Prova provada de que a caravana Sampaio da Nóvoa chegou ao Minho? Às dez da manhã, no café mesmo ao lado da sede de candidatura de Nóvoa em Barcelos, três cantadores de janeiras já aquecem a voz com aguardente. O frio é grande — outra prova de que estamos bem a Norte — e, daí a minutos, o candidato presidencial chega para a primeira arruada do dia. Mais vale não desafinar.

“Candidato independente
Bem sabemos, só há um
É Sampaio, pois da Nóvoa
Que dos outros não há nenhum”

O acordeão é tónica constante da visita de Nóvoa a Barcelos, mas também não o abandonará em Ponte de Lima, ao início da tarde. Depois, na passagem por Monção, Valença, Vila Nova de Cerveira, Caminha e Viana do Castelo, já não há acordeão, mas como as visitas são como um encontro de amigos, a falta de som quase não se nota. Foi aqui, precisamente aqui, que Sampaio da Nóvoa nasceu há 60 anos. Por isso as memórias andam-lhe na ponta da língua e os beijinhos e abraços a amigos e conhecidos são imparáveis.

Nóvoa ouve as janeiras junto à sede de candidatura, que partilha o prédio com uma loja outlet de moda feminina e com o Jornal de Barcelos. Depois, segue Avenida da Liberdade abaixo, mas não chega a andar 100 metros. Entra na Pastelaria Arantes, pede um café e um sonho. Os sonhos da Arantes são bem grandes, maiores do que os que habitualmente se encontram nas pastelaria. Até Sampaio da Nóvoa se surpreende com o tamanho do bolo, na infância dele não era assim. Ou então o pai, que está por ali escondido dos olhares indiscretos, partia e repartia o sonho pelos cinco irmãos.

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O sonho de chegar a Belém não é para repartir com ninguém. Ou melhor, é. Nóvoa não se tem cansado de falar de uma candidatura do “nós”, mas certamente nao está a pensar em Marcelo Rebelo de Sousa. No dia 24, quando, como espera, souber que vai à segunda volta, vai ser um “dia doce”, tal como o sonho a que dá uma pequena dentada enquanto diz isto.

Entra neste momento uma outra personagem desta história. “Não é preciso sonhar! Deixe o sonho para o Marcelo!” A voz que ecoa forte por toda a pastelaria é de Nelo Aguiar, óculos de sol sempre na cara, casaco cinzento e cantares ao desafio. Acompanhado de um acordeonista, Nelo anima a arruada, que aos poucos se vai compondo com gente.

“Os Presidentes para quem eu cantei ganharam todos”, diz Nelo ao Observador enquanto fuma um cigarro e a caravana tenta, em vão, não pisar em demasia as couves da praça de Barcelos. Ajudou a eleger Ricardo Rio, de Braga, Paulo Cunha, de Famalicão, e António Costa, embora este tivesse precisado de um bocadinho mais do que rimas de improviso para chegar ao poder. Um habitué destas andanças, portanto, que veio dar uma ajudinha à campanha daquele que as sondagens colocam a muita distância da frente. “Este homem tem perfil para ser nosso Presidente”, opina Nelo entre duas histórias sobre viagens ao estrangeiro e enquanto olha para as horas com ar apreensivo. “Eu sou artista, não sou socialista.” À uma, tem de ir animar um almoço da Liga, com Pedro Proença. A vida dele não é caravanar atrás de Nóvoa.

A vida de Nóvoa, por estes dias, é mesmo caravanar e dar-se a conhecer. Mesmo por estas bandas, onde nasceu e viveu parte da meninice, Tó Mané (ou Pirecas, como é conhecido em Valença) tem de se fazer notar. Assim, em Ponte de Lima, saltitou de mesa de café em mesa de café a cumprimentar potenciais eleitores. Mais uma vez mostrou-se muito à vontade com as crianças, mas também ajudou um idoso a fazer uma linha das palavras cruzadas.

Em Monção, a paragem foi curta mas trouxe notícia. O arquiteto Nuno Portas, pai de Paulo e Miguel Portas, estava no Museu Alvarinho à espera do candidato para lhe dizer que o apoiava. Apesar de o achar “o mais capaz” para o cargo, Portas disse aos jornalistas que “não seria um desastre” ter outro Presidente que não Nóvoa. Nunca o disse explicitamente, mas estava a falar de Marcelo. “Esse indivíduo nem para merceeiro é capaz!”, atira um homem enquanto a comitiva degusta um Alvarinho branco.

Valença e Cerveira são paragens curtas mas calorosas. Na terra de Nóvoa, um grupo de apoiantes lança 200 balões ao ar em sua homenagem. Em Vila Nova de Cerveira, a malta até fez pataniscas para receber o senhor professor, mas ele é mais bolos. É mais sonhos, como os da Pastelaria Arantes, como o de chegar à Presidência.

Se dependesse dos antigos colegas de escola de Caminha, o sonho era bem polvilhado com açúcar e canela. Maria Teresa fala embevecida do homem que conheceu rapazinho e que costumava espiar por cima do muro da escola (separada por sexos). “Saltávamos para ver os rapazes, eram todos tão gatos”. É caso para dizer: o mel está feito.