Diz-se que a pressa é inimiga da perfeição e foi essa a ideia que Pedro Passos Coelho foi transmitir esta noite aos conselheiros nacionais do PSD, naquela que foi a primeira reunião do órgão máximo desde o congresso de abril que o reconduziu como líder por mais dois anos. Na altura, Passos disse em alto e bom som que não “havia pressa” de voltar ao poder. Esta noite, voltou a repetir a ideia. “Aqui, a pressa é nossa inimiga. Para darmos estabilidade à governação, tem de haver responsabilização de quem está a governar“, disse numa intervenção inicial ao partido que foi mais curta do que o habitual. É uma “corrida de fundo”, de resistência e não de velocidade.

O recado encaixa que nem uma luva ao CDS e às críticas de que Passos tem sido alvo em alguns círculos de que está a perder o ritmo e a ser ultrapassado pela líder centrista Assunção Cristas na marcação ao governo e no combate parlamentar.

Aos jornalistas, já fora de portas, o vice-presidente Jorge Moreira da Silva viria a sustentar a tese: “Quem deve ter pressa para corrigir a estratégia que já se provou ser errada é o Governo”. Isto porque, uma vez provada a estabilidade da maioria parlamentar de esquerda, o objetivo do PSD há muito que deixou de ser semear a discórdia dentro do Governo, uma vez que a atual composição parlamentar não dá hipóteses à direita, mas sim assinalar as escolhas que o PS está a fazer, usar os números para mostrar que são as escolhas erradas e “responsabilizar” toda a esquerda por isso.

O PSD lava daí as suas mãos e, dizendo-se de consciência tranquila por ter “avisado em tempo útil” que o modelo económico do PS ia falhar, vai procurar afirmar as diferenças que existem entre os dois modelos para estar na linha da frente quando for chamado. Mas não vai esperar sentado “à espera que o governo caia de podre” nem “à espera do dia do juízo”, transmitiu Passos aos conselheiros de acordo com fontes presentes na reunião. A ideia é o PSD afirmar-se ao país pelas suas ideias, com propostas para o futuro, e denunciando as opções feitas pelo Governo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Meta para 2016 é “inalcançável” e política da educação é “retrógrada”

Aos jornalistas, num intervalo da reunião, Jorge Moreira da Silva reiterou a ideia transmitida por Passos dentro de portas de que a meta de crescimento económico que o Governo traçou para este ano é “inalcançável” e que, por isso, o Governo deve agir e “mudar de estratégia” antes que seja “tarde de mais”.

“Estamos perante dois modelos de desenvolvimento económico, o que segue o padrão de uma Internacional syrizista, que é irresponsável e anacrónico, e o modelo que temos, que os portugueses conhecem e que estava a resultar”, disse. Para o PSD, o parecer do Conselho de Finanças Públicas revelado esta terça-feira é um “sinal” claro de que o modelo não está a resultar, pelo que Jorge Moreira da Silva instou o executivo a “corrigir a trajetória” sem ter “preconceitos ideológicos”.

Sobre a política de educação, tema que nas últimas semanas tem deixado o Governo debaixo de fogo, Jorge Moreira da Silva acusou o Governo de ter recuado até antes da revisão constitucional de 1982, adotando uma postura “retrógrada” que, disse, torna os ex-ministros socialistas “Marçal Grilo e Maria de Lurdes Rodrigues mais próximos do PSD do que do atual governo”. Em causa estão os cortes nos apoios estatais aos colégios com contratos de associação anunciados pelo executivo.

“Há muito tempo que desapareceu a ideia de que a educação pública, o serviço público, se confunde com serviço estatal. Vivemos numa rede de serviço público onde participam vários projetos educativos, sejam de propriedade estatal, de iniciativa privada ou cooperativa. Era um assunto arrumado há muitos anos, desde 1982”, disse o primeiro vice-presidente do PSD, acusando ao mesmo tempo o Governo do PS de estar em permanente “campanha eleitoral”.

Em cima da mesa no Conselho Nacional estiveram, segundo Moreira da Silva, duas moções apresentadas ao órgão máximo do partido pelo grupo parlamentar: uma precisamente sobre educação e outra sobre “questões económicas”. “A educação é um elemento decisivo para assegurar a igualdade de oportunidades e esta instabilidade nas políticas é uma matéria de preocupação no partido”, disse o ex-ministro e vice-presidente do PSD. Ambas as moções seriam aprovadas pelos conselheiros.