Violentos combates abalam esta terça-feira a cidade síria de Alepo, pondo fim a uma pausa nas hostilidades que visava permitir retirar os civis da zona, constatou um jornalista da France Presse no local.

O jornalista, que se encontrava no setor rebelde, viu um tanque do regime sírio disparar intensamente contra a zona ainda controlada pelos rebeldes e vários civis feridos. A Rússia, aliado do presidente sírio, Bachar al-Assad, acusou os rebeldes de terem retomado as hostilidades, enquanto o Estado aliado da oposição, a Turquia, culpou as tropas do regime e os seus aliados.

O embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, anunciou na passada terça-feira que o Exército sírio tinha detido as suas operações em Alepo e que tinha sido alcançado um acordo para a saída dos combatentes opositores de Alepo.

O acordo de evacuação permitiria retirar milhares de civis e rebeldes dos últimos redutos controlados pela oposição, bairros que estiveram cercados pelo exército durante mais de quatro meses e onde faltava de tudo. No entanto, após uma pausa de várias horas, recomeçaram os bombardeamentos contra esses quarteirões, disseram os correspondentes da AFP e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

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“Alepo está numa situação de urgência absoluta: cerca de 100.000 pessoas estão ainda presas num território de cinco quilómetros quadrados”, disse à AFP a presidente dos Médicos do Munde, Françoise Sivignon, pedindo a retirada dos civis daquele “inferno”.

As operações de retirada, que deveriam ter começado às 05h00 locais (03h00 em Lisboa) não se concretizaram e os autocarros que deveriam transportar os rebeldes e civis retirados do leste da cidade já regressaram entretanto às suas bases.

O OSDH diz que as autoridades sírias estão a impedir a aplicação do pacto forjado entre a Rússia e a Turquia para a retirada, por não terem sido consultadas, enquanto os opositores acusam o Irão, porque quer incluir no acordo algum ponto sobre os povos de maioria chiita de Fua e Kefraya.

Segundo a televisão estatal, pelo menos sete civis morreram, esta terça-feira, vítimas de ataques dos rebeldes no bairro de Bustane al-Qasr, enquanto aviões do regime bombardeavam o último reduto da oposição na segunda cidade síria.

O exército sírio retomou esta quarta-feira os combates em Alepo após uma contra-ofensiva das forças rebeldes, avançou fonte militar russa citada pela agência France-Presse. Os combates regressaram numa altura em que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergueï Lavrov, previu que a “resistência” dos últimos rebeldes em Alepo durará mais “dois ou três dias”, antes do fim dos mais de quatro anos de rebelião na segunda maior cidade síria. “Espero que a situação seja regularizada em dois ou três dias… Os combatentes vão cessar a sua resistência daqui a dois ou três dias”, declarou Lavrov no decorrer de um fórum diplomático, citado pelas agências de notícias russas.

O acordo para a retirada de civis e de combatentes insurgentes da cidade de Alepo foi alcançado na terça-feira com o Governo de Damasco, anunciaram responsáveis rebeldes e o embaixador russo junto das Nações Unidas, Vitali Tchourkine. Horas antes, o Conselho de Segurança das Nações Unidas anunciou que iria reunir-se de urgência em resposta à situação em Alepo, após relatos de que as forças pró-sírias executaram dezenas de civis naquela cidade devastada por combates. A reunião de urgência foi solicitada por Paris e Londres.

Os termos do acordo foram concluídos “sob a liderança da Rússia e da Turquia”, aliados do regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, e da rebelião síria, respetivamente, indicou, em declarações à agência noticiosa francesa AFP, Yasser al-Youssef, um responsável da estrutura política do influente grupo rebelde Harakat Nour Din al-Zenki.

A ONU informou na terça-feira que as forças que apoiam o regime sírio terão executado pelo menos 82 civis, incluindo 11 mulheres e 13 crianças, “provavelmente nas últimas 48 horas” em quatro bairros do leste de Alepo que recuperaram aos rebeldes.

As forças governamentais sírias, apoiadas pelas forças aliadas russas, lançaram há três semanas uma ofensiva para recuperar a zona leste de Alepo, um bastião rebelde desde 2012. Dos 275.000 civis que se estimava viverem em Alepo (a segunda maior cidade síria) quando foi lançada a ofensiva, cerca de 70.000 fugiram nos últimos dias, na sua maioria para centros de deslocados montados pelo governo na parte oeste da cidade.