“Todas as jornadas decisivas, são 18 pontos em disputa. Qualquer ponto que se perca dos 18 pode definir o Campeonato, seja para que lado for. Os jogos serão todos difíceis, muitos dos pontos que os primeiros perderam são com os que estão mais abaixo na tabela. O Benfica perdeu com Gil Vicente, Sporting empatou com Famalicão. Não se pode dizer este ou aquele jogo, qualquer ponto que se perca tem o mesmo valor. O Sp. Braga é um concorrente poderoso e que está a fazer uma grande época. O futebol, até pela falta de público, está diferente e isso vê-se nos resultados. Não tem lógica. Na jornada anterior, o Gil ganhou na Luz e o Portimonense venceu em Famalicão, na ronda seguinte, o Portimonense perdeu em casa com Benfica e o Gil Vicente perdeu em casa com o Famalicão. É a falta de público… Mas se tudo for normal, penso que ainda vamos ganhar o Campeonato”.

No dia que assinalou o 39.º aniversário na presidência do FC Porto, Pinto da Costa assumiu, numa entrevista ao Porto Canal, a esperança de conseguir aquele que seria o terceiro título em quatro anos com Sérgio Conceição. E tudo porque, não dependendo de si próprio, as últimas jornadas passaram a sensação de que dependia apenas de si próprio: apesar de não ter passado do nulo em casa frente ao Sporting, os dragões conseguiram a seguir igualar a melhor série de triunfos consecutivos no Campeonato e viram as escorregadelas dos leões reduzirem para apenas quatro pontos a distância para a liderança, com os lisboetas a jogaram de novo no dia anterior esta jornada. “Jogo com o Sp. Braga? Não, 19h15 Dragão, 19h30 saída, 20h jantar. A seguir ao jantar posso ver algum tempo desse jogo mas não é uma prioridade”, comentou Sérgio Conceição antes do jogo com o Moreirense.

Nem o treinador, nem o presidente falaram nos encontros em específico onde esperavam que o conjunto verde e branco pudesse perder mais pontos mas a deslocação à Pedreira era por certo um deles. Até pelas incidências do próprio jogo, parecia mesmo que seria mais um desses casos. Não foi. E a pressão voltava de novo a passar com maior peso para os portistas, numa caminhada mista sem poder errar no trajeto à espera de erros no trajeto de outros. “Pressão só a de ganhar os nossos jogos. Não vale a pena estarmos a olhar para os resultados dos adversários, embora estejamos atentos. Os pontos estão complicados. Não serve de nada estarmos a olhar para os outros e não fazermos o nosso trabalho. É a nossa forma de acreditar, acredito sempre que é possível”, frisou sobre um segundo lugar que não agrada a Sérgio Conceição mas que tem culpas próprias assumidas.

Sobre as estatísticas do Moreirense, e o facto de não ganhar em casa desde dezembro, poucas palavras. Sobre as estatísticas do FC Porto, e a possibilidade de superar a melhor série de vitórias consecutivas na Liga, a mesma coisa. Sobre as estatísticas de Marega, que marcou o golo decisivo no último triunfo frente ao V. Guimarães, aí a realidade foi bem diferente e o treinador saiu em defesa de um dos três jogadores que estão no plantel dos azuis e brancos desde que voltou ao clube agora como técnico há quatro anos, a par de Corona e de Otávio.

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“Quando joga, ele dá o máximo. Qual foi o custo e o rendimento do Marega? É o segundo melhor marcador do Dragão. Tem quase 50 golos. É o melhor marcador em jogos seguidos da Liga dos Campeões. Vejam quantos avançados que o FC Porto teve de grandíssima qualidade e o melhor marcador é o Marega. O rapaz que tem os pés quadrados, como vocês dizem… Quanto custou? Uns equipamentos ao Marítimo. Em relação a outros que custaram muito e que não deram nem um terço daquilo que o Marega deu ao FC Porto… Isso eu chamo de ingratidão. Há uma coisa que sei definir muito bem: o que é ser jogador à FC Porto e ter mística. É olhar para o Pepe e para o Marega. Sempre que vão lá para dentro dão o máximo. Falha golos e falha passes? Quem é que não falha? Eu sou o primeiro!”, atirou, relativizando também a questão da renovação ou não de contrato.

Esta noite, houve pouco Marega mas, ao mesmo tempo, houve muitos Maregas. Em quê? Na tal vontade, na tal entrega, na tal capacidade de dar mais quando não se podia ter menos. Foi assim com Corona, que desde a primeira parte que dava sinais de ter um problema físico pela forma como parecia coxear mas nem por isso desistiu e aguentou até onde conseguiu. Foi assim com Mbemba, central que conseguiu dois desequilíbrios na frente antes de sentir uma picada no gémeo e ser obrigado a sair por não correr. Foi assim com Uribe, que teve um início com vários passes falhados mas que recuperou, adaptou-se a central, teve um corte fabuloso de carrinho a bater depois de forma violenta com o poste e manteve os dragões vivos no jogo. No entanto, apesar de uma segunda parte de total balanceamento ofensivo, o FC Porto não foi além de um empate em Moreira de Cónegos, vendo um golo anulado nos descontos a Toni Martínez por dez centímetros no mesmo campo onde Pedro Gonçalves só não sentenciou uma vitória do Sporting (que ali empatou também) por… dois centímetros e saindo a reclamar duas grandes penalidades que, considerado uma de Pepe no primeiro tempo, podiam ser três.

[Ouça aqui a análise do ex-árbitro Pedro Henriques no Sem Falta da Rádio Observador]

“Ficaram três penáltis por assinalar para o FC Porto”

Mantendo as mesmas opções iniciais do encontro frente ao V. Guimarães, com Wilson Manafá (que fazia o jogo 100 na Primeira Liga, após ser lançado pelo saudoso Vítor Oliveira no Portimonense) ainda na esquerda pela ausência de Zaidu, o FC Porto viu o Moreirense ter uma raríssima boa combinação pela direita logo a abrir, com Walterson a ver bem a entrada de Filipe Soares ao primeiro poste mas ligeiramente atrasado, mas agarrou quase de imediato no encontro e foi à procura do resultado em vez de esperar por ele, condicionando por completo a saída dos minhotos a partir de trás ou na primeira fase de construção e instalando-se no meio-campo contrário com Pepe e Mbemba a colocados na linha de meio-campo para fazer subir a equipa. No entanto, pelos erros no último passe ou pelo bom posicionamento dos defesas contrários, não criou oportunidades em 30 minutos.

Os dragões tentavam algumas nuances para desposicionarem a organização sem bola dos cónegos, com Otávio a surgir mais vezes ao meio dando todo o flanco esquerdo a Wilson Manafá e Marega a aparecer entre linhas em vez de procurar como é habitual a profundidade, mas conseguiram a primeira oportunidade à passagem da meia hora inicial com Taremi a rematar fraco para Pasinato aproveitando uma descoordenação da defesa dos cónegos num lançamento em profundidade, seguindo-se mais um bom lance com Corona a ver bem a entrada de Marega nas costas da defesa contrária para um tiro torto quando estava assinalada posição irregular (34′).

Depois, e em menos de cinco minutos, o Moreirense mostrou aquela que tem sido a principal marca enquanto equipa quando defronta equipas “grandes”: a resiliência. O conjunto orientado por Vasco Seabra é aquele que melhor sabe lidar com momentos de jogo contra formações objetivamente superiores, nunca baixando a ideia de sair em transições mesmo depois de um largo período em que mal conseguiu passar do meio-campo. Foi assim que deixou o primeiro aviso por Yan Matheus, numa grande combinação ofensiva apoiada na subida de Abdu Conté pela esquerda e com assistência de Rafael Martins para o remate que desviou em Mbemba e saiu pela linha de fundo (34′). Foi assim que ganhou mais um canto na esquerda do ataque, com Filipe Soares a dar um ligeiro toque para David Simão, o cruzamento a sair com o arco a fugir da baliza para a zona central pouco depois da entrada da área e Ferraresi a rematar de primeira para o golo inaugural do encontro (37′).

Corona, numa insistência perto da área do Moreirense que o levou a rematar descaído na esquerda para um corte providencial de Rosic pela linha de fundo, ainda tentou empatar antes do intervalo, que chegaria com um lance em que Pepe ficou a pedir grande penalidade de Abdoulaye (num lance onde nas repetições parece mesmo ter ficado por marcar uma falta por toque do central sobre o portista), mas o FC Porto sairia mesmo para o descanso atrás no marcador, não tanto pelo que conseguiu fazer quando não tinha bola mas pela incapacidade de chegar a zonas de perigo para finalização em posse. E esse era o principal desafio dos dragões, que entraram a todo o gás no segundo tempo com duas grandes oportunidades por Taremi (na sequência de um fantástico passe de Mbemba por cima da defesa, com defesa de Pasinato) e Sérgio Oliveira (após um livre lateral direto, para nova intervenção do guarda-redes brasileiro) antes de Marchesín evitar o golo de Rafael Martins (50′).

Com mais intensidade e agressividade na forma de chegar à área contrária, o FC Porto conseguia criar outro tipo de dificuldades à organização defensiva do Moreirense, que também por isso sentia mais dificuldades em fazer chegar a bola a um dos médios ou em lançar mais direto num dos alas, e colocava o encontro como mais queria, num sentido único que agora tirava qualquer hipótese de saída ou reação aos cónegos. Faltava ainda assim o golo que colocasse de novo a equipa a discutir a vitória, algo que não aconteceu num misto de infelicidade e de culpa própria, como ficou bem patente num lance em que Mbemba teve outra jogada fantástica numa segunda bola após canto, cruzou para Marega, o primeiro desvio “acertou” em Pasinato e a recarga foi ao poste (58′).

Era altura de começarem as substituições, era altura de girar o botão do ritmo intenso para alucinante, com o jogo a partir por completo e o FC Porto a expor-se por completo numa atitude de total balanceamento ofensivo com Fábio Vieira, Francisco Conceição, Luis Díaz e Toni Martínez em campo entre outras mudanças como a passagem de Uribe para central, de Wilson Manafá para a direita e para uma linha de apenas três defesas. Num erro de Pepe, André Luís teve uma oportunidade flagrante para fechar o encontro, fintando Marchesín e tocando para a baliza antes do corte em carrinho fantástico de Uribe, a salvar um golo certo depois de ter escorregado no início do lance (77′) e a manter intactas as aspirações azuis e brancas em chegar ainda à vitória no final.

Foi o FC Porto que teve ainda fôlego e coragem para chegar ao empate num penálti sobre Toni Martínez convertido por Taremi (86′) e conseguiu a reviravolta com mais um golo do avançado espanhol nos descontos que foi anulado depois pelo VAR, num final de nervos que teve ainda um livre direto de Fábio Vieira travado por Pasinato em cima da linha e a expulsão de Sérgio Conceição após o apito final, protestando com um lance no mínimo duvidoso em que D’Alberto carregou Luis Díaz no limite da grande área, sendo que a única possibilidade de não assinalar grande penalidade é ter considerado que a falta não foi no pé esquerdo já depois de uma outra jogada entre Francisco Conceição e Abdu Conté onde Hugo Miguel mandou seguir, tal como o VAR.