O ex-diretor do FBI, James Comey, deu a sua primeira grande entrevista desde que foi despedido pelo presidente norte-americano à ABC News. Comey acusou Donald Trump de ser “moralmente incapaz de ser presidente” e disse que há “alguma evidência” de que Trump tenha obstruído a justiça. Houve ainda margem para falar sobre a interferência russa nas presidenciais de 2016.

Foi a sua primeira grande entrevista e James Comey não se poupou nas palavras sobre Trump. Ao jornalista, disse que alguém “que fala sobre as mulheres como se fossem pedaços de carne e as trata como tal, [alguém] que mente, constantemente, sobre grandes e pequenos assuntos” não é adequado para ser presidente dos Estados Unidos. Disse também que não considera que Trump seja incapaz de ser presidente por ser “mentalmente incapaz”, mas sim porque crê que é “moralmente incapaz de ser presidente”.

O nosso presidente deve incutir respeito e seguir os valores que estão no centro do país. O mais importante é a verdade. Este presidente não é capaz de fazer isso”, afirmou Comy.

Comey comparou Donald Trump aos chefes da máfia: uma pessoa que se rodeia de pessoas que sejam leais a ele. Não foi por acaso que foi isso que Trump lhe pediu quando Comey começou a investigar Michael Flynn e o pressionou a desistir. “Os juramentos de lealdade, o chefe como o centro dominante de tudo, é tudo sobre como tu serves o chefe, sobre quais são os interesses do chefe”, afirmou.

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Quando questionado pelo jornalista sobre qual a sua opinião sobre uma possível demissão de Robert Mueller — que está a investigar a interferência russa nas eleições presidenciais de 2016 –, o ex-diretor do FBI disse que “seria o mais sério ataque do presidente ao Estado de Direito” e “uma vergonha eterna”. Afirmou ainda que “é possível” que os russos tenham informação que possa comprometer aquele que é um dos homens mais poderosos do mundo — “não sei se é sobre um negócio num quarto de hotel em Moscovo ou sobre finanças ou qualquer outra coisa”, disse.

O ex-diretor do FBI afirmou ainda que Trump “vai manchar todos aqueles que o rodeiam”, mas considera que um impeachment não será benéfico porque “deixaria os americanos em problemas”. Ao invés disso, disse, é algo que os americanos “devem fazer diretamente nas urnas”.

Na entrevista, que acontece na sequência da apresentação do novo livro de James Comey, intitulado “A Higher Loyalty” (“Uma Lealdade Maior”, em português), o autor diz que compara Donald Trump “a um incêndio florestal. Vai causar um tremendo estrago. Vai danificar normas importantes. Mas um incêndio florestal dá às coisas saudáveis uma oportunidade para crescerem, que não teriam tido antes”.

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Recorde-se que o presidente norte-americano despediu James Comey em maio de 2017, numa altura em que o FBI admitiu estar a investigar os alegados contactos mantidos entre os EUA  e a Rússia durante a campanha presidencial de 2016.