Passos e a senhora de cor de rosa, take II (mas ao contrário). Pedro Passos Coelho já não é primeiro-ministro, nem está sequer em campanha, mas não se livra das “senhoras de cor de rosa” que querem debater na rua, pedindo mais e melhor. Desta vez o tom não foi de reclamação, mas sim de constatação das dificuldades que o setor da saúde atravessa, nomeadamente no centro hospitalar do Algarve onde “há falta de médicos” e onde “nos dizem que a dor pode esperar”. Desta vez, a senhora de cor de rosa (e mais duas utentes) até calhou bem para ilustrar a mensagem que Pedro Passos Coelho queria passar: “A retórica do Governo não cola com a realidade” no que toca ao investimento na saúde e a “noção real das dificuldades choca com a ideia de que o Governo está a investir no Serviço Nacional de Saúde e nos hospitais”, quando “não está”, disse Passos Coelho.

O pequeno episódio, que se passou esta terça-feira no final de uma visita de mais de três horas da comitiva do PSD ao hospital distrital de Faro, no âmbito das jornadas parlamentares, fez lembrar um outro que se passou em setembro de 2015 no arranque da pré-campanha para as legislativas. Nessa altura, Passos Coelho, ainda primeiro-ministro, foi interpelado por uma senhora vestida de cor de rosa que ficou célebre por ter feito um autêntico debate com o chefe de Governo no meio da rua, confrontando-o com as dificuldades em que vivia. Desta vez, o cenário foi outro: foi a senhora de cor de rosa que foi pedir ao ex-primeiro-ministro que “ouvisse o Algarve, porque no verão era impossível”, e que ajudasse a colmatar a “falta de médicos e enfermeiros”.

Registado. Aliás, Pedro Passos Coelho, sempre acompanhado pelo líder parlamentar Luís Montenegro, já tinha estado toda a manhã em contacto com aqueles mesmos problemas, primeiro em reuniões à porta fechada com o conselho de administração, depois numa visita ao serviço de urgências e depois ainda em reuniões com representantes sindicais e da ordem dos médicos e dos enfermeiros. Foi aí que pôde constatar a realidade do setor da saúde na região do Algarve. Além dos “problemas transversais” à maioria dos hospitais, que passam pela “falta de recursos”, “pouco investimento, sendo que em 2016 não houve investimento nenhum”, “tempo de espera a aumentar” e “dificuldades para dar vazão às cirurgias”, Passos Coelho sabe que há muitos problemas que afetam em concreto o setor da saúde no Algarve.

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“Há menos médicos e enfermeiros aqui do que a média do país”, disse, sublinhando que é preciso ter em conta os meses do verão, em que “há uma procura muito maior devido ao turismo”, mas também é preciso lembrar que a região “tem quase meio milhão de pessoas que precisa de uma resposta adequada”. Para Passos Coelho, os problemas daquela região são muito concretos. E por isso exemplificou: “Se não há investimento em equipamentos para realizar os exames complementares, o tempo de espera é muito maior, as pessoas têm de ficar internadas enquanto esperam, e isso aumenta o tempo de internamento”. Depois, é uma bola de neve.

Questionado sobre os 19 milhões de euros que estariam previstos para investimentos a realizar nos próximos três anos no setor da saúde naquela região, Passos Coelho confirmou que a ideia seria investir “10 a 11 milhões este ano”, mas até agora nada. “Ainda não vimos nada”, disse, sublinhando que essa tem sido uma opção da política orçamental do Governo, mas esperando que este ano seja diferente. “As opções do Governo no ano passado foram boas para o défice, não negamos isso, mas foram contra as expectativas de mais investimento. E quando o Governo percebeu que estaria em risco a meta do défice cortou no investimento, nomeadamente na saúde“, disse, acrescentando que receia que em 2017 esse cenário se repita, não à custa do investimento (“o Governo já disse que não o faria”), mas sim à custa de “despesas correntes”.

Para o líder do PSD é preciso “realismo” e não “demagogia”. Mas é preciso também investimento nos serviços básicos. Foi por isso que, disse, quando estava no Governo não conseguiu avançar com a construção de um novo hospital no Algarve — “porque não havia dinheiro, e mesmo assim abrimos oito novas unidades hospitalares” –, mas conseguiu, disse, “melhorar os serviços de urgência em Faro e Portimão”.

Ainda assim, é preciso mais. E, agora, os tempos são outros. São tempos de “normalidade”, com mais dinheiro. Por isso o PSD desafia o Governo a dar prioridade à construção de um novo hospital no Algarve. “Porque sem uma infraestrutura nova não atraímos médicos e enfermeiros”, disse. Passos Coelho, contudo, não disse se o PSD ia ou não avançar com iniciativas legislativas nesse sentido no Parlamento. “O Parlamento não se pode substituir ao Governo para governar mas no que diz respeito a recomendações ao Governo e a propostas de alteração temo-las feito”, afirmou.

O grupo parlamentar do PSD está esta terça e quarta-feira reunido no Algarve em jornadas parlamentares, tendo a manhã sido dedicada à chamada de atenção para os problemas no setor da saúde. Passos Coelho esteve toda a manhã acompanhado de Luís Montenegro, enquanto os restantes deputados (são 89 no total) se dividiram em vários grupos para visitarem os vários serviços da região.