O ministro do Ensino Superior afirmou na terça-feira que “não há praxes boas e praxes más”, considerando-as uma “prática fascizante” que nada tem a ver com tradição académica. Manuel Heitor considera que as praxes devem ser alvo de um “combate cerrado”, inclusivamente político.

“Considero que não há praxes boas e praxes más. Sou manifestamente contras as praxes e é isso que vou escrever a todos os dirigentes estudantis. E é essa a única posição que devemos tomar. Hoje é de facto o combate a esses movimentos que tem que ser considerado do ponto de vista político, mas sobretudo da comunicação do que deve ser o ensino superior”, afirmou hoje o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, no parlamento.

Durante a audição regimental pelos deputados da comissão parlamentar de Educação e Ciência, o ministro anunciou que vai escrever uma carta na primeira semana de setembro, a tempo do arranque do próximo ano letivo, a dirigentes estudantis, reitores das universidades e presidentes dos politécnicos a apelar à “máxima vigilância e o total repúdio das praxes”.

“É uma prática que temos que vigiar, é uma luta que não está ganha na sociedade portuguesa”, disse o ministro, que defendeu ser necessário um “combate cerrado a esta praga”.

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Na sua intervenção inicial, a deputada do PSD Nilza Sena invocou a tradição académica “muito arreigada” em cidades como Coimbra para defender uma ponderação na tomada de posição sobre as praxes e na defesa da sua erradicação, lembrando que inclusivamente o Partido Socialista (PS) já tinha anteriormente expressado opiniões mais moderadas, pedindo uma moralização em torno do tema.

“Praga é uma expressão muito, muito forte”, sublinhou a deputada. Manuel Heitor contrapôs que as praxes nada têm a ver com “tradição académica”.

“Com todo o respeito pela vida académica, a prática, diria mesmo fascizante, das praxes, não tem nada a ver com tradição académica”.

Ainda sobre as praxes, o deputado do Bloco de Esquerda Luís Monteiro defendeu que “há uma mistificação da tradição que é preciso desmontar”.

“O que interessa é discutir que tipo de integração queremos dos nossos estudantes”, afirmando que a prática de praxes se encaixa em comportamentos de violência e coação.

Luís Monteiro foi o promotor de uma carta aberta a todas as instituições de ensino superior, subscrita por 100 personalidades, denominada “Integração no ensino superior: a democracia faz-se de alternativas”, e divulgada no início do mês.

O documento, que pede a criação de uma alternativa às praxes “não procura espaço ideológico”, já que conta “com pessoas de vários quadrantes sociais e profissionais”,explicou na altura Luís Monteiro.

Entre os subscritores contam-se, entre outros, o professor universitário José Adelino Maltez ou o militar de Abril Vasco Lourenço, escritores como Luísa Costa Gomes e Miguel Sousa Tavares, os deputados Paula Teixeira da Cruz (PSD), Alexandre Quintanilha (PS), Teresa Caeiro (CDS-PP), André Silva (PAN), o antigo ministro da Saúde e advogado António Arnaut, o sociólogo André Freire, ou a viúva do escritor José Saramago, Pilar del Rio.

O presidente do conselho coordenador dos politécnicos considerou “bom e oportuno” o apelo lançado com esta carta aberta.