Nem por uma única vez se ouviu o nome do principal partido da oposição. Afinal, não precisava de ser verbalizado – “não sei em quem é que vocês estão a pensar”, brincou Portas – mas o adversário esteve sempre presente a cada frase. Os discursos não estavam previstos, saíram de improviso. Portas substituiu Assunção Cristas que se atrasou na Cimeira do Mar  e Passos Coelho marcou terreno e não o deixou falar sozinho. E nas palavras dos dois uma orientação de mensagem política paras as linhas com que se vai coser o programa eleitoral: este é feito em contraposição ao PS com um “não” ao regresso ao passado e contra um presente de promessas. Mudaram o verbo para lhes chamar “garantias” e acentuam que este programa “não alinha em experimentalismos” e que “não é um leilão de promessas como se se tratasse de vender bacalhau”.

As medidas que constarão do programa da coligação só serão conhecidas depois do debate público sobre as linhas orientadoras que “balizam” aquilo que vai ser o compromisso do PSD/CDS para as eleições legislativas. Para já, tanto Passos Coelho e Paulo Portas quiseram passar a imagem de que este vai ser um programa “previsível”, “coerente” e “viável”. Três adjetivos para resumir: “A nossa proposta é viável, a outras não são”, disse Paulo Portas.

No discurso que fez ao apresentar as “garantias” em que se basearão o programa eleitoral, o líder do CDS deteve-se em cada ponto a responder indiretamente ao programa do PS: “Os portugueses estão fartos de políticos que prometem empregos que não podem criar”, disse para defender que é necessário criar as condições para as empresas porque são essas a criar emprego.

Mas foi quando acusou indiretamente os socialistas de fazerem experiências, sobretudo no que à redução da Taxa Social Única diz respeito, que alinhou o discurso com Passos Coelho. Portas começou por dizer que não alinha “em experimentalismos que podem provocar graves ruturas nas contribuições”. Mas quando se debruça sobre as ideias da coligação sobre a Segurança Social não vai mais longe do que prometer consenso e que qualquer medida não irá contra o Tribunal Constitucional. Depois do terramoto político/eleitoral provocado pela ministra das Finanças – quando admitiu que o corte de 600 milhões de euros poderia ser feito pelo lado de corte de pensões – a coligação trava a fundo para dizer aos eleitores que a medida não está fechada e que “garantir o sistema de Segurança Social e garantir o pagamento das pensões atuais e futuras são deveres que obrigam forças políticas responsáveis como as nossas” a procurar consensos. E mais não disse a não ser que no que respeita à Segurança Social as duas formas sempre “mantiveram o princípio da proteção dos mais frágeis”.

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Passos Coelho – que também fez um discurso que não estava previsto inicialmente – alinhou pela mesma bitola para  dizer que o grupo de trabalho que está a elaborar o programa eleitoral “não precisa de se pôr a espremer a imaginação para surpreender os portugueses, para ir testando esta ou outra ideia para ver se descolamos nas sondagens. Os que vão propor aos dois partidos o programa eleitoral têm apenas de se inspirar na estratégia concertada nos últimos anos e saber focar nos objetivos fundamentais do médio prazo”. Um recado para dentro e para o lado, afinal tinha ao lado Paulo Portas e quis deixar condicionado o comportamento eleitoral dos dois partidos.

Mas não se ficou por aqui. Disse mesmo que “não precisam de inventar. Os eleitores estão cansados de invenções e desconfiam de quem quer sempre mudar tudo, acreditando na providência, que mesmo o desconhecido acabe por resultar em bem”.

Recado dado, mas depois de Paulo Portas ter falado. E este, pelo meio das “garantias” deixou algumas promessas. Disse que se “as condições económicas o permitirem” haverá um desagravamento fiscal mais rápido e uma recuperação do salários dos funcionários públicos mais rápida, mas garantiu que serão feitas com “gradualismo” até porque “se não for usado o gradualismo e não ser tido em conta a possibilidade orçamental, a consequência é uma mera ilusão para efeitos eleitorais”. No leque promessa/garantia, ficou ainda a de “um médico de família para todos os portugueses” e também que a coligação PSD/CDS renovada levará novamente a debate uma revisão da Constituição para, pelo menos, incluir um limite à dívida pública. Até 2019, prometem baixar a dívida pública para 107% do PIB.

Linhas orientadoras apresentadas com uma intenção: sacudir “os profetas da desgraça”, nas palavras de Passos. E porque PSD e CDS têm a “esperança” que os portugueses saberão distinguir entre as duas formas de fazer política.