Para os partidos da oposição e parceiros de “geringonça” do executivo socialista a demissão de Azeredo Lopes não resolve os problemas de Tancos, embora muitos a tenham considerado “inevitável” e registem o facto de o Governo assumir as responsabilidades políticas do que correu mal. Apesar da saída do ministro da Defesa, os partidos advertem que há armas roubadas dos paióis que ainda não apareceram e que persistem muitas dúvidas sobre a forma como decorreu o processo. Rio aponta o dedo ao primeiro-ministro.

PSD. Rio diz que “vale mais tarde que nunca” e ataca Costa

O presidente do PSD considera que a demissão de Azeredo Lopes “peca obviamente por tardia”, uma vez que “as Forças Armadas foram sujeitas a este debate público negativo durante demasiado tempo”. Ainda assim, Rui Rio destaca o lado positivo: “Vale mais tarde que nunca”.

Rio explica que a “situação começava a ser insuportável” e que Azeredo Lopes “soube ter sentido de Estado”, ao contrário de António Costa que “de acordo com a nota distribuída, Azeredo Lopes apresentou a demissão de uma forma que ele não pôde evitar, sugerindo que não tem esse mesmo sentido de Estado.” E acrescentou: “O ministro da Defesa teve sentido de Estado mais cedo do que o primeiro-ministro”. Ou seja: Rio opta por destacar que, se fosse Costa a decidir, Azeredo ainda seria ministro. Rio recusou-se ainda a apontar um perfil para o novo ministro da Defesa e diz não querer acreditar que Azeredo tenha saído por questões táticas (devido ao Orçamento do Estado), mas sim por sentido de Estado.

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Também o deputado do PSD e presidente da comissão de Defesa, Marco António Costa, comentou a demissão do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, dizendo que que era “inevitável que alguma coisa acontecesse para tentar estancar esta situação de sangria de autoridade política do Governo perante as Forças Armadas”. Marco António Costa, em declarações à SIC Notícias, adverte que ainda há muitas dúvidas que têm de ser “cabalmente esclarecidas”.

Marco António Costa deixou uma palavra amigável a Azeredo Lopes ao destacar que apesar das diferenças partidárias, Azeredo Lopes sempre teve uma “atitude impecável na relação institucional com a Assembleia da República.” O deputado do PSD lembrou, no entanto, que todo o processo em torno de Tancos “tem sido muito doloroso” e que precisava de ter um término, daí que o ministro tenha “sentido a necessidade” de tomar esta decisão.

Mas nem tudo ficou resolvido. Apesar da saída de Azeredo Lopes, o social-democrata continua com “muita preocupação” sobre o processo, uma vez que neste momento ainda “não se sabe onde estão todas as armas e não se conhece o processo que levou ao furto.” A reação ao mais alto nível do PSD será feita por Rui Rio, por volta das 19h00.

CDS diz que demissão é “tardia, inevitável e muito reveladora”

O CDS diz que a demissão “é tardia, inevitável e muito reveladora”. No Parlamento, o deputado João Almeida disse também que “é de uma gravida extrema a degradação que houve da instituição militar” com este caso.  “É gravíssimo que esta decisão tenham demorado tanto tempo, tendo arrastado atrás de si todo o prestígio das Forças Armadas”, disse o deputado democrata-cristão que atira ao primeiro-ministro por este ter acusado o CDS, no debate quinzenal de quarta-feira, de “estar a quebrar um consenso que existia sobre Forças Aramadas. Quem é que põe em causa grandes consensos e estabilidade em relação à defesa nacional”, questiona agora o CDS.

O partido propôs uma comissão parlamentar de inquérito ao caso Tancos que o deputado acredita manter toda a relevância.

BE. Catarina Martins adverte que “a demissão não é a única resposta”

O Bloco de Esquerda foi o primeiro partido a reagir à demissão do Ministro da Defesa. “Não há ninguém no país que não perceba a enorme gravidade de todo o caso do roubo de armas de Tancos e de todo o processo, que é até rocambulesco. Nós sempre dissemos que era um caso gravíssimo. O Governo parece agora retirar consequências políticas da gravidade deste caso. Registamos a retirada dessas consequências. Mas há muitas perguntas ainda sem resposta e, portanto, julgo que a demissão não é a única resposta de que precisamos neste caso”, disse Catarina Martins aos jornalistas.

A líder bloquista falou à margem de uma visita ao Centro de Acolhimento Temporário para Refugiados de Lisboa, no Lumiar, onde se encontrou com os refugiados do navio Aquarius. A demissão de Azeredo Lopes chegou a meio da visita e, depois de uma pequena conversa entre Catarina Martins e José Manuel Pureza, o Bloco de Esquerda reagiu. “É preciso compreender o que se passou. Há uma investigação em e nós esperamos que o país possa ter as respostas que merece”, acrescentou.

A coordenadora do Bloco de Esquerda disse ainda que essas respostas podem ser encontradas tanto no campo político como no da Justiça. Catarina Martins recusou-se a comentar o timing da demissão, não revelando se considerava que tinha chegado com atraso. “Registamos apenas que foram retiradas as consequências políticas”, refutou. É preciso mais, exige o Bloco de Esquerda.

PCP. Jerónimo diz que Tancos “passou a ser problema” de Costa

Já o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, afirmou que a polémica do furto de armas de Tancos e consequente demissão do responsável pela tutela, Azeredo Lopes, “passou a ser problema” do chefe do Governo. “Não conhecemos os fundamentos que levaram à demissão do ministro. Passou a ser um problema do ministro da Defesa e, naturalmente, do primeiro-ministro, como principal responsável do Governo”, explicou Jerónimo de Sousa.

O líder comunista respondia a jornalistas, após uma sessão dos “Colóquios (Re)Partidos”, organizados pelo Conselho Nacional de Juventude (CNJ) junto das diversas forças políticas, desta feita no centro de trabalho Vitória do PCP, em Lisboa, e imediatamente depois de se saber da saída do Governo de Azeredo Lopes. Jerónimo de Sousa sublinhou ser “prudente aguardar para conhecer os fundamentos que levaram a tal decisão”.

Já antes António Filipe tinha dito que o seu partido “registou a avaliação feita pelo primeiro-ministro e o ministro da Defesa de que o ministro não tinha condições para continuar”. E lembrou que “desde há muito tempo que o PCP tem vindo a dizer que, nesta matéria, se deviam apurar todas as responsabilidades do ponto de vista criminal e político.”

Com Lusa

[Veja o vídeo: Como Tancos tramou Azeredo]