El Español, L’Équipe, Sport, Marca. Houve mais, muitos mais, mas a quantidade de pushes de jornais que começaram a cair nos telefones à meia hora da final da Liga dos Campeões que não tinha nem golos, nem vermelhos nem sequer uma grande quantidade de oportunidades até ao momento adivinhavam aquele que seria o momento do jogo: agarrado ao ombro, lavado em lágrimas, confortado por companheiros de equipa e adversários, Salah teve de abandonar o relvado. Saiu diretamente para os balneários. Ele e a fé do Liverpool na surpresa. Ao contrário do que aconteceu por exemplo com Portugal no Campeonato da Europa de 2016, os reds perderam-se sem a sua referência em campo, acusaram em demasiada a ausência da sua estrela e Mané não conseguiu ser Éder.

Real vence Liverpool por 3-1 e é tricampeão europeu na noite de sonho de Bale (e de terror de Karius)

Para o espetáculo, aquele espetáculo que toda a gente gosta de ver de forma tranquila no último suspiro da época a nível de competições de clubes, foi uma machadada; para o Liverpool, aquela equipa revelação que chegou onde muitos pensavam ser impossível, foi a sentença; para o Real Madrid, aquele conjunto de tal forma habituado a estes grandes momentos que repetiu o onze inicial da final do ano passado com a Juventus, foi o início da história.

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No entanto, o início de encontro teve várias imagens e nenhuma foi essa. Teve a imagem de um Liverpool com grande capacidade para entrar no último terço do Real, sempre em velocidade e com trocas constantes de posições que deixavam bem à mostra o principal calcanhar de Aquiles dos espanhóis (as dificuldades no jogo sem bola perante equipas com adversários rápidos e bons de bola na frente). Teve a imagem de um Real com dificuldades inesperadas na construção de jogo face às condicionantes que o Liverpool colocava nessa primeira fase onde Kroos e Modric fazem o que querem da bola. Teve a imagem de Ronaldo a rematar perto da trave aos 15′, após um passe de Isco a rasgar na direita. Teve a imagem de Arnold a obrigar Navas a uma defesa apertada, num dos poucos remates que não bateu na muralha blanca (23′); Teve a imagem de Salah a chorar. E mudou.

A partir do momento em que o egípcio saiu, o Liverpool desapareceu e foi o Real a assumir o papel principal: num lance que começa com um cabeceamento de Ronaldo para defesa de Karius após cruzamento de Isco, Benzema marcou na recarga mas o golo foi anulado; depois, Nacho, lateral que substituiu Carvajal (que pode ter um problema impeditivo de estar no Mundial), surgiu sozinho ao segundo poste e desviou ao lado; por fim, Benzema tentou também o tiro de meia distância e a bola saiu perto da baliza dos ingleses.

O intervalo chegou com as lágrimas de Salah e Carvajal como imagem de marca num jogo sem grandes chances de golo ou oportunidades. Nada a ver com o que se seguiria nos derradeiros 45 minutos da partida.

Logo a abrir, Lallana, o substituto de Salah que ficou conhecido esta temporada pela imagem dos dedos dos pés congelados quando estava no banco de suplentes, ficou perto de ser mesmo pé frio: num corte sem sentido perto da área, acabou por isolar Isco na área. O espanhol, que acabou por apanhar a bola mais com a canela, acertou na trave mas o primeiro golo não demoraria muito e surgiria numa situação ainda mais surreal: depois de um lançamento em profundidade para Benzema que saiu demasiado longo, Karius, chegou primeiro, quis largar a bola à mão para Arnold na direita mas acabou por acertar na perna do avançado francês, que fez assim o golo inaugural (51′).

Ainda assim, o Liverpool tinha mais uma vida. Que chegou de bola parada mas chegou na altura certa: na sequência de um canto apontado na direita, Lovren subiu mais alto no coração da área e o pequeno Sané, ao primeiro poste, conseguiu um ligeiro desvio que enganou Navas e restabeleceu a igualdade quatro minutos depois.

Zidane, que colocou sempre Isco e Ronaldo demasiado agarrado às alas sem as necessárias aproximações por dentro que criassem os desequilíbrios necessários, leu bem o jogo e lançou Gareth Bale em campo aos 61′. Leu bem mas o resultado foi melhor do que nos seus mais altos pensamentos: em campo há 122 segundos, o galês aproveitou um cruzamento de pé direito de Marcelo na esquerda, fez o movimento para dentro e marcou um fabuloso golo de pontapé de bicicleta, num daqueles momentos que serão eternos tal como a “chilena” de Ronaldo em Turim com a diferença de ter sido na final da mais importante prova europeia de clubes (63′).

Mais uma vez, o Liverpool, às costas de um Mané endiabrado a fazer de Salah e a jogar por dois (porque Lallana pouco mais fez do que ver o jogo mais de perto…), ainda se lançou com muito coração na frente e viu o pequeno avançado senegalês acertar no poste, num remate de pé esquerdo em arco de fora da área (70′). Esse acabaria por ser o canto de cisne dos reds, confirmado por mais um erro colossal de Karius: Bale arriscou a meia distância, o remate saiu forte e enrolado, mas o guarda-redes alemão falhou ao tentar agarrar uma bola que foi para dentro da sua própria baliza, perante o olhar incrédulo dos companheiros e do próprio Jürgen Klopp (83′).

A final estava sentenciada mas Ronaldo continuava a correr atrás do “seu” golo. Primeiro foi Robertson, que fez o movimento interior para conseguiu ainda de carrinho tirar o golo ao avançado; depois foi Bale que não assistiu o português que estava sozinho na área; por fim, e quando saía numa transição rápida e puxava a bola para dentro num 1×1 contra Van Dijk, um adepto acabou por invadir o relvado e inviabilizar aquele que podia ter sido o momento do capitão nacional. Mais um “herói”, barrado pelos seguranças e com capa de vilão.

Não foi aí, foi no final da quinta vitória na Liga dos Campeões, terceira consecutiva e quarta nos últimos cinco anos: ainda no relvado, o número 7 abriu a porta da saída de Madrid e deixou em aberto a decisão para os próximos dias. Foi uma frase com mais impacto do que um golo…

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