Os deputados do PS, PCP e BE querem saber mais sobre as reuniões entre o Presidente da República e o ex-líder do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado. Os dois partidos vão entregar requerimentos com perguntas para que sejam respondidas por Cavaco Silva. Este, poderá fazê-lo por escrito. E insistem para que Paulo Portas venha também ao Parlamento para ser ouvido sobre o mesmo assunto.

Os partidos tomaram a iniciativa depois de o Observador divulgar a carta e Ricardo Salgado em que este detalhava as duas reuniões que manteve com o Chefe de Estado e uma reunião que manteve com o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas. Os pedidos têm que agora ser aprovados na comissão de inquérito.

Ao Observador, o deputado do PS, Pedro Nuno Santos diz que houve “responsáveis políticos que foram fazendo declarações sobre a saúde do BES, quando, aparentemente, já sabiam da situação. Logo são necessários mais esclarecimentos”.

“São fundamentais para se saber o que as autoridades políticas em Portugal sabiam quando se estava a fazer aumento de capital do BES. Vivemos num estado de direito e não é aceitável que conhecendo as mais altas figuras do país a situação difícil em que o BES se encontrava, tenham dado conforto a um aumento de capital que hoje nós todos sabemos, que resultou numa perda total para todos esses investidores”, disse mais tarde aos jornalistas. “Precisamos saber que respostas foram dadas e se tinham consciência do impacto que teria a paragem do financiamento do GES no próprio BES”, acrescentou. O PS quer ainda fazer perguntas por escrito a Carlos Moedas, à época secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro. Diz o deputado que as declarações de Cavaco Silva de “confiança foram feitas depois dos encontros com Ricardo Salgado e as reuniões aconteceram antes do fim do prazo da subscrição do aumento de capital”. “Se sabiam da situação do BES (…) tinham a obrigação de ter dito“, disse.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O deputado do PCP, Miguel Tiago, o primeiro a falar aos jornalistas sobre o assunto, explicou que tem como “prioridade” fazer estas perguntas ao Presidente da República uma vez que com a carta que foi hoje enviada por Ricardo Salgado, fica claro que Cavaco Silva, “não só do ramo não financeiro como também do ramo financeiro e que isso tinha implicações na gestão do BES.”

Também o Bloco de Esquerda, que fez o requerimento que deu origem à carta de Ricardo Salgado, quer questionar Cavaco Silva. Disse a deputada Maria Mortágua que é preciso saber o porquê de o Presidente ter outras informações além das prestadas pelo Governo. “Qual o nível de informação que tinha? Qual o motivo das reuniões? A que titulo teve essas reuniões [com Salgado], a título pessoal ou como Presidente da República? Qual o conteúdo? E se fez algum tipo de diligências?“, questiona a deputada.

Neste tipo de comissões, Cavaco Silva tem a possibilidade de depor por escrito, de acordo com o Regime jurídico das comissões de inquérito.

“Gozam da prerrogativa de depor por escrito, se o preferirem, o Presidente da República, os ex‐presidentes da República, o Presidente da Assembleia da República, os ex‐presidentes da Assembleia da República, o Primeiro‐Ministro e os ex‐primeiros‐ministros, que remetem à comissão, no prazo de 10 dias a contar da data da notificação dos factos sobre que deve recair o depoimento, declaração, sob compromisso de honra, relatando o que sabem sobre os factos indicados”, lê-se na lei.

Maioria espera para ver

PSD e CDS ainda não disseram que não, mas também não disseram que sim. O deputado do PSD até disse que até agora nenhum requerimento foi chumbado por nenhum partido, mas quando questionado sobre se aceita as propostas da oposição de enviar perguntas ao Presidente da República disse que é preciso “ver os fundamentos do requerimento” para depois tomar uma decisão e acrescenta: “Não me parece que o senhor Presidente da República tenha tido um papel nesta situação”. Quem tem, disse, é Ricardo Salgado, é o ex-presidente do BES “que tem contas a prestar”.

Já a deputada do CDS, Cecília Meireles diz que houve “um número” mediático por parte dos partido da oposição uma vez que já foram ouvidos vários membros do governo e Paulo Portas até já estava no rol de audições a serem feitas. “Em relação a este número que se instalou de pedidos para ouvir várias vezes vários membros do Governo é que a ministra das Finanças já cá veio e há abertura para que venha outra vez. O vice-primeiro-ministro foram os próprios partidos da maioria que pediram a sua vinda e só cá não veio porque os partidos da oposição, que agora têm tanta pressa, não se lembraram de o chamar”.