Coentrão nem na convocatória estava. Mas jogaria a titular. O bluff não resultaria em mais do que um empate a zero. Isto no primeiro dos jogos com o Steaua. Na segundo, Jesus fez um bluff e meio. Primeiro, avisou na antevisão da ida à Roménia que o Sporting sofreria a bem sofrer na deslocação à National Arena. E garantiria: “Vamos ser apertados no plano defensivo, vamos ter um bloco mais baixo”. Ora, “aperto” e “bloco baixo” foi tudo o que se não viu ao Sporting no começo do jogo: a pressão é altíssima e intensa, a bola está quase sempre do lado dos verde-e-brancos — e do Steaua nem sinal. Esse foi o primeiro bluff de Jesus. O “meio” foi a entrada de Doumbia para o lugar de Dost — até aqui o costa-marfinense só havia disputado 55 minutos, nunca entrando como titular. E a aposta resultou logo aos 13 minutos.

Tudo começa num lançamento à direita, Piccini fez com a bola o que treinador gosta, lançou-a looooonga e para a área, o matulão Mathieu desviou-a de cabeça para trás, Acuña tentou rematar de seguida, não conseguiu, mas assistiria (é a terceira assistência em cinco jogos) Doumbia, que quando se viu à frente da baliza e só com o guarda-redes Florin Nita pela frente não hesitou: desviaria para o primeiro golo da noite — e da eliminatória com os romenos.

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Por falar em eliminatórias e idas à Roménia: o Sporting perdeu sempre — com o Timisoara (1990), o Dinamo de Bucareste (no ano seguinte) e o Vaslui (2011). Mais: foi eliminado em cinco dos seis ‘play-off’ em que participou. Uma vitória em Bucareste (ou um empate com golos) garantiria, para lá de sacudir o enguiço, 14,7 milhões de euros aos portugueses: a presença na fase de grupos da Liga dos Campeões vale 12,7 milhões de euros; os restantes dois milhões são referentes ao prémio pela passagem do playoff. Mas tudo se complicou aos 22 minutos e o tal “enguiço” romeno voltou a pairar.

Coates erra um passe a meio-campo, a bola chega até Alibec, o Steaua sai veloz em contra-ataque, o avançado romeno dribla Mathieu (não foi só Coates; o francês também já tinha errado cinco passes até aqui e a defesa do Sporting tremia) como quer e remata cruzado, Patrício ainda defende a custo, mas a bola sobraria para Júnior Maranhão (o lateral esquerdo surge isolado na pequena área) que fez a recarga para o empate.

O Steaua ficou moralizado com o golo do empate (verdade seja dita: marcou no único remate com perigo que fez…) e estava a “carregar” sobre o Sporting. Agora sim: “aperto” e “bloco baixo” como Jesus previra horas antes.

É então que surge Bruno Fernandes para não mais desaparecer: onde a bola estava, estava ele; onde punha os olhos, punha lá o passe, curto ou longo, sempre preciso — na força como no tempo. Isolaria Doumbia aos 32 minutos, o costa-marfinense viu-se frente a frente com o guarda-redes Florin Nita, mas quis ser mais veloz do que a própria bola, adiantou-a demasiado e o romeno saiu-lhe aos pés, segurando-a.

Se a pressão do Sporting foi alta e intensa no começo do jogo, depois do intervalo foi o Steaua a fazê-la — ver dois/três passes acertados (e de seguida) dos portugueses é coisa rara. Então, surge Bruno, a resolver tudo com apenas um. O passe a rasgar entre o central Ionut Larie e lateral direito Gabriel Enache, caíndo nas costas de ambos, é meio golo — o outro “meio” foi Acunã que o fez: aguentou o encosto de Enchae e, à saída do guarda-redes Florin Nita, contornou-o e rematou para a baliza sem vivalma. O relógio no pulso de turco Cüneyt Çakir apontava uma hora de jogo.

Voltaria a assistir Bruno somente quatro minutos depois. Mas a assistência (viu desmarcado um de verde-e-branco à direita e pôs lá a bola) não o seria se Gelson não tivesse feito o que fez: acelerou, driblou o central Momcilovic e rematou cruzado, um remate forte (e ainda de fora da área) que passou entre a luva direita de Nita e o poste esquerdo do Steaua.

Jesus deitou a tranca à porta — e à eliminatória: saiu Adrien e entrou Petrovic. Mas Bruno Fernandes queria mais do que só defender. Queria contra-atacar. Não ele. Ele não é correrias e mais correrias; com ele o que corre é a bola. Agora de canhota e aos 75 minutos, voltou a descobrir um dos seus lá longe, na direita, a bola chegou a Gelson, este recebeu-a, rodopiou, sprintou, assistiria Dost na pequena área e o ponta-de-lança só teve que encostar para o quatro golo — curiosamente, também o seu quarto da temporada. Mas o holandês não é apenas de “encostar”, diga-se.

Entrou para o lugar de Doumbia aos 59 minutos. Até ao momento do golo (16 minutos, portanto) ganhou cinco duelos em sete que disputou; o costa-marfinense perdeu doze… em doze.

Era tudo? No estádio sim: não se escutava uma mosca. Sobre o relvado não. A bola cai em quem mais se não Bruno Fernandes à esquerda, este espera, espera um pouco mais, Coentrão surge por fim para receber o passe de Bruno, acelera de seguida para a área e deixa Enache caído no relvado, cruzou para o poste contrário, Dost remataria, Florin Nita defendeu à primeira mas não defenderia a recarga (à boca da baliza) de Battaglia. Depois do 5-0 em Guimarães, Sporting volta a dar cinco. E garante a sua segunda presença consecutiva do Sporting na Liga dos Campeões, a terceira nas últimas quatro épocas e oitava na história dos de Alvalade.

Bruno não podia não escutar o hino que todos trauteamos mas (quase) ninguém sabe:

Die meister
Die besten
Les grandes équipes
The champions