A decisão do Banco de Portugal de rever em baixa a previsão de crescimento da economia portuguesa para 2014 “não surpreende”, afirmou Paula Gonçalves Carvalho ao Observador. A economista do departamento de estudos económicos e financeiros do BPI considera que a redução da projeção que foi conhecida nesta quarta-feira, de 1,2% para 1,1%, “é um sinal” e um ajustamento àquilo que sucedeu no primeiro trimestre, em que a economia registou uma contração de 0,7% em comparação com os três últimos meses de 2013, de acordo com a estimativa divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística.

A nova previsão do banco central aproxima-se da visão dos economistas do BPI para a evolução da economia durante este ano, que antecipam um crescimento de 1%. Os números, adiantou Paula Carvalho, confirmam que o país está a atravessar um período de “retoma” e que esta “não está em causa”, apesar de os dados relativos aos primeiros três meses deste ano “terem introduzido muito ruído”.

“Nos detalhes, encontram-se aspetos positivos”, afirmou a economista, que sublinhou a circunstância de as exportações terem crescido “mais de 4%” até abril, quando se excluem da análise os combustíveis. Paula Carvalho referiu que estes produtos petrolíferos tiveram um peso de 90% nas vendas ao exterior realizadas por Portugal em 2013 e que a paragem na produção da Galp, verificada no primeiro trimestre deste ano, teve influência nos números finais sobre o desempenho da economia. “Isto reflete a fragilidade dos outros setores”, acrescentou Paula Carvalho.

“Já sabíamos que a retoma iria ser lenta” e a revisão em baixa, feita pelo Banco de Portugal, era “expectável perante aquilo que sucedeu no primeiro trimestre deste ano”, afirmou Inês Domingos.

Inês Domingos, da consultora Macrometria, tem uma opinião semelhante. “Já sabíamos que a retoma iria ser lenta” e a revisão em baixa, feita pelo Banco de Portugal, era “expectável perante aquilo que sucedeu no primeiro trimestre deste ano”, afirmou. A economista atribui a contração verificada de janeiro a março como resultado de fatores específicos. Para além da “questão Galp”, o primeiro trimestre de 2014 “teve menos dias útes” do que os três meses anteriores.

“A retoma não está em causa”, afirmou Inês Domingos ao Observador, e o próprio Banco de Portugal “prevê que se assista a um recuperação” no segundo trimestre deste ano, com a evolução do PIB em cadeia a acelerar e a variação homóloga a abrandar. “O que se pode concluir é que o ritmo de crescimento no segundo trimestre não será suficiente para recuperar” todo o recuo registado nos três primeiros meses, o que, do ponto de vista de Inês Domingos, explicará a maior prudência do banco central na abordagem ao desempenho da economia portuguesa em 2014.

 

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