Quando há poucas novidades para anunciar, como foi o caso do ano passado (iPhone 7), convém limitar as fugas de informação ao mínimo possível — e incluir um espetáculo musical de uma cantora da moda. Em contraste, quando há muitos produtos e novas funcionalidades para apresentar, como foi a apresentação do iPhone X, esta terça-feira, é inteligente deixar escapar as principais novidades nas semanas anteriores. Foi isso que aconteceu — e nem foi preciso música, a estrela foi o falecido fundador da Apple Steve Jobs. Eis as principais novidades — justificam o facto de o novo iPhone ser tão caro (até 1.359 euros em Portugal)?

Reveja aqui em vídeo os dois momentos da apresentação em que foram mostradas imagens de Lisboa:

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Reconhecimento facial em três dimensões

“Steve ficaria orgulhoso do que anunciámos hoje”, concluiu o seu sucessor, Tim Cook, na primeira grande apresentação de produto a acontecer no novo campus da Apple, na Califórnia. Num aspeto, pelo menos, a Apple arriscou — e havia rumores de que não teria coragem para o fazer. No novo modelo, o mais caro, acabou-se o desbloquear do telemóvel através da impressão digital, uma tecnologia que várias marcas aperfeiçoaram nos últimos anos, ao ponto de ser um risco substitui-la por algo novo: reconhecimento facial em 3D.

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Alguns rumores diziam que a Apple, mesmo que introduzisse o reconhecimento facial, iria manter o Touch ID como alternativa. O botão home físico desapareceu — o iPhone X é quase todo ecrã — mas isso não era um problema: podia recorrer-se ao botão lateral on-off para analisar a impressão digital. Nada disso: a impressão digital morreu, viva o reconhecimento facial. É um risco, porque se o reconhecimento facial não for tão rápido quanto a leitura de impressão digital, a piada inicial vai substituir-se rapidamente por frustração.

Mas a Apple garante que o processo é rapidíssimo, basta olhar para o telefone para ele “acordar” e nos reconhecer como legítimos donos (esta versão não inclui uma cauda para abanar de felicidade, mas nunca se sabe — talvez no próximo ano). A inovação é que o iPhone X — lê-se iPhone ten, ou dez — usa reconhecimento facial em 3D e não apenas em duas dimensões (como a concorrência), o que torna virtualmente impossível que alguém usurpe o telemóvel de outra pessoa — uma hipótese num milhão, diz a Apple. “Só se tivermos um irmão gémeo malévolo, aí convém ter um código numérico”, ironizou a Apple.

O reconhecimento facial — chamado Face ID — funciona de dia e de noite, usando infravermelhos, a câmara frontal e outros sensores. Funciona mesmo que não tenha feito a barba ou que tenha colocado um chapéu. E, não, o Face ID não funciona com os olhos fechados: precaveu-se a possibilidade de alguém entrar num telemóvel alheio simplesmente apontando-o ao dono adormecido.

Veja neste vídeo algumas das novidades. E o momento embaraçoso na apresentação, quando o reconhecimento facial falhou:

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Adeus, margens negras. Cada milímetro da frente é imagem

De resto, como se esperava, o iPhone aproveita cada milímetro da frente, exceção feita à fina tira (cortada) onde estão a câmara frontal e a coluna de som. Atrás, as duas câmaras estão, agora, dispostas na vertical — ao deitar o smartphone, apesar de tudo a maneira mais comum de tirar fotografias, as duas lentes ficam na horizontal. O chassis é feito de vidro e aço inoxidável, como o saudoso iPhone 4/4s.

Porque é que OLED é melhor do que LCD

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A tecnologia OLED consegue ter melhor eficiência energética, cores mais vívidas e negros mais profundos. Ao passo que os LCD utilizam milhares de cristais iluminados por uma luz (backlight), na tecnologia OLED os cristais são substituídos por díodos que, eles próprios emitem luz. Na prática, o que isto significa é que quando uma imagem é preta, é mesmo preta — o díodo está desligado (assim se explica parte da maior eficiência energética). Nos LCD, na realidade, não há pretos, há cinzentos muito escuros.

Noutra confirmação de rumor, a Apple colocou tecnologia OLED no ecrã do iPhone X (nos outros dois modelos anunciados, o 8 e o 8S, mantém-se o LCD) — e a Apple garante que só avançou nesse sentido agora porque só agora tem confiança plena nessa tecnologia. Uma “verdade alternativa” seria que a Apple não conseguisse que o seu fornecedor de ecrãs OLED, a rival Samsung, produza ecrãs na quantidade necessária e a um preço razoável. Assim sendo, para já, só o iPhone premium tem esta tecnologia, a que a Apple chama Super Retina Display.

O iPhone X é mais baixo do que o 7 Plus (ou o agora anunciado 8 Plus), mas como todo o ecrã é aproveitado as dimensões úteis são 5,8 polegadas. As notícias dizem que a Apple paga mais de 130 dólares por cada um destes ecrãs OLED, à rival Samsung, que domina este mercado. Essa é outra (grande razão) para o iPhone X poder chegar aos 1.359 euros em Portugal, na versão 256 GB.

Lisboa a marcar o lançamento dos iPhone 8 e 8 Plus. “Este é o belo Portugal”

Finalmente, o carregamento sem fios – mas é acessório

Há vários anos que os dispositivos Android entraram na tecnologia do carregamento sem fios, mas só a 12 de setembro de 2017 a Apple entrou, finalmente, nesta área. Mas vai ter de gastar mais alguns tostões (ainda não se sabe se são muitos ou imensos) para comprar o pequeno tapete de indução a que se vai chamar AirPower. Em alternativa, porque o iPhone X vai ter o padrão Qi, será compatível com os tapetes de outras marcas de acessórios, como a Belkin.

Vai poder carregar não só o iPhone (só o X) mas, também, o Apple Watch e também os auriculares sem fios (AirPods), desde que estejam dentro da caixinha que virá com a próxima edição.

O AirPower só chega em 2018

A Apple garantiu, como é habitual, que os novos modelos vão ter mais duas horas de bateria do que os modelos atuais.

Realidade Aumentada e Animojis. A nova aposta da Apple

Com três novos modelos e alguns Animojis, passou um pouco despercebida a afirmação de Phil Schiller, vice-presidente de Marketing da Apple: “Este é o primeiro iPhone criado para Realidade Aumentada [RA], e o primeiro smartphone também”.

A realidade virtual começou a ganhar andamento e a indústria tecnológica virou-se, aos poucos, para esta nova funcionalidade. Lembra-se dos pokémons em todo o sítio que só se via com o telemóvel? É o mesmo princípio, mas bem mais real.

Com recurso à dupla câmara em dois dos três novos modelos, a Apple anunciou também o primeiro jogo multijogador competitivo para RA, The Machines. Para quem jogava, era como se um mini cenário de guerra aparecesse sobre a mesa. E é apenas o início. Até Peter Jackson, realizador do Senhor dos Anéis, está a preparar jogos para RA no iPhone. Uma app do IKEA para ver como encaixa um móvel numa divisão, ou pôr os mais diversos objetos em cima de qualquer superfície, passa a ser possível nos iPhone.

A Apple foi também “mais longe” com os Animoji, ao adicionar na câmara frontal funcionalidades de reconhecimento facial em tempo real. Fazendo uso do mapeamento do rosto, a câmara das selfies permite ativar os novos bonecos, que não são mais que emojis animados capazes de reproduzir os movimentos do rosto do utilizador.

Para geeks. O que está dentro do iPhone X (e do 8/8s)

A grande novidade do novo iPhone X é o ecrã OLED Super Retina HD com 5,8 polegadas, mas há outras características que importa reter. A memória interna é de 64 ou 256 GB, opções comuns aos três modelos, tal como o processador, o A11 Bionic.

O X vai estar disponível em cinzento sideral e prateado, ao contrário dos 8, que têm mais uma oferta: o dourado. Os três modelos vão ser ainda mais resistentes à água e ao pó do que as versões anteriores — a outra diferença interna é a definição das câmaras.

A dupla câmara do iPhone X é ligeiramente diferente da do iPhone 8 Plus. Ambas têm 12 MP mas no X a posição é vertical, a grande angular tem uma abertura de ƒ/1,8 e a teleobjetiva uma abertura de ƒ/2,4 — contra os ƒ/2,8 do 8 Plus. Ambos têm zoom ótico 2 vezes e digital até 10 vezes. A câmara principal dos novos iPhone gravam vídeo a 4K e em câmara lenta, a 1080p, a 120 ou 240 fps, com estabilizador ótico de imagem.

A câmara frontal tem 7 MP com abertura de f2,2 e grava vídeo a 1080p (Full HD) e equipa os três modelos, a grande diferença do 8 para os X é o facto desta tirar partido do sistema de reconhecimento facial.

Para o fim, o preço. Pouco depois do final da keynote, o site da Apple em Portugal revelou os valores para o nosso mercado.

iPhone X

1.179€ o modelo com 64 GB

1.359€ o modelo com 256 GB

iPhone 8 Plus

939€ na versão com 64 GB

1.119€ na versão com 256 GB

iPhone 8

829€ na versão com 64 GB

1.009€ na versão com 256 GB

O “bónus” Apple Watch. Agora, sim, pode deixar de ser um iFlop

Uma novidade que poderá passar relativamente despercebida, mas que arrisca revelar-se bem importante, é o novo Apple Watch. Finalmente, à terceira edição, a Apple fez do relógio inteligente um produto que poderá interessar a mais do que aos fanáticos do fitness. O Apple Watch vai ter ligação à internet e vai poder fazer chamadas ou mandar mensagens com ele, em qualquer lado, mesmo que o iPhone esteja a milhas.

No fundo, agora, sim, pode considerar-se um smartphone em ponto pequeno e, no limite, até se pode prescindir de ter um telemóvel, de todo. E porque é que o Apple Watch não tinha suporte LTE/SIM há mais tempo? Porque só agora os engenheiros conseguiram encaixar todos os componentes num dispositivo do mesmo tamanho das edições anteriores, sem fazer com que o Apple Watch se transformasse em “algo como uma pulseira eletrónica para quem está em prisão domiciliária”.

Tim Cook, o presidente da Apple, reconheceu implicitamente que a primeira versão do relógio inteligente não foi bem sucedida — aqui, no Observador, chamámos-lhe iFlop. A partir da segunda versão, que já acrescentou a funcionalidade GPS, o interesse dos consumidores aumentou, garantiu Tim Cook. Mas apesar de ser mais caro (399 dólares nos EUA), quem comprou a primeira ou a segunda versão (que é descontinuada) não deixará de se sentir… (vamos ser simpáticos) impelido a comprar a nova versão.