Catarina Martins criticou esta segunda-feira a “indefinição” do PS e a sua “incapacidade” de fazer compromissos sobre políticas concretas. Falando aos jornalistas no final de um encontro formal entre socialistas e bloquistas, a porta-voz do Bloco de Esquerda afirmou que não acredita que o PS se vá “definir” até às eleições legislativas e alertou para os “custos” que esses “silêncios” podem ter.

“Julgo que se o PS não se definiu até agora é porque não se quer definir”, afirmou a coordenadora bloquista depois de António Costa ter sublinhado aos jornalistas que não excluía ninguém das conversações, apesar de um possível entendimento pós-eleitoral entre PS e BE não ter estado em cima da mesa na reunião desta manhã.

Para Catarina Martins os “silêncios têm custos” e, nessa lógica, o silêncio em que diz que o PS mergulhou “preocupa” o Bloco de Esquerda. “Ao longo de mais de 30 anos em Portugal, o que os silêncios sobre compromissos significaram foi que, um dia depois das eleições, aumentaram-se impostos, cortaram-se salários e privatizou-se mais”, disse a coordenadora do Bloco de Esquerda apontando o dedo ao PS por fugir de prometer medidas concretas.

“Não podemos entrar num ano de eleições com cheques em branco, é preciso compromissos claros sobre a recuperação de rendimento, a não privatização de empresas públicas [como a TAP] e uma nova voz na Europa”, disse.

Antes, no entanto, António Costa, que esteve reunido com a delegação bloquista durante cerca de uma hora, tinha sublinhado a ideia de que o PS “não exclui ninguém do diálogo e da participação política”, ainda que um entendimento concreto com o BE num cenário pós-eleitoral não tenha estado em cima da mesa, disse. Ainda assim, Costa fez questão de sublinhar a ideia de que “em democracia todos os partidos contam”, rejeitando dessa forma o conceito de “arco da governação”, que por definição exclui à partida as forças políticas à esquerda do PS.

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Acompanhado de Eduardo Ferro Rodrigues, Carlos César e Porfírio Silva, António Costa limitou-se a dizer que há entre os dois partidos (PS e BE) “diferenças e convergências”, pelo que “só o futuro dirá” se essas convergências chegam para haver um entendimento.

Para já, o Bloco de Esquerda fecha a porta dizendo que o PS não se compromete a fazer “mudanças concretas na política concreta”. “É preciso que a TAP permaneça pública, e o PS não é capaz de dizer nada sobre isso; é preciso acabar com a sobretaxa de IRS e o PS não é capaz de dizer nada sobre isso”, declarou Catarina Martins, que esteve no encontro com os socialistas acompanhada de três outros coordenadores do BE: Pedro Filipe Soares, Pedro Soares e Joana Mortágua.

Antes de chegar ao encontro com a delegação do Bloco de Esquerda, António Costa já tinha estado na sede do PSD, inaugurando a ronda de conversações com os partidos e parceiros sociais que o PS tem agendada para esta semana. O primeiro dia ficou reservado para o PSD e o Bloco de Esquerda, em duas reuniões contra-relógio marcadas para as 11h e para o 12h, respetivamente.

Na S. Caetano à Lapa, Costa tinha criticado a crispação que tem havido nos últimos anos entre os dois maiores partidos, mas também o porta-voz dos sociais-democratas, à semelhança de Catarina Martins, apontou o dedo aos socialistas. Disse Marco António Costa que o PSD propôs uma plataforma de diálogo permanente com os socialistas para discutir temas concretos como a segurança social ou a reforma do Estado, mas que o líder do PS recusou qualquer entendimento antes das eleições.