Esta é uma notícia para homens, daqueles que gostam de cerveja fresquinha. Esqueçam por momentos a condução autónoma e a possibilidade que nos oferece de irmos para onde queremos, a ler, a conversar ou a dormir, enquanto estamos ao volante. E também não entre em linha de conta com a possibilidade de podermos parar junto ao nosso restaurante preferido e, enquanto nos sentamos à mesa, mandarmos o carro estacionar sozinho. Vamo-nos concentrar naquilo que verdadeiramente interessa: no passado dia 20 de Outubro, o primeiro camião carregado com 50 mil latas de cerveja percorreu quase 200 km para reforçar o stock nos cafés e supermercados dos coitados que sofriam de sede extrema em Colorado Springs. E sem condutor.

Os carros autónomos estão aí ao virar da esquina, mas a notícia, desta vez, chega-nos pela mão dos camiões de transporte de mercadorias, mas uns modelos bem especiais, adaptados pela Otto à condução autónoma. A Otto é uma empresa muito curiosa, tão pequena quanto jovem, ou não tivesse sido criada apenas em Janeiro deste ano, por Lior Ron e Anthony Levandowski, este último que era, até então, o responsável pela condução autónoma no automóvel da Google.

O trabalho da Otto consiste em adquirir camiões e alterá-los, montando-lhes radares, câmaras vídeo, sensores e sistemas laser, para além do necessário hardware e software para que se conduzam a si próprios, sem intervenção do homem. Por enquanto, ainda apenas em troços de auto-estrada, independentemente da extensão da viagem, continuando a confiar no condutor para as operações de carga e descarga, e, claro está, até chegar e depois de sair da auto-estrada. Sendo que o objectivo passa por anular por completo a presença do condutor num futuro próximo.

A Otto começou a trabalhar em Janeiro, e apenas oito meses depois, em Agosto, foi adquirida pela Uber por 680 milhões de dólares, que percebeu e acreditou no potencial da empresa recém-formada e, sobretudo, em Levandowski, um dos indivíduos que está mais à-vontade quando o tema é condução autónoma.

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Para provar a sua capacidade tecnológica, a Otto associou-se à Anheuser-Busch – o fabricante da cerveja Budweiser – e apostaram em saciar a sede a Colorado Springs. Para tal, enviaram um camião cujo semi-atrelado estava carregado com 50.000 latas de cerveja, numa viagem com cerca de 200 km, 160 dos quais em auto-estrada. O condutor habitual do veículo controlou a carga e conduziu o camião da Otto até à via rápida, mas a partir daí foi o sistema de condução autónoma, pensado por Levandowski, que garantiu que os 50 mil recipientes do cobiçado líquido chegavam inteiros à saída de auto-estrada para Colorado Springs, onde o condutor regressou ao volante.

Se tivermos em conta que camiões como este são responsáveis por 5,6% dos quilómetros percorridos anualmente nos EUA, mas cabe-lhes 9,5% das mortes em auto-estrada – 94% das quais são devidas a erro humanos –, é fácil perceber o interesse da Budweiser ao associar-se a este projecto da Otto, bem como a atenção com que todas as empresas de transporte rodoviário acompanharam a viagem, pois a ausência de condutor a bordo vai permitir ganhos consideráveis para esta actividade.

As autoridades do Colorado acompanharam o primeiro transporte de mercadorias sem condutor e um dos seus carros patrulha seguiu mesmo o camião da Otto, a uma certa distância, para garantir que tudo corria na perfeição. O veículo autónomo, com o condutor confortavelmente a ler – ou a pensar que tinha de encontrar rapidamente outro emprego – instalado atrás do posto de condução, percorreu a distância a uma velocidade constante de 55 milhas por hora (88 km/h), obrigatória no Colorado, e todas as 50.000 latas, de uma edição especial produzida pela celebrar o feito, chegaram aos respectivos clientes a horas e sem uma beliscadura. Saúde!

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