O prémio Nobel da economia de 2008, Paul Krugman, avisou, nesta terça-feira, os banqueiros centrais da zona euro que é muito difícil sair de um período de baixa inflação ou deflação assim que se entra nele e que por isso têm de ser tomadas medidas para evitar cair nessa armadilha.

Num discurso para uma audiência de banqueiros centrais, no Fórum do Banco Central Europeu que termina hoje em Sintra, o economista norte-americano começou por defender que o objetivo de manter a inflação abaixo dos 2% deve ser mudado para permitir que os preços cresçam mais da forma a permitir melhorias na taxa de juro real.

Numa altura em que o BCE alerta para a existência de pressões deflacionárias e em que se especula como a instituição liderada por Mario Drahi as vai combater, Krugman diz que os banqueiros centrais ainda são muito conservadores.

“Se falarem com banqueiros centrais agora, veem que há muita relutância em aumentar a meta de inflação”, afirmou, defendendo que 2% de inflação “é uma taxa muito baixa”, até porque essa ideia foi concebida para tempos normais, muito diferentes da atual situação na zona euro.

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Para Paul Krugman, muito raramente uma economia sofre um período de deflação – como se vê no caso do Japão -, mas atravessa um período longo de baixa inflação, até porque os salários são rígidos em termos nominais. Por isso, é fácil para os responsáveis convencerem-se de que não existe qualquer problema, já que não veem os preços a caírem de forma pronunciada em todos os setores.

O maior problema é cair nesse ciclo de baixa inflação ou deflação. “É muito difícil sair de um regime de baixa inflação ou deflação assim que se entra nele”, considerou o economista. O melhor é evitar chegar a esse ponto, acrescentou, frisando, perante a audiência de banqueiros centrais, que não acredita na existência de banqueiros centrais ousados.

“Gosto de acreditar em banqueiros centrais ousados como algo que teremos quando precisarmos, mas honestamente não consigo. Por isso, a melhor maneira é evitar chegar a essa situação”, disse, dando mais uma vez o exemplo do Japão para combater esta ameaça, como exemplo do que pode acontecer à Europa.

“Os japoneses seguiram os nossos conselhos 15 anos depois”, disse, em referência à política de flexibilização monetária colocada em prática mais recentemente, depois de vários anos que o país viveu com deflação.