Foram mais de 10 horas de julgamento para decidir se Lula da Silva, antigo presidente brasileiro, ia ver concedido o pedido de habeas corpus para não cumprir na prisão uma pena de 12 anos por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No fim, numa votação renhida, que acabou com seis votos contra o pedido de habeas corpus contra cinco a favor, Luis Inácio Lula da Silva ficou com caminho aberto para a cadeia. No entanto, até se chegar ao resultado, dominou o suspense.

Durante essa longa tarde, que se estendeu pela noite, conta a BBC Brasil, o ex-presidente acompanhou a sessão do Supremo Tribunal Federal a partir do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, onde chegou às 11h25 (hora de Brasília). Centenas aguardavam o antigo líder do Partido dos Trabalhadores, mas Lula da Silva foi diretamente para o segundo andar, sem cumprimentar os apoiantes. As janelas do edifício estavam forradas, impedindo as câmaras de ver os passos de Lula.

Apoiantes de Lula da Silva seguiram o julgamento até ao fim (VICTORIA LIMA/AFP/Getty Images)

Durante a primeira hora no local onde seguiria o início da sessão, Lula reuniu-se com líderes de sindicatos e políticos. Passada quase uma hora, Dilma Roussef, a antiga presidente do Brasil — que  sucedeu a Lula e foi alvo de ‘impeachment’ –, chegou ao sindicato. Luiz Marinho, membro do PT, falou aos apoiantes: “Temos a confiança de que o Supremo vai ser o guardião da Constituição”, disse.

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Por volta da uma da tarde, Lula almoçou. A imprensa brasileira detalha a refeição: “arroz, feijão e bife”. Como companhia, contou com Dilma, Luiz Marinho, e outros políticos. Alguns apoiantes almoçam no restaurante do sindicato, outros levaram farnel e comeram no salão principal. Durante o almoço houve tempo para falar do golo de pontapé de bicicleta, de Cristiano Ronaldo, conta o mesmo meio.

A sessão começou com sete minutos de atraso, às 14h07. O almoço de Lula ainda decorria. Eram 14h30 quando uma banda que tocava entre os apoiantes parou de tocar para ver a sessão: “Lula guerreiro, do povo brasileiro”, entoavam. Primeiro votou o juiz Edson Fachin, contra o habeas corpus. Depois, após uma intervenção de uma hora e 20 minutos, foi a vez de Gilmar Mendes votar. Voto a favor. Resultado: 1-1. A banda voltou a tocar. Ouviu-se: “Lula, presente, eterno presidente”.

Houve um pequeno intervalo e os apoiantes aproveitaram para declamar poesia. Lula estava “sereno”, disse Luiz Marinho, tendo ido falar novamente com os apoiantes. O antigo presidente continuava a assistir numa sala a votação.

O juiz Alexandre Moraes votou contra, eram 16h37. No Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, começavam a ser distribuídos panfletos para levar o apoio de a Lula para as ruas. Passado uma hora, foi a vez do juiz Luís Roberto Barroso votar. Também foi um voto contra. Neste momento, Lula deixou de acompanhar o julgamento e vai com Dilma Russef e outros políticos para uma sala sem televisão. Um porta-voz disse: “Ele não parece estar muito interessado, nos votos individuais. Quer saber do resultado final”.

Às 18h40 é dito aos apoiantes que vai ser servido um jantar. “Vamos precisar de todos vocês aqui. Quer o resultado seja bom ou ruim”, conta a BBC. Não foi suficiente, vários apoiantes já saíam do local. A juiz Rosa Weber votou contra o habeas corpus. O silêncio mandava no Sindicato dos Metalúrgicos. Lula da Silva continua na sala sem televisão com Dilma e outros amigos políticos.

Discurso da juíza Rosa Weber é ouvido por quem segue o julgamento de habeas corpus de Lula da Silva (Victor Moriyama/Getty Images)

Chegaram as oito da noite e era a vez do jantar. Se o almoço teve arroz e feijão, o jantar foi mais prático: uma pizza e Coca-Cola foram levados para a sala onde estava Lula, que continuava sem sair para cumprimentar os apoiantes.

Faltava meia-hora para a meia-noite quando fogo de artifício foi lançado perto do local onde estava Lula. Faltavam dois votos, mas o desfecho já era previsível. Neste momento o antigo presidente do Brasil vai para a garagem e sai de carro. Não falou como os apoiantes. Um amigo disse: “Ele estava tranquilo”.