Aquela fezada de Éder ao minuto 109 em Paris valeu uma vitória de Portugal frente à França. Valeu um título único na história do futebol nacional: o Campeonato da Europa. Valeu uma preciosa injeção de autoestima e orgulho nos portugueses. Foi uma desgarrada que acabou com a sina do triste fado. Mas, contra a Hungria, aquilo que se percebeu é que o triunfo no Europeu não foi um fim, pode ter sido só o início.

Antes de qualquer ideia mais aventureira, não estamos com isto a dizer que somos um novo Gary Lineker a mandar para o ar uma profecia do género “O futebol são 11 contra 11 e no final ganha a Alemanha”. Longe disso. Mas Portugal, e neste particular Fernando Santos, conseguiu uma modificação gigante naqueles onze jogadores que usam as quinas ao peito – mais do que uma Seleção, esta é uma equipa.

Parece um pormenor mas, a este nível, é tudo menos isso. Uma das principais queixas dos selecionadores, ou até a maior, passa pela falta de tempo para trabalhar com os jogadores antes dos compromissos particulares ou de apuramento para o Mundial, nesta altura. Os atletas chegam, descansam, recuperam fisicamente, veem uns vídeos, treinam algumas movimentações coletivas e bolas paradas e seguem para jogo. No caso de Portugal, também é assim. Mas isso não é problema, é uma solução.

Ficha de jogo

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Portugal-Hungria, 3-0

5.ª jornada do grupo B da fase de qualificação europeia para o Mundial

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Szymon Marciniak (Polónia)

Portugal: Rui Patrício; Cédric, Pepe, José Fonte, Raphael Guerreiro; William Carvalho, André Gomes (Pizzi, 86’), João Mário (João Moutinho, 83’); Quaresma, Cristiano Ronaldo e André Silva (Bernardo Silva, 67’)

Treinador: Fernando Santos

Suplentes não utilizados: Marafona, Bruno Varela, Nélson Semedo, Bruno Alves, Eliseu, Danilo, Renato Sanches, Gelson Martins e Éder

Hungria: Guácsi; Bese, Lang (Lovrencsics, 46’), Kádár, Paulo Vinícius, Korhut; Nagy, Gera (Pinter, 86’), Dzsudzsak, Gyurcsó (Kalmar, 69’) e Szalai

Treinador: Bernd Storck

Suplentes não utilizados: Dibusz, Megyeri, Hangya, Holman, Sallai, Adorjan, Priskin e Eppel

Golos: André Silva (32’) e Cristiano Ronaldo (36’ e 65’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Dzsudzsak (61’), Gera (76’) e Kádár (83’)

Muito se falou sobre as opções iniciais de Fernando Santos. Cédric, Nélson Semedo ou João Cancelo? William ou Danilo? André Gomes ou João Moutinho? João Mário ou Pizzi? Quaresma ou Bernardo Silva? Afinal de contas, não houve dúvidas. O selecionador nacional apostou na continuidade e foi aí que começou a ganhar o jogo. Que até podemos dividir da seguinte forma: nove velhos, um novo e o suspeito do costume (à parte de todos claro, porque Cristiano Ronaldo é um extra-terrestre vestido de futebolista que desceu à terra para fazer história).

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A adaptação de Portugal ao esquema de três centrais da Hungria não foi fácil. Uma das missões que vinha preparada, que era anular a primeira fase de construção dos visitantes, foi cumprida a 100% – Patrício não fez uma defesa sequer na primeira parte. Mas faltava o resto, do meio-campo para a frente. E faltava velocidade. E faltava mais jogo entrelinhas. E faltava, sobretudo, trocas de posição, mais mobilidade. A Seleção começou a mexer mais, as oportunidades apareceram: primeiro de livre, ainda desviado pela barreira, depois de cabeça, Ronaldo deixou os dois primeiros avisos (13′ e 20′).

Portugal melhorava com o tempo, mas faltava outra coisa, que por acaso é a mais importante do jogo: o golo. E esta é outra das marcas da Seleção pós-Euro – mesmo quando o encontro não segue nos caminhos mais desejáveis, a equipa faz jus à palavra e nunca perde a calma, a concentração e a disponibilidade para encontrar soluções que lhe resolvam os problemas. Foi assim, aliás, que nasceu o primeiro golo: jogada de envolvimento com Ronaldo a baixar, André Silva a atacar e Raphael Guerreiro a cruzar rasteiro para o toque de matador do dianteiro do FC Porto. Que, acrescente-se, parece outro com a camisola das Quinas, pois consegue fazer explodir a eficácia em frente da baliza de 17% (15 golos em 89 remates nos dragões) para 42% (5 golos em 12 remates).

A Hungria acusou em demasia o golo. Já andava meio perdida, mas passou a estar perdida por completo. E o suspeito do costume lá apareceu: após um passe longo com um amortecimento soberbo de André Silva para a entrada da área, Ronaldo rematou de pé esquerdo ao ângulo inferior e marcou o 2-0. Entre os 32 e os 36 minutos foi a diferença entre um nulo sem muitas oportunidades e uma partida quase ganha…

No segundo tempo, Bernd Storck ainda tentou mudar qualquer coisa ao abdicar do sistema de três centrais (ou cinco defesas, como se queira) mas os leves, muito leves sinais de desconforto emitidos nos minutos iniciais foram muito rapidamente engolidos por mais uma enxurrada de futebol atacante dos comandados de Fernando Santos, que beneficiavam de um jogo mais partido também de forma propositada. O terceiro golo adivinhava-se, mas acabou por chegar de bola parada. Mais concretamente, de livre direto. E marcado por Cristiano Ronaldo, pois claro.

Faltavam 25 minutos para o final do encontro mas estava tudo sentenciado. Portugal ainda beneficiou de algumas oportunidades, como um cabeceamento do pequeno Bernardo Silva muito perto da trave, mas houve sobretudo uma boa gestão com bola do encontro. O objetivo estava cumprido, três pontos com uma boa exibição coroada com outros tantos golos. Ainda assim, a Suíça, que ganhou à Letónia, continua a liderar o grupo B com 15 pontos, mais três do que Portugal. Haja calma, Portugal apenas depende de si. E tem a vantagem de ser uma verdadeira equipa.