Apenas quatro em cada dez habitantes da Grande Lisboa utilizam regularmente os transportes públicos. Os dados de um estudo sobre a qualidade da oferta realizado pela Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa (AMTL) e pelo ISCTE, mostram que mais de metade da população da área metropolitana de Lisboa não anda de metro, comboio, autocarro ou barco. Porquê?

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A possibilidade de utilização do carro é o principal motivo invocado. Para um quarto dos não utilizadores, o simples facto de terem automóvel é motivo para evitarem o transporte público. O segundo fator mais referido é o tempo de deslocação assegurado pelos transportes públicos, quando comparado com a concorrência do carro. O preço surge em terceiro lugar, com 11% dos não utentes a considerarem que o transporte coletivo perde para o modo individual neste fator.

O típico não utilizador de transportes coletivos é homem, tem entre 35 e 64 anos e possui automóvel. Entre estes, 60% rejeita vir a utilizar o transporte público. Entre os que desistiram do transporte coletivo, a mudança de residência ou de emprego, e o deixar de trabalhar, reforma ou desemprego, são os principais fatores que levaram a desistir. No entanto, 18% dos inquiridos responde apenas que preferiu passar para o carro. Um em cada quatro dos que abandonaram os transportes passou a andar a pé.

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A amostra de 1979 inquéritos foi conduzida entre março e abril deste ano a indivíduos com mais de 15 anos residentes na área metropolitana de Lisboa, envolvendo os operadores públicas e privados de 18 concelhos da AMTL para um universo de 2,384 milhões de indivíduos.

Os clientes dos transportes públicos justificam a sua opção em primeiro ligar com o argumento económico. O maior número de utilizadores é mulher tem mais de 45% e pertence a classes sociais mais baixas. Quase metade tem carta, mas 26% do total não tem carro. O transporte coletivo tem ainda a preferência dos clientes mais jovens que recorrem em 59% a esta opção.

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O transporte coletivo é usado maioritariamente para deslocações casa/trabalho. Para quem pode escolher, o carro é usado para viagens sociais, lazer e compras. Apesar de uma ideia globalmente positiva, o inquérito identifica como principais barreiras à utilização o incumprimento de horários, razões de conforto e logística e cansaço psicológico.

Uma análise mais focada às principais queixas revela que a insuficiente articulação entre meios de transporte é uma das principais fraquezas apontadas, sobretudo pelos clientes do comboio e barco.

Sem surpresa, os passageiros dos autocarros queixam-se da pontualidade e tempos de espera. A acessibilidade às estações é um ponto negativo para o Metro de Lisboa, enquanto os utilizadores do barco queixam-se da falta de resposta dos percursos às suas necessidades. Mais de metade dos passageiros dá ainda nota negativa à resposta dos operadores a reclamações e um quarto chumba a frequência dos serviços ao fim de semana.

Se a maioria dos inquiridos pede uma redução do passe mensal é o preço do bilhete individual que gera maior descontentamento, com 70% das respostas a dar nota de insatisfação.

Cerca de 48% dos inquiridos mostram em insatisfação com a relação qualidade/preço oferecida pelo meio de transporte. É no comboio que o número de insatisfeitos é mais elevado, atingindo os 55%. A associação deste meio de transporte a frequência de greves é um dos motivos invocados, não obstante o serviço suburbano da CP ter sido menos afetado por paralisações este ano.

O inquérito avalia ainda a imagem dos principais operadores da zona de Lisboa, destacando pela positiva a Fertagus, empresa privada que faz a travessia ferroviária do Tejo, por ser um serviço considerado imune a greves. Este é precisamente o aspeto mais negativo associado ao Metro de Lisboa, empresa que está hoje em paralisação. Não será por acaso que a palavra greve domine a imagem projetada pelos passageiros deste operador.

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