A ausência de membros do Governo foi notada na conferência do grupo que quer captar a primeira fábrica europeia da Tesla para Portugal, mas o Executivo não está alheio ao movimento. “O Governo está envolvido, está atento, já fez alguns contactos, mas vai manter discrição sobre o tema, porque não quer criar falsas expectativas”, disse ao Observador o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.

À margem da feira que reúne as empresas do setor metalúrgico e metalomecânico, em Paris, o governante explicou por telefone que o Executivo está a “acompanhar e a trabalhar neste processo, empenhado em fazer esforços”, mas que “não está a prometer nada” relativamente à Tesla.

“É óbvio que tudo faremos para trazer novos investimentos para Portugal, mas a Tesla está no momento de escolher países e não podemos criar muitas expectativas”, referiu.

Na segunda-feira à noite, o grupo “Bring Tesla Gigafactory to Portugal” – que já conta com perto de 50 mil membros no Facebook -, promoveu uma conferência para delinear a estratégia para convencer o multimilionário e líder da Tesla, Elon Musk, a escolher Portugal como destino da primeira fábrica europeia de baterias e carros elétricos da marca, em detrimento de Espanha, França, Holanda, República Checa e Finlândia.

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Apesar das emoções com que querem convencer Musk, os empreendedores que se reuniram na sala do LEAP Center, em Lisboa, notaram a ausência de representantes do Governo. O diretor da Invest Lisboa, Rui Coelho, disse que para Portugal sair vencedor do desafio, é “preciso que o senhor primeiro-ministro assuma que queremos ganhar”.

No final do encontro, Miguel Duarte, um dos organizadores, revelou que enviou convites ao Executivo, mas que “só recebeu respostas diplomáticas”, acrescentando que “seria bom algum representante governamental vir a público pronunciar-se sobre esta matéria”, disse.

Setor da metalurgia bate recorde de exportações

O ministro da Economia falou com o Observador à margem da feira do setor metalúrgico e metalomecânico em que as empresas portuguesas participavam através da associação do setor, a AIMMAP. Caldeira Cabral aproveitou para lembrar que este ano, “o setor vai bater o recorde de exportações” e que a presença portuguesa na feira deste ano “era a maior de sempre”, com 88 empresas.

“É um dos setores portugueses mais exportadores, que vai até aos 15 mil milhões de euros. Só do setor do fornecimento à indústria saem cerca de 6 mil milhões de euros”, disse o ministro da Economia ao Observador, acrescentando que pelo que viu das empresas portuguesas na feira, “não estão minimamente a abrandar os esforços”.

“Mais de metade estão a fazer investimentos para reforçar a capacidade de produção, aumentar o emprego e muitas delas utilizam os fundos do Portugal 2020. Temos aqui é um setor muito importante, marcado pela qualidade da engenharia portuguesa, que já incorpora as melhores tecnologias e está a fazer um esforço dobrado para aumentar as exportações”, disse Caldeira Cabral.

O governante explicou ainda que as empresas portuguesas do setor automóvel estão a ter “uma enorme procura”, no que diz respeito aos produtos que produzem como ao investimento que estão a captar. “A Renault vai investir 50 milhões, a Autoeuropa vai reforçar muito a produção nos próximos anos”, entre outras.

Rafael Campos Pereira, vice-presidente da AIMMAP, disse, em comunicado, que “a AIMMAP, em conjunto com as empresas associadas, tem trabalhado no sentido de promover este segmento na Europa e no Mundo, resultando numa clara mudança de perceção dos clientes relativamente à qualidade da produção industrial do país e à capacidade de responder com eficiência aos exigentes desafios. Neste âmbito, Portugal tem-se posicionado, cada vez mais, como um player global que se destaca no mercado devido à capacidade de produção de pequenas séries de alto valor acrescentado”.