Pedro Passos Coelho, líder do PSD, admitiu numa entrevista ao semanário Sol publicada este sábado, ser muito difícil concretizar consensos com o PS, enquanto existir a “fase da miopia” e a “negação da realidade”.

“Enquanto não ultrapassarmos esta fase da miopia, enquanto existir do lado da maioria uma negação da realidade, é muito difícil concretizar consensos sobre as principais reformas que o país precisa fazer”, afirmou Pedro Passos Coelho na entrevista.

Segundo Pedro Passos Coelho, existe um “problema sério no sistema providencial de pensões” e o “Governo faz de conta” que a situação não existe e “vai empurrando esta realidade lá para a frente”, o que agravará o défice e a dívida e vai pôr ainda “mais em causa o pagamento das pensões”.

Apesar da “fase da miopia”, Pedro Passos Coelho afastou a possibilidade de eleições antecipadas, considerando que o atual executivo deve governar para que “haja um princípio, um meio e um fim que permita fazer a responsabilização política das opções que são tomadas”.

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“Esta solução de Governo tem a obrigação, pelo menos, de aprovar os orçamentos que aí vêm, porque um Governo que não tem orçamento não é um Governo”, disse, sublinhando que o resultado da atual política vai ser negativo e produzir maus resultados.

A criação de consensos é, segundo Pedro Passos Coelho, uma das maiores dificuldades do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Para Pedro Passos Coelho, Marcelo Rebelo de Sousa tem feito um esforço para “mostrar uma grande cooperação e um grande apoio ao Governo” e “suscitar entre todas as forças políticas uma discussão mais aberta que permita consensos”.

“As dificuldades têm sido diárias em conseguir obter uma base de racionalidade para a conversa interpartidária. Será a parte mais difícil”, afirmou.

Mesmo com dificuldades, o líder do PSD, salientou que quando olha para Marcelo Rebelo de Sousa vê “alguém que está bem na sua pele”.

“Que está satisfeito. Que está contente. Que transmite aos outros essa satisfação e essa felicidade. Pode dizer-se mesmo felicidade, porque há uma certa imagem de felicidade que irradia do Presidente”, disse.

Na entrevista, o antigo primeiro-ministro falou também sobre as eleições autárquicas, afirmando que não vão ser um teste à liderança do partido, até porque “não se trata de uma eleição nacional, mas de muitas eleições locais”, adiantando que a sua continuidade à frente do PSD “depende de muitas coisas” que não pode “antecipar”.

Sobre uma eventual coligação com o PS nas próximas eleições, Pedro Passos Coelho sublinhou que os socialistas têm “uma escolha feita que não é compatível com um Governo com o PSD”.

“O PS, no essencial, está apostado em fazer ou o contrário ou em desfazer o que nós fizemos no Governo. Isso não é uma base de entendimento para coisa nenhuma”, disse.

Referindo-se ao caso BPI, Passos Coelho criticou a intervenção do Governo, no processo de negociação entre acionistas, com a aprovação de um diploma para desblindar os estatutos dos bancos, sublinhando que “tudo está errado do princípio ao fim”.

“Bastava ter o mínimo de bom senso para perceber que se o Estado quer ser visto de forma independente só pode intervir para acautelar o interesse geral”, disse, sublinhando que o “Estado não pode legislar para aquele banco e para aqueles acionistas”.

Ainda sobre a banca, o ex-primeiro-ministro disse ver com preocupação o conflito “alimentado pelo Governo entre os partidos da maioria relativamente ao Governador do Banco de Portugal”, salientando que o executivo e os partidos da maioria estão a utilizar a Comissão de Inquérito ao Banif para “provar que houve uma falha grave do Governador, que é aquilo que permite a sua demissão”.