Linkin Park, Linkin Park, Linkin Park. Quando perguntamos aos festivaleiros qual a banda que mais querem ver esta sexta-feira no parque da Bela Vista, a resposta é quase sempre a mesma. Apesar de terem atuado aqui em 2012, os norte-americanos continuam a atrair muitos fãs portugueses. Mas também há muita gente que ver, ou rever, os Queens of the Stone Age. Há fãs de todas as idades no Parque. Vamos acompanhar aqui os principais acontecimentos deste terceiro dia de Rock in Rio Lisboa, e também no Twitter com a hashtag #ObsRiR.

Salto (17h57)

O Sol ainda está alto e o vento continua a soprar forte no palco Vodafone, que abriu com os portugueses Caffeinna, e em português continua com os portuenses Salto. Gui Tomé Ribeiro pede ao público que se chegue à frente para ouvir “Poema de Ninguém”, mas ninguém se mexeu. O vento continua frio e a música não aquece. Um pouco desafinados mas esforçados e simpáticos, não param de puxar pelo público. O vocalista volta a pedir que as pessoas se levantem da relva sintética, e finalmente alguns se começam a mexer, e a cantarolar, com “Deixar Cair”. Com um baixo forte e uma atitude confiante, alteram a mood e introduzem elementos eletrónicos, o que os torna muito mais interessantes. Reservaram para o final “O Teu Par”, e a malta lá dançou.

Os Linkin Park só atuam às 22h30 de hoje, mas ontem já andavam nas redondezas. A prova é esta fotografia da banda com o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e com o ex-presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio.

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Blood Orange (20h00)

A banda nova-iorquina de Devonté Hynes apresentou-se no Palco Vodafone para fechar a tarde. Em bom rigor, os Blood Orange são ‘Dev’ Hynes e amigos, que incluem (por exemplo) membros dos Charlift, Dirty Projectors e dos Kindness. Hoje juntou-se a eles a vocalista Samantha Urbani, e foram oito em palco a prometer 45 minutos de swing. Arrancaram com o fantástico “Chamakay”, a faixa de abertura do último “Cupid Deluxe”(2013), um tema rapidamente reconhecido pelo público (no YouTube o vídeo conta com quase 1 milhão de visualizações).

Uma secção rítmica muito competente garantiram um ritmo constante, lento e melódico. Foi pena o som demasiado alto e exagerado nos graves, que tornaram a experiência um pouco incómoda. A expectativa era grande, e se não chegaram para aquecer também não desiludiram. O compositor britânico Devonté Hynes (que já escreveu temas para Florence and the Machine e The Chemical Brothers, só para dar dois exemplos) sabe rodear-se de bons instrumentistas, mas neste dia a assistência veio pelo rock. Não foi tempo perdido, mas soube a pouco, também porque não foram muitos os os que ali estiveram. O que ali se passou foi um bom exemplo de causa e efeito: fosse outro o público e certamente teria sido outro o concerto.

Queens of the Stone Age (20h45)

Já só resta Josh Homme da formação dos Queens of the Stone Age, mas também sempre foi ele a alma da banda de Palm Desert, na Califórnia, e vale sempre a pena vê-lo(s). Para mostrar ao que vem, a banda arrancou logo com “You Think I Ain’t Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire”, primeira música do concerto e também de “Songs for the Deaf”, enorme álbum, lançado em 2002. Com um alinhamento que misturou as várias fazes da carreira, incluindo “…Like Clockwork”, de 2013, o concerto dos Queens of the Stone Age poderia ter sido muito melhor, não fosse por duas contrariedades. A primeira foi o som, que às primeiras três músicas foi sofrível, e que foi melhorando, mas nunca o suficiente para se ouvirem com clareza os instrumentos, a voz e, também importante, os comentários de Josh Homme.

De copo de tequilla na mão, o fundador da banda não poupou declarações de amor ao público português. “Sempre que vimos aqui é sempre muito bom. Obrigado”, disse em inglês, terminando com o clássico “we love you”. “É recíproco!”, grita prontamente uma rapariga ao nosso lado. Conhecido por não ignorar provocações, Josh queixou-se ao público que alguém na plateia lhe tinha feito um gesto feio com o dedo. A resposta – que não vamos transcrever, para não ferir suscetibilidades – não foi meiga, mas mereceu risos e aplausos. Aqueles que tinham lasers verdes e arriscaram apontar a luz para o palco também tiveram a sua dose. “Se me apontam o laser outra vez, parto-vos o pescoço”. Não que tenha estragado o ambiente, pois logo a seguir o vocalista prometeu que nos ia dar “uma noite inesquecível”. Dificilmente foi o que se passou. Se por um lado o som não ajudou, por outro a maior parte das pessoas ali presentes apenas aguardavam a chegada dos Linkin Park. Aproveitaram, por isso, para pôr a conversa em dia, tirar selfies ou contar quem tinha mais brindes, prejudicando quem queria ver o concerto. Um mal que afeta cada vez mais os festivais e para o qual não há solução à vista.

Chegou atrasado e despediu-se deitando o microfone abaixo e deixando a guitarra a fazer feedback. Sons e feitios à parte, houve rock n’roll na Bela Vista.

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Linkin Park (22h30)

Até às 23h00 tinham entrado 68 mil pessoas, números da organização. Os maiores ‘culpados’ eram os Linkin Park, que em 2008 e 2012 também estiveram no Rock in Rio. Mas os fãs da banda norte-americana são fiéis e não perdem o regresso. Até porque os Linkin Park têm novo material para apresentar, como fizeram logo questão de mostrar à primeira música, “Guilty All The Same”. “The Hunting Party” vai ser lançado em junho e parece que será um recuo na incursão pelo mundo da eletrónica que os Linkin Park andavam a fazer nos seus últimos trabalhos.

Foram duas horas de concerto sem mácula, que passaram pelas várias fases da carreira da banda, do nu metal à eletrónica, separados por atos (o alinhamento pode ser visto em baixo). Também não houve propriamente interação com o público, mas mais tempo sobrou para a música. Após o encore, os Linkin Park chamaram ao palco Mundo Steve Aoki para a habitual parceria em “A Light That Never Comes”.

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Hercules and Love Affair (23h00)

Gay dance music. Nos dias que correm isto não quer dizer quase nada, a não ser o que a imaginação nos faz desenhar. Duas figuras extravagantes e andróginas (os vocalistas Gustaph e Rouge Mary) apoderam-se da linha da frente do palco electrónico. Atrás, junto da parafernália técnica, Andy Butler (o mentor deste projeto nova-iorquino) e Mark Pistel marcam o ritmo com uma batida poderosa e constante – durante a atuação de uma hora, só houve silêncio durante talvez, uns quatro segundos. Logo de início pedem para nos chegarmos para junto deles. “It’s cold here, let’s dance!”. “Já é a quinta vez que estamos em Portugal e esta é a mais fria”, dizia Andy Butler, comunicativo. A coreografia e dinâmica interna também estavam bem ensaiadas, o que foi fundamental para passar a mensagem. “Feel free, feel yourself”, repetiu várias vezes.

As contas são fáceis de fazer: duas centenas de pessoas (contas nossas) preferiram o ritmo de dança e o desafogo daquele chão que treme, ao rock que se ouvia no palco principal, ou seja, tudo gente que sabia o que estava ali a fazer. “Precisamos que as pessoas sejam aquilo que sentem”. E assim foi.

Steve Aoki (01h00)

O norte-americano de ascendência japonesa Steve Aoki aparece no alinhamento do Rock in Rio como “convidado especial”, e quanto a isso não temos dúvidas: é um dos Dj “top ten” do mundo, e dos mais bem pagos – no ano passado aparecia nas listas da especialidade como o número 10, com 14 milhões de dólares em carteira.

Figura mediática, Steve Aoki adotou o “tecno-eletro-house” como especialidade. Do topo de uma enorme tribuna de néon, lançou um som agressivo que puxou (e bem) pelos 250 mil Watt de potência instalada, volume no máximo, um teste ao sistema que funcionou sem falhas.
Milhares de pessoas não desarmaram depois de Linkin Park. Olhamos em volta e são raros os corpos que se mantêm quietos. Sabe deus. E Aoki.

Noite alta, três horas da madrugada, e já não se conseguia chegar à “tenda” eletrónica. Os despojos da noite estavam cá atrás, e pela batida trazida pelo vento (frio) do canadiano Tiga, a pista de dança tremia.

Ao longo do dia estivémos também no Twitter com a etiqueta #ObsRiR. Amanhã estamos de volta, e o cartaz promete.