Após o desastre de Entre-os-Rios, em 2001, no qual morreram 59 pessoas, foi criada no Instituto de Medicina Legal a Disaster Victim Identification. E são estas equipas de reação rápida em caso de desastre que estão no terreno na zona de Pedrógão Grande. São eles que, em conjunto com a Polícia Judiciária, recolhem os corpos e procedem depois à sua identificação.

Duarte Nuno Vieira é um dos maiores especialistas mundiais na área da medicina forense, foi presidente do Instituto de Medicina Legal durante 13 anos e é atualmente o diretor da Faculdade de Medicina de Coimbra. Por telefone a partir de Varsóvia — onde participa de uma comissão ad hoc de especialistas internacionais que se encontram a reanalisar as provas do desastre aéreo que vitimou o presidente polaco Lech Kaczynski e mais 95 pessoas — explica como atuam estas equipas.

“O Instituto de Medicina Legal tem uma força de reação rápida com grande capacidade técnica devidamente preparada para estas tragédias. É uma força designada de DVI – Disaster Victim Identification, de reação rápida, que foi criada na sequência do acidente da ponte de Entre-os-Rios e tem acorrido a todos os grandes desastres que têm acontecido em Portugal desde então. Como aconteceu, por exemplo, nos incêndios que se verificaram na ilha da Madeira em 2016”, explicou.

Recolhidos os corpos, procede-se à tentativa de identificação das vítimas, que pode ser feita de duas formas: “Através de elementos secundários, ou não científicos, que são essencialmente objetos pessoais (fios, pulseiras, relógios, óculos) que permitem, através das famílias, identificar as vítimas; ou através de elementos científicos, como as fichas dentárias e material genético”.

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Duarte Nuno Vieira admite que em caso de incêndios é quase sempre possível recolher elementos de identificação, ao contrário, por exemplo, do que se passou — e passa — no incêndio da Grefen Tower em Londres. “Recordo-lhe o que aconteceu no recente incêndio em Londres. As temperaturas atingidas durante aquele incidente foram superiores a 900 graus. Isto é uma temperatura similar à temperatura de uma cremação. Nessas condições, os corpos ficam reduzidos a cinzas. No caso de um incêndio florestal, as temperaturas não são tão elevadas. Ou seja, o corpos ficam carbonizados mas, geralmente, é possível recolher elementos de identificação”.

No caso de ser necessária a identificação através de amostras de ADN essa é feita através da comparação com amostras retiradas dos possíveis familiares das vítimas.

Carbonizados ou intoxicados?

As equipas de Disaster Victim Identification andam num primeiro momento acompanhadas por elementos da Polícia Judiciária. Fonte da PJ avançou ao Observador que neste momento há no local investigadores dos departamentos de investigação criminal de Aveiro, Coimbra e Leiria e ainda vários elementos do laboratório da polícia científica.

Uma das questões que tem sido levantada é a causa da morte das 62 pessoas. O secretário de Estado da Administração Interna avançou esta manhã que algumas pessoas morreram apanhadas pelo fogo e outras, que estavam a observar o incêndio, terão sido vítimas de inalação de fumos e por isso teriam morrido intoxicadas.

Segundo explicou ao Observador a mesma fonte, é fundamental para perceber a causa da morte a posição em que os corpos são encontrados, que difere no caso em que há uma tentativa de fuga das chamas ou uma intoxicação.

Número de vítimas pode subir

O número de vítimas mortais pode ainda estar longe de estar fechado, já que há aldeias junto da estrada nacional 236 onde as autoridades ainda estão a fazer o levantamento dos danos. A Polícia Judiciária ainda está a fazer “o levantamento e recolha de vestígios, relativamente a corpos dispersos por vários locais. Não está concluído esse processo”, disse à RTP o Diretor da Polícia Científica, Carlos Farinha.

O responsável da PJ disse que os 30 corpos das vítimas encontradas até agora naquela zona — pessoas que ficaram encurraladas pelo fogo na estrada nacional — vão ser transladados por um camião da Proteção Civil para o gabinete de medicina legal, em Coimbra, para serem autopsiados.