Ao fim de vários apelos da população, o presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, abandonou o cargo. O anúncio foi feito esta sexta-feira por um coronel da Guarda Presidencial, Isaac Zida, e confirmado de seguida, em comunicado, pelo próprio Compaoré. Honoré Traoré, chefe-geral das Forças Armadas assumiu os comandos do país neste período de transição.

De acordo com o Le Monde, que cita o comunicado, Blaise Compaoré justifica a sua demissão: “a fim de preservar as conquistas democráticas e a paz social (…), eu declaro que deixo vago o poder para permitir uma transição conducente a eleições livres e justas no prazo máximo de 90 dias”, tal como diz a lei. Ainda no mesmo comunicado, Compaoré refere que “fez o [seu] dever” e que teve como “única preocupação os melhores interesses da nação”.

O povo que se manifestava nas ruas dançou e comemorou depois de receber a notícia. Contudo, o clima arrefeceu, relata a Reuters, quando a população percebeu que tinha sido o general Honoré Traoré a assumir as rédeas do poder. “Tendo em conta a urgência de salvar a nação, decidi que vou assumir a partir de hoje a responsabilidade do chefe de Estado”, anunciou Traoré esta sexta-feira, comprometendo-se “a iniciar o processo de retorno à ordem constitucional o mais rápido possível”.

Traoré era o nome mais óbvio para a substituição. De acordo com a Constituição do Burkina Faso, quando o presidente se demite o presidente da Assembleia Nacional deve assumir o cargo, mas o Parlamento foi dissolvido por Traoré na quinta-feira sob a lei marcial de curta duração.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Confrontos no Burkina Faso provocaram vários mortos

O anúncio da demissão de Blaise Compaoré surgiu depois de centenas de manifestantes se terem voltado a juntar esta sexta-feira na Place de la Nation, segundo o El Mundo, exigindo a demissão do Compaoré e muitos deles pedindo que fosse o general Kouamé Lougué a ocupar o cargo de presidente interino. Este novo protesto, mais pacífico do que o do dia de ontem, teve por mote a comunicação de Blaise de quinta-feira, onde este deixou claro que dissolveu o governo e anunciou um governo de transição, mas frisando que se manteria no poder.

A última semana tem sido marcada no Burkina Faso por intensos protestos que levaram o Chefe de Estado demissionário a declarar mesmo o estado de emergência, que logo depois retirou. A violência foi escalando, falando-se já em 30 mortos, e na quinta-feira os manifestantes atacaram e deitaram fogo ao Parlamento.

Na origem das manifestações e distúrbios na capital do Burkina Faso está a decisão presidencial de rever a Constituição para poder prolongar o mandato de Blaise Compaoré, que já está no poder há 27 anos. Na quinta-feira Compaoré voltou atrás com a decisão de rever a Constituição.