Portugal tem 376 mil automóveis a gasóleo a circular com emissões excessivas de óxidos de azoto (NOx). A estimativa é avançada num relatório da Federação Europeia de Transportes e Ambiente que faz uma avaliação ao parque automóvel europeu, um ano depois de ter rebentado o escândalo das emissões da Volkswagen nos Estados Unidos.

Os resultados desta avaliação, divulgados pela associação ambientalista ZERO, apontam para a existência na Europa de cerca de 29 milhões de automóveis do gasóleo das normas Euro 5 e Euro 6, ligeiros e pesados, com emissões excessivas de NOx. Este número representa cerca de 76% dos veículos a diesel registados nos cinco anos avaliados. Estes automóveis deverão continuar a circular por um período de 10 a 15 anos, sublinha a associação em comunicado.

Portugal, cujo parque automóvel ligeiro já é dominado por carros a diesel, ocupa a 11ª posição na lista dos países europeus com mais veículos que emitem demasiado NOx e que é liderada pela Franca. A estimativa apresentada para Portugal adianta que 295 mil veículo com emissões a mais estavam na norma 5, que abrange modelos menos recentes. 80 mil automóveis a diesel correspondiam à norma 6.

Ainda segundo o estudo, mais de quatro em cada cinco veículos vendidos entre 2010 e 2014 produzem mais de três vezes o nível de emissões de NOx previsto na norma Euro 5, quando estão a ser conduzidos em estrada. No caso da norma 6, que se aplica a veículos comercializados a partir de 2015, os automóveis analisados emitem mais de três vezes o limite de 80 mg/km quando estão a circular em estrada.

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O excesso de emissões é explicado sobretudo por falhas de funcionamento no tratamento de gases abaixo de uma determinada temperatura, maior nível de emissões quando o motor é ligado a quente ou pelo facto do controlo de emissões de NOx só funcionar quando o software deteta que está a ser realizado um ciclo de testes. O escândalo da Volkswagen rebentou quando foi detetada a instalação de um software fraudulento em veículos a gasóleo comercializados nos Estados Unidos que teria como objetivo falsificar os resultados dos testes às emissões de óxidos de azoto.

Os Estados Unidos controlam as emissões de óxido de azoto, que quando ultrapassam determinado nível podem ter implicações negativas em doenças respiratórias, que afetem os pulmões e os brônquios, e alergias.

Na União Europeia, o controlo de emissões no setor automóveis é feito sobretudo ao CO2, (dióxido de carbono), gás que é considerado responsável por fenómenos como o efeito estufa e o aquecimento global.

No entanto, no estudo europeu, as marcas cujos veículos apresentaram piores performances ao nível das emissões de NOx, foram a Renault (incluindo Dacia), Land Rover, Hyunday, Opel Vauxhall (inclui Chevrolet) e Nissan. Os melhores desempenhos foram registados nas marcas Seat, Honda, BMW, Ford e Peugeot. Estes foram os resultados apurados para a norma Euro 5.

Na norma Euro 6, que se aplica a veículos mais recentes, os maiores níveis de emissões foram registados nas marcas Fiat (inclui Alfa Romeu), Susuki, Renault (Nissal e Dacia), Opel/Vauxhall, Hyundai e Mercedes. Nesta norma, os veículos da VW até estiveram entre os que obtiveram menores emissões.

O composto mais perigoso associado ao NOx é o dióxido de azoto (NO2), um gás tóxico que quando inalado em quantidades elevadas ainda que durante pouco tempo provoca problemas respiratórios, incluindo inflamações em pessoas saudáveis. A longo prazo, a exposição pode mesmo contribuir para o cancro do pulmão.

A ZERO (Associação Sistema Terrestre Sustentável) sublinha que as estações de medição da qualidade do ar em Lisboa (Avenida da Liberdade) e no Porto (Francisco Sá Carneiro/Campanhã), expostas à emissão dos veículos a gasóleo ultrapassaram os limites diários e ou anual. Os dados provisórios para este ano, vão no mesmo sentido, realça a ZERO que lembra ainda o processo da Comissão Europeia contra Portugal por causa do incumprimento dos limites de NO2.