imita o pescoço de uma tartaruga — tradução literal da palavra inglesa turtleneck — tem sido desde sempre complicada: “Um passo de styling em falso e pode-se ir facilmente de Françoise Hardy a um rígido Vladimir Putin.”
Por um lado, há quem diga que as camisolas de gola alta não são nem nunca vão ser sexy. Por outro, e citando o New York Times, há quem afirme a pés juntos que não há maior sofisticação do que rejeitar o decote e dizer com uma tira de tecido: “os meus olhos estão aqui em cima”. Num artigo intitulado “Can the Turtleneck Ever Be Cool Again?” (pode a gola alta voltar a ser cool?), o mesmo jornal recupera uma galeria de intelectuais que foram fotografados com uma vestida, do dramaturgo Noël Coward ao escritor Evelyn Waugh, passando pela cantora francesa Juliette Gréco e os Beatniks em geral, numa era em que a versão lisa e preta, sobretudo, podia ter toda uma aura de inconformismo.
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Audrey Hepburn, Jacqueline Kennedy, Marilyn Monroe, James Dean, Sophia Loren — os anos 50 e 60 foram os mais unânimes em considerar a gola alta uma peça tão essencial como a t-shirt, só que muito mais distinta. Tão distinta que os fatos impecáveis à Mad Men não tinham a exclusividade masculina: muitos homens usavam uma malha de gola alta como substituto da gravata e da camisa.
Tapar ou não tapar o pescoço, a questão está em encontrar o equilíbrio numa peça tão cheia de contrastes, que tão depressa é cool como austera, elegante como rígida, retro como futurista (e por alguma razão sempre esteve no cabide da frente dos figurinos das séries e filmes de ficção científica). A pensar nisso, e para evitar o tal passo em falso e ser mais Hardy do que Putin, aqui ficam algumas dicas de styling:
Como usar gola alta
Jogue com as silhuetas. Se a parte de baixo for larga ou volumosa, a camisola deve ser justa, e vice-versa. A única pessoa no mundo que pode usar umas calças de fato-treino com um camisolão de gola alta é Drake no vídeo da música “Hotline Bling” (e talvez para não serem só os passos de dança a ganharem o rótulo de estranhos).
Colares são permitidos, mas cuidado com os brincos. Enquanto uma gargantilha pode alongar ainda mais o pescoço ou um colar pode acrescentar um ponto de interesse no visual, brincos demasiado grandes podem chocar com a gola (literalmente). Por algum motivo Audrey Hepburn usava a sua famosa camisola preta sem brincos ou com apenas duas pérolas.
"I believe that happy girls are the prettiest girls." – Audrey Hepburn pic.twitter.com/fzFVCLvOes
— Very Finnish Problems (@VFinnishProbs) December 30, 2015
Tenha atenção ao tecido. Toda a gente tem algures na sua infância o trauma de uma camisola que picava e que deixava o pescoço mais vermelho do que as bancadas da Luz em dia de jogo, e que por algum motivo as mães ou avós achavam ótimas. Não vale a pena voltar a esses tempos, pelo que quando andar à caça de uma gola alta o melhor é privilegiar as fibras naturais ou confiar no infalível toque.
Se se recusa a encarnar o papel de marinheiro prestes a ir para o mar enfrentar ventos gélidos e prefere uma versão sexy q.b., escolha um modelo justo, ou então sem mangas ou até curto, semelhante ao crop top.
No que toca a sobrepor peças, não há uma regra fixa. Se um camisolão resulta com um sobretudo de lã, o mais complicado pode ser o clássico blazer. Se quer juntar as duas coisas, opte por uma camisola de gola alta com um tecido fino. É possível que não perca o ar de avozinha mas afinal, e como escreve a Vogue, estamos na era do octogenário-chique.
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