Em pouco tempo, tudo muda. Há um mês, PSD e CDS garantiam que eram determinantemente contra a antecipação de eleições legislativas. Hoje, perante o caso Sócrates, a certeza não é tão grande. Na maioria, os comentários são irónicos quando se recorda a hipótese de as eleições previstas para outubro poderem ser mais cedo. Os partidos fecharam a porta a essa possibilidade e o Presidente da República veio dizer que nada fará para mudar os calendários, para mais havendo oposição à ideia.
“O bom, afinal, era as eleições serem já”, afirmou ao Observador fonte social-democrata, considerando que um ano ainda é muito tempo. Entre os dirigentes e deputados ouvidos pelo Observador, as opiniões dividem-se entre os que acham que esta notícia pode trazer vantagem eleitoral ao PSD e ao CDS e os que consideram que o secretário-geral socialista António Costa reagiu bem à detenção de Sócrates e que até outubro do próximo ano será possível a novo líder afirmar-se, livrando-se também de alguns socráticos. Luís Marques Mendes, aliás, veio logo chamar a atenção para isso no comentário semanal, no sábado, na SIC.
A ordem no PSD e no CDS é não misturar um caso de justiça com a política. Os dois partidos que, com a ascensão de António Costa ao poder socialista, reforçaram o ataque político à herança de Sócrates vão ter agora mais cautela ao invocar o nome do ex-primeiro-ministro.
Isso não quer dizer, contudo, que vão parar. “O que nós criticamos são as políticas, o endividamento, a bancarrota em que colocou o país, o despesismo dos investimentos públicos e isso vamos continuar a fazer”, afirmou ao Observador fonte do PSD.
A palavra de ordem é contenção. O vice-presidente e porta-voz do PSD, Marco António Costa, limitou-se a dizer no sábado que o partido não irá fazer “qualquer comentário político” sobre a detenção de José Sócrates por se tratar de um “tema de justiça”. “Aguardamos serenamente que as instituições judiciais prestem os esclarecimentos que julguem convenientes em função do desenrolar dos acontecimentos”, disse. Já o CDS fez uma nota à imprensa, declarando que não fará comentários “sobre investigações em curso” porque respeita a “independência” do poder judicial. “À justiça o que é trabalho da justiça, à política o que é trabalho da política”, defendeu.
“As pessoas também não precisam que seja a maioria a falar no caso judicial de Sócrates. Não é preciso”, afirmou ao Observador um deputado do PSD, referindo-se às notícias sobre o caso que enchem nos últimos dias os noticiários televisivos e a imprensa.
Do lado do CDS, não é expetável que Paulo Portas volte a referir-se a Sócrates como a “assombração” como fez no debate de encerramento da discussão na generalidade do Orçamento do Estado. O tom foi duro e chocou na altura os deputados do PS que reagiram sonoramente.
O CDS tem tido mais facilidade em fazer a ponte para o maior partido da oposição. Essa é mais uma razão para a cautela dos centristas. De resto, no passado, temas polémicos relacionados com a justiça ou a vida pessoal de Sócrates, como a licenciatura, nunca eram envolvidos na crítica política do CDS – um partido pequeno gerido com grande controlo por parte de Portas.
PSD e CDS não querem correr o risco de uma eventual referência crítica a Sócrates ser vista como utilização de um caso de justiça para ataque político. Passos Coelho, que no fim de semana declarou que “os políticos não são todos iguais”, sentiu isso na pele. A frase não era a propósito do ex-secretário-geral socialista, mas sobre a atitude dos políticos em situações que enfrentam problemas que têm que ser resolvidos. Mas naquele dia rapidamente foi entendido como crítica a Sócrates. Passos veio logo depois dizer aos jornalistas que respeita a separação entre poder político ou judicial mas a primeira frase já tinha entrado para a história dos dias frenéticos da detenção de Sócrates.