À esquerda e à direita o tabu mantém-se: quem avança para Belém? Todos os (potenciais) candidatos empurram a decisão para depois das legislativas – Santana Lopes foi o último a fazê-lo -, mas há novas peças no tabuleiro dos adiamentos. Se Marques Mendes garantiu na SIC que Carvalho da Silva está a preparar uma candidatura, os seus mais prováveis apoiantes parecem seguir o exemplo da direita: apesar dos elogios, ninguém quer abrir a discussão sobre presidenciais antes de outubro.

Viriato Soromenho Marques, professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sublinhou ao Observador que é “muito cedo para discutir essas questões” até porque “a vitória do Syriza na Grécia, por exemplo, alterar o panorama político português”.”A esquerda está em reestruturação” para se adaptar aos novos ares que se respiram na Europa. Por isso, antes das presidenciais, as eleições para São Bento serão o primeiro teste.

Ainda assim, para o professor catedrático — que já discursou no palco do Livre nas últimas semanas — apesar dos muitos “presidenciáveis, os “candidatos que estão em melhores condições de avançar [Carvalho da Silva incluído] são aqueles que se sentem esmagados pelo contexto do país, no sentido em que têm noção do desafio da situação grave que o país atravessa”.

“Carvalho da Silva é alguém sensato, com a cabeça no sítio, um observador atento do estado do país. Ao contrário de outras personalidades que se têm posto em bicos de pé, como Marcelo Rebelo de Sousa, em parte, e Pedro Santana Lopes, ele [Carvalho da Silva] decidirá a seu tempo se avança ou não”, acredita Viriato Marques.

E conseguirá Carvalho da Silva ser um fator de agregação num momento em que a esquerda está mais dividida? O professor catedrático acredita que sim, que “Carvalho da Silva poderá centrar vontades de alguns setores da esquerda e de movimentos que se têm formado como o Tempo de Avançar e o Juntos Podemos”.

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Rui Tavares também não se compromete. O fundador do Partido Livre acredita que é “demasiado cedo para falar sobre presidenciais” e preferiu rematar a questão para mais tarde. “A prioridade agora é garantir que as legislativas vão levar à mudança”, assumiu ao Observador.

Ainda assim, desafiado a comentar se Carvalho da Silva daria um bom candidato a Presidente da República, Rui Tavares confessou a “admiração” que tem pelo ex-líder da CGTP, “com quem já travou muitas batalhas”. Mas, lá está, mais comentários só mesmo depois das eleições legislativas.

Também Daniel Oliveira, que com Ana Drago se junta ao Livre nas legislativas, prefere adiar para depois das legislativas uma discussão mais séria sobre as eleições presidenciais, mas não se inibe de comentar uma eventual candidatura de Carvalho da Silva, uma figura “com pergaminhos e com um currículo indiscutível” e que foi, inclusivamente, um dos primeiros subscritores do Manifesto 3D – os dois estão, ainda, entre os promotores do Congresso Alternativo das Democracias.

“Carvalho da Silva, tal como Sampaio da Nóvoa, seriam candidatos capazes de devolver a confiança no sistema democrático aos portugueses. Ambos reúnem competências éticas e cívicas inegáveis”, afirmou Daniel Oliveira ao Observador, para acrescentar depois que “seria bom se pudessem pôr a experiência e o capital político ao serviço do país”.

O ex-bloquista lembrou, no entanto, “um pormenor importante”: uma eventual corrida à sucessão de Cavaco Silva depende da vontade dos próprios e Carvalho da Silva ainda não assumiu o desejo de se candidatar a Presidente da República.

Uma corrida em que poderá ter como adversários nomes bem conhecidos entre socialistas, como António Vitorino ou António Guterres. Figuras que servem de mote para as críticas de Daniel Oliveira:

“Qualquer candidatura que venha dos aparelhos partidários está condenada à partida. [Por isso], Carvalho da Silva pode captar as esperanças das pessoas que não se veem representadas nos aparelhos”, afirmou Daniel Oliveira, lembrando que PS e PSD “já apanharam surpresas” com as candidaturas de Manuel Alegre (2006), Fernando Nobre (2010) e Rui Moreira nas autárquicas de 2013.

Irá uma eventual candidatura de Carvalho da Silva dividir uma esquerda que já conta com tantos possíveis candidatos? Daniel Oliveira desvaloriza esse cenário, até porque, lembrou, em caso de divisão do eleitorado “o nosso regime prevê uma segunda volta”.

O ex-bloquista acredita, no entanto, “que era importante não dispersar”, porque o que interessa à esquerda “é mobilizar as pessoas para a necessidade de combater as políticas de austeridade”, explicou.