Duas realidades separadas por uma vedação. De um lado Marrocos, onde emigrantes vivem em acampamentos improvisados à espera do momento certo para subir seis metros de altura que os separa do sonho de chegar à Europa. Do outro lado, Melilla, em Espanha, onde num campo de golfe jogadores vestidos de branco calculam a distância e a força da próxima tacada.

O registo de José Palazón de 12 emigrantes em cima da vedação que marca a fronteira entre Melilla e Marrocos enquanto duas pessoas estão a jogar golfe correu o mundo e tornou-se viral. A imagem foi publicada nesta quarta-feira no site eldiario.es e depois no Twitter da ONG PRODEIN, onde o autor trabalha:

“Era por volta das 11 horas da manhã. Os jovens saltaram por um lugar próximo ao campo de golfe e achei que era um bom momento para não tirar a foto típica deles, mas algo mais simbólico, que parecia refletir muito bem a situação, as diferenças que existem aqui. Imagino que o impulso de partilhá-la vem de que mostra tudo o que nos irrita tanto, a diferença norte-sul, a desigualdade, a violência que se vive aqui. Tudo o que qualquer um odeia e despreza”, explica José em entrevista ao jornal El País.

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Depois de a imagem se ter tornado viral, outras similares começaram a aparecer, adianta o El País. São os casos da fotografia da agência EFE e do vídeo do site Periodismo Humano.

O Ministério do Interior de Espanha confirma que nesta quarta-feira 200 emigrantes tentaram saltar a vedação, dos quais 20 conseguiram alcançar o outro lado e 70 ficaram presos no alto da cerca por várias horas.

A imagem foi captada num local e num momento importantes. De acordo com o jornal 20minutos.es, o governo pretende legalizar a devolução imediata de estrangeiros que sejam identificados na fronteira de Ceuta ou Melilla ao tentar cruzar a fronteira de maneira “clandestina, flagrante ou violenta” com o objetivo de impedir a sua entrada ilegal em Espanha. A Amnistia Internacional anunciou que denunciará o país à Comissão Europeia se a lei for sancionada.

Já o campo de golfe foi alvo de um pedido de investigação por parte da organização Ecologistas en Acción em 2009, que questionou o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional sobre o motivo pelo qual disponibilizou mais de 1,1 milhões de euros para a sua construção. O pedido foi negado, alegando que o campo “aumentaria o turismo, criaria empregos e promoveria os valores desportivos”.