Nem era preciso pegar numa régua ou fita métrica para tirar uma conclusão. Bastava olhar: duas torres, uma graúda e brasileira, de 1,98m, outra jovem e alemã, de 1,90m, ladeavam um avióncito colombiano, como a alcunha lhe chama, de 1,78m. Assim, com estas alturas, os centrais Naldo e Knoche tinham tanto de gigantões como Fredy Montero de baixote. E sem os 1,88m de Slimani, o argelino lesionado, estas medições aconselhavam os leões a pouparem nos cruzamentos que dessem um bilhete para a bola viajar pelo ar até à área. A altura não é uma ciência exata, mas ter mais centímetros ajuda a que a cabeça toque mais vezes na bola.

Estes, afinal, eram uma das armas preferidas do Sporting — enquanto esteve na Liga dos Campeões foi aliás a sexta equipa, entre as 32 da fase de grupos, que mais vezes cruzou a bola para a área adversária. Ali, em Wolfsburgo, só o faria por seis vezes durante a primeira parte e no relvado que partilhou com uma equipa alemã goleadora, veloz, milionária e que, este ano, também já fora surpreendente (ganhou, em casa e por 4-1, ao Bayern de Pep Guardiola). Era preciso ter cautela e dela muito se viu até ao início. De ambos os lados.

Wolfsburgo: Diego Benaglio; Ricardo Rodríguez, Knoche, Naldo e Sebastien Jung; Träsch e Aaron Hunt; André Schurrle, Kevin de Bruyne e Vieirinha; Bas Dost.

Sporting: Rui Patrício; Cédric Soares, Paulo Oliveira, Tobias Figueiredo e Jefferson; Oriol Rosell, Adrien Silva e João Mário; Nani, André Carrillo e Fredy Montero.

Até quinze minutos passarem viu-se ambas as equipas a trocarem passes, muitos, e a verem os jogadores darem poucos toques na bola. A pressão do Sporting ou do Wolfsburgo era pouca e, mesmo tendo direito a menos da sua companhia, os leões até a conseguiam levar até ao ataque e a Montero, que saía da área para ser mais um para a tocar ou servir de tabela. Ninguém acelerava — porque só aos 16’ os alemães viram uma aberta que os levou a fazê-lo. O Sporting acabara de atacar pela direita, perdera a bola, ela chegou a Kevin de Bruyne, o craque dos 11 golos e 15 assistências esta época, o belga virou-se e passou bem rápido a André Schurrle.

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O alemão fugia pela esquerda, com espaço e sem Cédric, que atrasado estava a recuar no relvado após, no ataque, ter cruzado a bola pelo ar. Tudo acabou num remate de pé esquerdo do germânico que Rui Patrício defendeu para canto, o tal que, no minuto seguinte, colocou a bola na cabeça de Träsch, um dos três jogadores do Wolfsburgo que sozinhos saltaram perto da marca de penálti. O remate foi direitinho às mãos do guardião português, que falhara em Belém, para o campeonato, mas que por ali se manteve seguro e eficaz. Tal como Paulo Oliveira, que aos 20’, em carrinho, se esticou para desviar um cruzamento que de outro modo acabaria nos pés de Bas Dost.

A equipa da Volkswagen (principal acionista do clube) começava a acelerar, sobretudo quando os passes saiam dos pés de De Bruyne ou a bola passeava com Schurrle. Como o fez aos 28’, quando o extremo que ali estava a troco de 32 milhões pagos pelo Wolfsburgo ao Chelsea, no Natal, a levou da esquerda para o meio e a rematou, em jeito, rumo ao poste esquerdo da baliza do Sporting. Mas Rui Patrício agarrou-a sem problemas. O guardião, aliás, só voltaria a tocar na bola aos 37’, quando um frouxe cruzamento de Vieirinha deu em remate também frouxe de Bas Dost, o holandês que marcara quatro golos ao Bayer Leverkusen no fim de semana. Depois o Sporting habituou-se à subida de ritmo e atinou.

Adrien Silva fechava os espaços perto de Oriol Rosell e João Mário já calculava melhor as alturas para pressionar à frente, com Montero, ou tapar linhas de passe atrás, no meio campo. Os leões, em jogadas com tempo para trocar a bola e pensar no que lhe fazer não inventam perigo, mas conseguiram criá-lo em contra ataque — e que perigo. Após um canto, a bola sobrou para João Mário, que a passou a Nani para o extremo a transformar num passe longo, para a área, onde ela parou no pé direito de André Carrillo, o mesmo que a rematou a rasar o poste esquerdo da baliza alemã.

Depois, ao quarto cruzamento pelo ar no qual Cédric insistiu, a bola bateu no braço de Vieirinha. Nenhum apito se ouviu e o intervalo tinha de cumprimentar um 0-0. Mas a segunda parte, quando despertou, disse logo olá ao 1-0.

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E disse-o após dois disparates. O primeiro dividido entre Nani e Montero, um por dar pouca força a passe, o outro por ficar parado e não se fazer à bola, que foi recuperada por Naldo, que teve muito gigante e muito pouco de trapalhão. O brasileiro segurou a bola, usou o corpo para se livrar de Adrien e esperou que Bast Dost corresse e usufruísse do segundo disparate — Jefferson ficou parado, não acompanhou a linha do fora de jogo nem fechou o espaço que Tobias Figueiredo abrira para ir pressionar o adversário. O resultado foi dado por um passe de Naldo e um remate de Dost, que bateu Rui Patrício.

Entre o último sábado e esta quinta-feira era o quinto golo do avançado holandês. Agora os leões tinham de reagir. Tentaram-no: começaram a pressionar uns metros mais à frente e os passes iam mais diretos para Carrillo ou Nani, nas alas. A rapidez com que faziam as coisas aumentou. E os espaços também. Ou seja, quando perdiam a bola, os alemães, por isso, também aceleravam mais. Como Vieirinha o fez aos 55’, antes de passar a bola de De Bruyne que, na área, só não marcou porque Patrício esticou a perna e fechou a baliza. Quanto mais o Sporting tentava pressionar, mais o Wolfsburgo acelerava as jogadas de ataque que ia criando, sobretudo junto às linhas.

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E foi ao lado direito que, aos 63’, Kevin de Bruyne fez uma visita para receber um passe de Vieirinha, após o português tabelar com Jung. O belga estava quase encostado à linha e, na área, só estava Dost, bem longe, perto do segundo poste. O problema, para o Sporting foi que De Bruyne quis mostrar como já levava 15 passes para golo esta época e decidiu inventar mais um — o belga cruzou a bola, o holandês escondeu-se atrás de Paulo Oliveira, aproveitou a ausência de Cédric (que até estava fora da área) e o passe tornou-se na 16.ª assistência. E no segundo golo de Bas Dost, o sexto em dois jogos.

A eliminatória, aqui, fica bastante complicada. O Sporting, uma vez mais, voltou a arriscar mais, a avançar os jogadores e a subir a linha defensiva, tentando forçar os alemães rumo à própria área. Adrien e João Mário tentavam passar a bola mais para a frente do que para o lado, mas Montero mal lhe tocava, à semelhança de Nani. E depois parecia regra — o Wolfsburgo acelerava mais a cada bola que recuperava e dava motivos para Rui Patrício aparecer. Em boa hora para os leões, pois aos 68’ impedia que Dost levasse um hat-trick para casa e, aos 78’, parava um remate de Schurrle.

A bola já era mais do Sporting e o jogo ficava como os germânicos gostam: aberto para contra atacarem e com espaços por explorarem caso recuperassem a bola. Os leões, porém, erravam muitos passes, sobretudo os que tentavam fazer ao primeiro toque, e só aos 71’, e talvez como menos se esperasse, tivera uma oportunidade para levarem um golo para a segunda mão, em Alvalade — Cédric levantou a bola, cruzou-a desde a direita e João Mário, sozinho e a dois metros da baliza, cabeceou-a ao lado.

Até ao fim nada mais de perigoso houve. Rui Patrício não voltou a salvar o Sporting, nem os leões voltaram a ter hipótese de rematar à baliza de Diego Benaglio. O equilíbrio e a segurança que a equipa de Marco Silva tivera na primeira parte foram desmontadas pelo duplo erro que, logo após o intervalo, deu um golo ao Wolfsburgo. Depois, arriscando, os leões deram aos germânicos o que eles mais gostam e no qual mais mostram o que valem — uma equipa subida, a arriscar, a querer ter muita bola, a avançar os jogadores no relvado e a tentar inventar situações para marcar golo.

Assim terá de ser a segunda mão, em Alvalade, onde o Sporting terá um 2-0 para recuperar. E onde o Wolfsburgo também já poderá utilizar Luiz Gustavo e Guilavogui, a dupla de médios (outros dois gigantes) titular que ainda maior segurança dá a De Bruyne, Schurrle e Vieirinha para abusarem da velocidade nos contras e ataques rápidos. Ou seja, os leões, quase por obrigação, terão de tomar conta do jogo, de arriscar e dar aos alemães o tipo de partida onde eles mais costumam brilhar. A tarefa, por isso, será complicada.