A saga em que se transformou a troca de acusações entre Ana Gomes e Isabel Moreira continua. A eurodeputada voltou a responder a Isabel Moreira, acusando a deputada socialista de mentir em relação ao que verdadeiramente se passou na Comissão Temporária que investigava os voos polémicos da CIA em Portugal.

Por capítulos. Tudo começou com os erros de transcrição nas escutas a Paulo Portas no caso dos submarinos. O jornal Expresso desmentiu a interpretação sugerida por Ana Gomes (o “Canalis” que poderia ser “Michael Canals” era afinal o “Canal de Kiel no norte da Alemanha). Isabel Moreira aproveitou o desmentido e acusou Ana Gomes de ser movida pelo ódio pessoal a Paulo Portas. Ana Gomes não gostou e perguntou se não fora Isabel Moreira a assessorar Luís Amado no inquérito aos voos da CIA em Portugal. Então, Isabel Moreira acusou Ana Gomes de atirar “lama ao redor” e insistiu na tese de que a eurodeputada trazia para a política o ódio pessoal a Portas/Barroso.

Esta terça-feira, Ana Gomes voltou a contestar as palavras de Isabel Moreira. Num texto publicado no blogue Causa Nossa, a eurodeputada acusou a deputada de mentir e revelou a sua versão dos acontecimentos: “não é verdade que tenha tido ‘uma primeira reunião’ com Luís Amado sobre voos da CIA onde estivesse Isabel Moreira”. Houve antes “uma conversa a sós (cordata) com Luís Amado na FIL, numa iniciativa do PS, em finais de março ou abril de 2006″. E nessa altura não houve “berros” do então ministro dos Negócios Estrangeiros – como tinha assegurado Isabel Moreira.

Já em dezembro de 2006, na reunião com a delegação do Parlamento Europeu – onde, aí sim, Isabel Moreira estaria presente – o ministro “não berrou, mas destemperou-se”. Por que razão se excedeu Luís Amado? Ana Gomes conta: “[foi perante] a minha insistência em obter uma lista de voos, de e para Guantánamo”.

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Mas Luís Amado não cedeu. “[O] Governo nunca facultara ao PE nem à Assembleia da República”. No entanto, Ana Gomes sabia que a lista tinha sido elaborada pelo NAV e não desistiu de tentar aceder ao documento. Depois de o conseguir, confrontou por escrito o ministro Luís Amado e não só, recorda:

“Dias depois confrontei o Ministro por escrito com essa lista, entreguei-a ao PE, tornei-a pública e mais tarde fi-la chegar à PGR como um dos elementos da queixa que apresentei”.

E quanto à acusação de Isabel Moreira, que alegou que a eurodeputada queria “limitar a investigação [sobre os voos da CIA] ao período de governação de Barroso e de Portas” para “os queimar”? Ana Gomes garante que tal não é verdade:

“O que quis, sim, foi que o PS não se enredasse na mesma teia de cumplicidades com violações dos direitos humanos em que havia estado envolvido o Governo de Barroso/Portas. Infelizmente não foi nesse sentido a atuação de Luís Amado, assessorado por Isabel Moreira”, escreveu Ana Gomes, para depois acrescentar que fez chegar as suas preocupações ao então primeiro-ministro José Sócrates.

Mas mesmo o desfecho da investigação do caso divide as duas socialistas. Isabel Moreira diz que a investigação da Comissão de Inquérito ilibou Portugal; Ana Gomes garante que nem pensar e que a deputada socialista meteu no “lixo o rigor jurídico e factual”.

“De facto, o relatório da Comissão Temporária aprovado pelo PE contém 6 parágrafos dedicados a Portugal (…) críticos da falta de resposta das autoridades portuguesas a todas as questões”, escreveu.

E quanto a Paulo Portas e Luís Amado? Afinal, também eles se tornaram protagonistas da discussão entre as duas socialistas. A eurodeputada lembrou que a Comissão Temporária deplorou “que ex-ministros se tivessem recusado a falar com a Comissão Temporária (sendo Paulo Portas um deles)” e também expressou “profunda preocupação pela lista adicional de voos de e para Guantánamo autorizados por Portugal – que Luís Amado não entregara, mas eu obtive e fiz chegar ao PE”.

O antigo Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, também não escapou às críticas de Ana Gomes:

“Quanto à investigação da PGR, Isabel Moreira, como jurista, deve saber que o arquivamento de nada iliba. Pelo contrário, a investigação da PGR apurou mais graves factos que justificavam o seu prosseguimento. Mas outro foi o entendimento do PGR Pinto Monteiro, por conveniências ou obediências que na altura contestei e publicamente denunciei”, concluiu a eurodeputada.