“Perante a possibilidade desta doença causar malformações em fetos e a fim de eliminar este risco, a Direção-Geral da Saúde [DGS] recomenda que as grávidas não se desloquem, neste momento, para zonas afetadas“, lê-se num comunicado divulgado esta quinta-feira.

O diretor-geral de Saúde, Francisco George, disse na SIC Notícias que até ao momento não existe confirmação científica que o vírus zika esteja relacionado com as malformações, como microcefalia, mas admite que os casos no Brasil são mais do que o costume. “Admitimos que há relação entre a frequência dos casos zika e a frequência de microcefalia comparando com anos anteriores.”

Por isso, as mulheres grávidas que não queiram correr este risco ou as  mulheres em idade fértil devem evitar fazer estas viagens. Para os restantes adultos e crianças, os riscos associados à doença são mínimos. Os sintomas só aparecem em 20% dos casos e são normalmente leves – febre, dores articulações e manchas no corpo. O diretor-geral de Saúde disse à SIC Notícias que até “seria bom que crianças com três, quatro, cinco anos fossem expostas”, porque desta forma ficavam imunes. Uma vez expostas ao vírus, as pessoas desenvolvem anticorpos e à partida estão protegidas de uma nova infeção.

Caso as mulheres grávidas ou idade fértil tenham mesmo de viajar, as recomendações são as mesmas que para qualquer outra pessoa, conforme aconselha a Direção-Geral de Saúde. As dúvidas também podem ser esclarecidas pela Linha Saúde 24 (808 24 24 24).

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  • Procurar aconselhamento numa Consulta do Viajante;
  • Seguir as recomendações das autoridades nos países de destino;
  • Proteger-se contra as picadas dos mosquitos [ver mais indicações em baixo].

Francisco George informou que o período de incubação da doença pode ser de 12 dias. Todas as pessoas que apresentem febre ou outros sintomas associados ao zika (mas também ao dengue e chikungunya) devem contactar a Saúde 24 (808 24 24 24), referindo a viagem recente. As grávidas devem consultar o médico assim que regressem de países onde existe o vírus para despistar a hipótese de estarem infetadas, mesmo que não apresentem sinais da doença.

Para tirar qualquer dúvida sobre a doença, o diretor-geral de Saúde disse, em conferência de imprensa durante a tarde de sexta-feira, que é possível mandar um email para zika@dgs.pt a pedir esclarecimentos.

Outro das formas de contágio que ainda não está confirmada é a transmissão por via sexual. Para prevenir qualquer risco, o virologista Scott Weaver, da Universidade do Texas, recomenda que os homens que voltem de uma viagem a um dos países afetados tomem precauções (por exemplo, o uso de preservativo) durante três semanas. O investigador acredita que esse tempo será suficiente para o vírus se desenvolver no organismo, mesmo que não apresente sintomas, e que seja eliminado do sangue.

Como evitar as picadas do mosquito?

Os mosquitos do género Aedes que podem transmitir o vírus zika estão ativos durante o dia e portanto só picam durante esse período. À noite, o risco de picada é menor. Evite abrir janelas e use redes mosquiteiras.

Durante este período deve usar-se calças (em vez de calções) e mangas compridas (em vez de mangas curtas). Jaime Nina, virologista e professor Instituto de Higiene e Medicina Tropical, aconselha o uso de repelentes em roll-on ou, eventualmente, em spray, porque são fáceis de usar e o risco de danificar as embalagens é menor. Jaime Nina desaconselha o uso de repelentes em loção ou bisnaga. O virologista lembra que o repelente evapora e que a aplicação deve ser repetida com frequência.

“Todos os [repelentes] que estão à venda em Portugal são bons”, disse Jaime Nina à SIC Notícias.

Sobre a aplicação de repelentes a Direção-Geral de Saúde acrescenta outras recomendações: o uso em crianças e grávidas apenas mediante aconselhamento de profissional de saúde; não usar em crianças com menos de três meses; e, caso seja preciso usar protetor solar, pôr primeiro o protetor e depois o repelente.

Depois, só as fêmeas de mosquito é que picam os humanos à procura de sangue, por isso é importante eliminar os locais onde estas podem pôr os ovos – locais de água parada, como charcos, bebedouros dos animais ou pratos dos vasos das plantas.

No Brasil têm sido usados repelentes nas casas, mas Francisco George “tem dúvidas sobre os químicos usados”. Por um lado, não sabe se são eficazes, por outro, apresentam riscos ambientais.

Que precauções tomam as companhias aéreas?

A TAP segue as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Direção-Geral de Saúde, conforme disse ao Observador. Sempre que voa de ou para a América Latina ou Madeira a companhia pulveriza a cabina, com os passageiros já no interior, para eliminar qualquer mosquito que possa ter entrado. Estas medidas de prevenção começaram a ser usadas por causa do vírus dengue, que é transmitido pelo mesmo mosquito que o zika, por isso as recomendações são válidas em ambas as situações.

Em que países pode apanhar zika?

O mapa dos locais que apresentam um surto de zika vão sendo atualizados pela Organização Pan-Americana de Saúde (PAHO). Neste momento o vírus, e o mosquito que o transmite, existem nos Barbados, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, El Salvador, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa, Haiti, Honduras, Martinica, México, Panamá, Paraguai, Porto Rico, República Dominicana, São Martinho, Suriname e Venezuela.

Os Centros de Controlo e Prevenção da Doença (CDC), apresentam outros dois locais com transmissões ativas fora da América: Cabo Verde e ilhas Samoa, no oceano Pacífico.

Posso cancelar a minha viagem?

A TAP tem vários voos para regiões que atualmente apresentam transmissão ativa do vírus zika. Tendo em conta as recomendações da OMS e DGS que aconselham as grávidas a não viajarem para estes países, a companhia aérea está disposta a devolver o dinheiro às mulheres que queiram cancelar as suas viagens ou a oferecer vale de dinheiro equivalente à viagem cancelada para que a grávida possa viajar para outro país. Os restantes passageiros não terão esse direito.

“Este é o procedimento da TAP porque está de acordo com as recomendações da OMS e da DGS. Nos outros casos, não. O dinheiro não será devolvido porque essas não são as orientações das entidades de saúde”, explica ao Observador o assessor de imprensa da TAP, André Soares.

“Acompanhantes ou outras pessoas que tivessem viagens para esses destinos, poderão solicitar a emissão de um vale no valor que foi pago, que pode ser usado em viagens até ao final deste ano, para destinos alternativos”, anunciou André Soares, na conferência de imprensa promovida pela DGS na sexta-feira.

De acordo com a TAP, o volume de chamadas referentes a este assunto não está a ser maior do que o normal. “As pessoas querem aconselhar-se, mas a comunicação social está a ter um papel positivo na informação que presta ao público”, considera.

As companhias aéreas norte-americanas e os hóteis que operam nos locais onde o surto está ativo, também ponderam o reembolso das grávidas que cancelam as viagens no seguimento das recomendações das autoridades de saúde, como noticia The New York Times.

Paulo Brehm, assessor da Associação de Agências de Viagens, disse ao Observador que não tem a certeza se existe alguma obrigatoriedade de devolução do dinheiro. “A devolução do dinheiro depende de vários fatores. Se o Governo proibir as viagens para esses países ou se o cliente invocar cláusulas que estão previstas na lei, o dinheiro é devolvido. Caso contrário, acredito que não haja obrigatoriedade de devolver o dinheiro.”

De qualquer forma, até agora Paulo Brehm só conhece um caso de desistência de uma grávida – ainda que não saiba se o dinheiro da viagem lhe foi devolvido. “Não existe uma reação alarmante” por parte dos clientes das agências de viagens com férias marcadas nos países com mais casos de infeções pelo vírus zika: “Recebemos com certeza algumas chamadas dos clientes, mas as pessoas estão muito bem informadas com esta avalanche de notícias.”

Paulo Brehm acrescenta ainda que esta não é a época do ano com mais viajantes portugueses para o Brasil: “O nosso verão continua a ser a época favorita dos portugueses [para viajar para a América do Sul]”.

Outras informações úteis sobre o zika?

  • Neste momento a única forma de transmissão confirmada é por mosquito do género Aedes, em especial, Aedes aegypti;
  • Não existe vacina nem tratamento específico para esta doença;
  • O diagnóstico em Portugal é confirmado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge;
  • Portugal continental não tem os mosquitos que transmitem o vírus;
  • A Madeira tem o mosquito que transmite o vírus, mas não tem vírus.

Desde 2012, quando houve um surto de dengue na Madeira, que o arquipélago mantém uma vigilância apertada das populações de mosquitos Aedes aegypti nas ilhas, garante Francisco George. “As populações de mosquitos estão controladas e não existem sinais que infeção dos mosquitos na ilha, nem para o zika, nem para o dengue, nem para outras doenças transmitidas por aquele mosquito.”

Atualização a 29 de janeiro com informação adicional dada durante a conferência de imprensa promovida pela DGS.