— Oh, está claro que ganha o Marcelo à primeira…
— Você perdeu o juízo? Só pode estar a brincar!
— ‘Tou-lhe a dizer. Ganha o Marcelo.
Mau Maria. Isto não é coisa que se venha dizer para um jantar-comício daquele que é apontado como maior adversário do ex-comentador dominical. Ainda por cima era o jantar-comício mais concorrido da caravana de Sampaio da Nóvoa desde que se fez à estrada no domingo passado. Mil e trezentas pessoas, nem mais nem menos, encheram o pavilhão desportivo do Centro de Congressos de Matosinhos, onde foi montado um aparatoso dispositivo cénico. Grandes faixas verdes e vermelhas subiam desde as bancadas até ao teto, um enorme cartaz azul apregoava que “Matosinhos vota Sampaio da Nóvoa”, um palco sofisticado ocupava o sítio onde podiam estar mais umas cinco ou seis mesas, como admitiu o presidente da câmara de Matosinhos, Guilherme Pinto, antes do jantar começar.
Mil e trezentas pessoas, nem todas verdadeiramente crentes na passagem de Nóvoa à segunda volta, como prova o diálogo, captado logo à entrada do recinto. Acaba por ser um diálogo fruto das circunstâncias. Esta sexta-feira foi o dia em que se divulgou mais uma sondagem eleitoral, nada simpática para Sampaio da Nóvoa. Pela cara do candidato ao longo do dia, nada que o afete. O professor universitário jogou em casa e procurou junto dos seus o conforto que os números das sondagens (ainda?) não lhe dão.
Sampaio da Póvoa. Trocadilho fácil, inventado pela comitiva de Nóvoa e aproveitado pelo jornalista. O candidato presidencial tem raízes na Póvoa de Varzim, onde o pai e o avô nasceram, e não podia andar pelo distrito do Porto sem vir a “casa”. Nóvoa na Póvoa, a Póvoa com Nóvoa. Era a mensagem que a caravana SNAP queria transmitir quando alguém começou a gritar “A Póvoa vai votar! E o Nóvoa vai ganhar!”, mas este regresso de Sampaio da Póvoa a uma das terras da sua infância terá tido um certo sabor agridoce.
A arruada, que começou na Praça do Almada e terminou junto a um dos mais carismáticos restaurantes poveiros, o Guarda Sol — o prego especial da casa é supimpa –, não teve grande mobilização popular. As ruas não tinham muita gente e não fossem as bandeiras de Portugal e os gritos da entourage, talvez os poveiros não tivessem dado pela passagem do filho da terra. Ainda assim, foi um passeio de afetos. “É muito bom recordar estes tempos passados”, admitiu Nóvoa, que estava acompanhado pelo pai, que o trata carinhosamente por Tó Mané. Ao longo da caminhada, o candidato reencontrou conhecidos, cumprimentou lojistas e reviveu alguns episódios da sua vida. “Gosto do mar agitado, com rebentação”, disse a certa altura, lamentando não ter tanto tempo para ir à praia como gostaria.
O curioso chat de SNAP com a geração Snapchat
Era antecipado como um dos momentos altos do dia. Nóvoa ia ao carismático café Galeria de Paris, bem no centro do Porto, para ter uma “conversa com jovens” sobre o tema “Um Presidente presente”. Era isso que constava na agenda diária distribuída aos jornalistas… mas não foi bem isso que aconteceu. O café, que dá nome a uma das zonas noturnas mais movimentadas da Invicta, estava completamente cheio de pessoas. E muitas delas até eram jovens, mas as intervenções vieram sobretudo de pessoas que só com muito boa vontade poderiam ser encaixadas no perfil a que se convencionou chamar “jovens”. Muitos nem fizeram perguntas, apenas declararam o seu apoio ao candidato, declamaram poesia, pediram música e tentaram fazer humor.
“Vai ser um Presidente com espinha dorsal?”, foi a primeira pergunta, essa sim vinda de um jovem, que quis ainda saber se Nóvoa tenciona assinalar oficialmente dias que até agora têm andado arredados da agenda dos Presidentes, como o Dia de Luta contra a Homofobia; e se o candidato pondera levar jovens para o Conselho de Estado. O ex-reitor soube dar uma resposta politicamente correta à questão das celebrações e, a cavalo da explicação sobre a necessidade de levar sangue novo para o Conselho de Estado, conseguiu passar uma das ideias fortes do dia, que repetiria perante os 1.300 que o foram ouvir a Matosinhos. “Não quero imaginar o que seja a Presidência com a direita durante vinte anos”, disse.
Uma outra pergunta incidiu sobre a obrigatoriedade do voto, mas o cidadão que a colocou — já na terceira idade, como o próprio reconheceu — ficou sem resposta. Por fim, duas perguntas mais picantes: concorda com a legalização da droga para evitar criminalidade? “Eu gosto de todas as liberdades.” O que pensa da presença da Guiné Equatorial na CPLP? “Temos de fazer uma profunda reflexão” sobre isso.
Num encontro que era destinado à geração Snapchat (aplicação de vídeos para telemóvel), foi a geração do telegrama que se destacou. Seja pela tecnologia mais recente ou mais antiga, o que Nóvoa quer é que a mensagem chegue. Os números parecem dizer que não. Mas ainda faltam nove dias para as eleições.