Cada um à sua maneira, mas todos contra o populismo. Angela Merkel, François Hollande e Giorgio Napolitano estão preocupados com o populismo emergente dos movimentos radicais e Cavaco Silva preocupado com o populismo contra os partidos políticos. A convergência nas mensagens de Ano Novo destes líderes foram no sentido de atacar as facilidades nos discursos de crítica e também de lembrar as desafios contra uma estagnação económica da Europa.

“Eles têm preconceito, frieza e até ódio nos corações”, foi desta forma que a chanceler alemã caracterizou os líderes dos movimentos radicais, Pegida (Europeus Patrióticos contra a Islamização do Ocidente), na mensagem de Ano Novo, ao mesmo tempo que pedia aos alemães para não se juntarem às ações semanais deste movimento onde se movimentam neonazis e radicais da extrema-direita. Merkel dedicou boa parte do discurso a atacar estes movimentos populistas e a defender a imigração.

Ao atacar o populismo deste movimento, a chanceler alemã convocou as memórias dos alemães dizendo que o que estão a tentar fazer não é reproduzir as manifestações semanais da Alemanha de Leste do final dos anos 80, mas sim a incitar ao ódio. “Hoje, muitas pessoas gritam de novo às segundas-feiras ‘Nós somos o povo’. Mas na verdade elas querem dizer: ‘Vocês não pertencem a este povo por causa da cor da vossa pele ou da vossa religião’”.

A mensagem não foi a única a dar destaque aos movimentos de direita. Também o presidente francês, François Hollande, falou das “ameaças que crescem” e da luta necessária contra “o racismo e antissemitismo”, luta que é para o socialista “uma causa nacional”. A palavra “populismo” entrou no discurso do francês também pelo lado das ameaças da direita e sobretudo do avanço da Frente Nacional de Marine Le Pen. Garantiu Hollande que travará um combate “até ao fim contra os conservadorismos, e são numerosos, contra os populismos, e são perigosos”.

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“Diante das ameaças que crescem, que se chama terrorismo, comunitarismo, fundamentalismo, não é ao dividirem-nos, ao estigmatizar uma religião ou cedendo ao medo que nos protegemos”, terminou.

Aos 82 anos, Giorgio Napolitano, o Presidente italiano que está no fim do seu mandato, aproveitou a mensagem de Ano Novo para confirmar que se iria demitir, mas também para deixar um aviso aos movimentos populistas que defendem, por exemplo, a saída do euro. Em Itália não há, neste momento, nenhum partido importante de direita ou centro-direita que defenda o euro. Matteo Salvini, o líder da Liga Norte que é também o segundo político mais popular do país, costuma tratar o euro como “moeda criminosa”.

Por cá, o Presidente da República também falou no ataque aos populismos, mas num tom menos dramático e com um alvo diferente. Os movimentos extremistas não preocupam Cavaco, mas preocupa-o, isso sim, a desconfiança e o afastamento entre os portugueses e os políticos e, por isso, deixou a ideia na mensagem de Ano Novo que leu no primeiro dia do ano:

“Devemos recusar o populismo e fazer um esforço de pedagogia democrática, tendo presente que os partidos políticos são essenciais para a qualidade da democracia e para a expressão do pluralismo de opinião”.

Esta convergência nas mensagens de vários líderes acontece numa altura em que a Grécia se debate com mais uma crise interna, com a marcação de eleições antecipadas.