O Instituto de Neurociências de Xangai está a levar a cabo uma experiência com macacos geneticamente modificados. Os cientistas chineses criaram macacos com uma falha genética – o síndrome de duplicação MeCP2 – que origina vários sintomas clínicos habitualmente identificados em humanos com autismo. O objetivo é identificar os circuitos cerebrais responsáveis pelos comportamentos autistas, por forma a combater a doença em humanos.

Entre os principais sintomas provocados pela falha genética incluída nos macacos (o síndrome de duplicação MeCP2) está a dificuldade em estabelecer interações sociais, uma condição bastante comum em humanos autistas. O líder da equipa de investigação Zilong Qiu, citado pelo The Guardian, afirma que o primeiro grupo de macacos criados (cerca de 200) “exibe comportamentos muitos similares aos do autismo humano, incluindo ansiedade acrescida mas, mais importante, defeitos nas interações sociais”.

Depois de ficarem a conhecer melhor as redes de células cerebrais que estão envolvidas nos sintomas associados ao autismo, os investigadores passarão então a testar novos tratamentos, destinados a aliviar os sintomas e desenhados a partir da informação obtida na investigação.

Os tratamentos testados poderão ir desde estimulação elétrica aplicada diretamente no cérebro (tratamento que já foi administrado a pacientes que sofrem de Parkinson) até à estimulação magnética do crânio, passando, no limite, pela terapia genética (que consiste na introdução de genes nas células genéticas dos pacientes).

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Para realizar os vários testes os cientistas poderão necessitar de um número maior de espécies. Contudo, tal não será um problema, já que os macacos passam os seus defeitos genéticos aos seus descentes: e, assim sendo, os investigadores poderão criar um número bastante maior de macacos com estes sintomas, a partir da reprodução dos macacos já existentes.

A escolha destes animais é controversa e pouco habitual: mas não é aleatória. Como explica o The Guardian, os macacos possuem um cérebro com uma dimensão muito maior do que a dos ratos (que são os animais habitualmente utilizados em experiências científicas) e com bastante mais semelhanças ao dos humanos, pelo que permitirão um estudo mais conclusivo. O mesmo é corroborado por um especialista em genética da Trinity College Dublin, Kevin Mitchell: “Os ratos não têm obviamente comportamentos tão ricos, complexos e sofisticados” como os macacos, diz, citado pela publicação britânica.

A investigação, que segundo o The Guardian foi descrita na revista Nature, não está, contudo, imune a críticas: o diretor de investigação da Autistica (uma instituição que doa fundos às investigações sobre autismo), James Cusack, alerta para o facto de que “as pessoas com autismo são diferentes em numerosos aspectos, e o próprio autismo em si está ligado a uma série de outras doenças”. “Com isto em mente”, conclui, “desenvolver um modelo de autismo único para [todos] os animais pode ser algo muito difícil de conseguir“.