Nem meia hora passara e já Pedro Rufino tivera tempo para verter umas quantas lágrimas. Teve que sofrer a bom sofrer, porque a televisão também servia para o lembrar, ainda mais, que poderia estar em Baku ao lado de quem costuma estar. “É um orgulho enorme, ainda por cima depois do desgosto de não ir de ver que o Francisco Santos [o treinador da seleção nacional] esteve à altura”, apronta-se a dizer, quando nos atende a chamada apenas um ou dois minutos depois de Tiago, Marcos e João ficarem com umas medalhas de ouro penduradas à volta do pescoço.
É assim, a tratar por tu, cheio de amizade, que Pedro fala dos mesa-tenistas portugueses. Só não está com eles em Baku, no Azerbaijão, como o fez em setembro, em Lisboa, quando Portugal foi campeão europeu, porque o Grupo Desportivo de Guilhabreu não quis. “Não fui libertado pelo meu clube”, revela, com lamento, embora compreenda a decisão. “Tinha estado 10 dias com a seleção na China. A entidade que me paga é o meu clube e ele entendeu que não me devia libertar durante tanto tempo”, explica, lembrando que os tais 10 dias passariam a 20 caso tivesse ido com a equipa portuguesa à primeira edição dos Jogos Europeus, onde Portugal conquistou o torneio por equipas de ténis de mesa.
Foi de bem longe e sem nunca largar uma televisão que Pedro viu Tiago, Marcos e João irem ganhando. Lá ia trocando umas mensagens e uns telefonemas, para ajudar no que podia. “Jogo após jogo senti que a equipa esteve sempre bem e tranquila”, retrata, com um ou outro ruído a irromper chamada dentro, denunciado que à sua volta havia um clima de festa.
É natural: a vitória ainda estava fresquinha. Pedro gostou de a ver e adorou, sobretudo, observar cada um dos mesa-tenistas portugueses a ganharem quando estava um-para-um com os franceses. “O Marcos é talvez dos atletas mais fiáveis em momentos de pressão. É fortíssimo em finais e não era de esperar outra coisa. O Tiago era favorito, embora jogassem na mesma equipa e isso trouxesse fatores extra, pois jogos com colegas de equipas nunca são fáceis”, analisa, para depois chegar à parte dos pares, a única que emperrou os portugueses na final: “Tinham estado muito bem até ali, mas a dupla francesa não ganhou por 3-0 por sorte, porque tiveram match points para isso.”
Aí, no dois contra dois, os gauleses reduziram para 2-1 e obrigaram o benjamim da seleção a jogar para evitar que tudo fosse decidido na negra — a final jogou-se à melhor de cinco jogos. Então, João Geraldo, o canhoto de 19 anos, ganhou e garantiu o ouro a Portugal. “O João esteve incrível. Integrou-se de forma imaculada na equipa e não perdeu qualquer jogo ao longo da competição [por equipas]. Tenho uma grande relação afetiva com ele e não sabia como iria reagir a uma competição destas. Exibiu-se a um nível incrível e foi fundamental no ouro”, defendeu, cheio de orgulho nas palavras, quem, em janeiro, foi considerado o melhor treinador de 2014 pela Federação Internacional de Ténis de Mesa (ITTF).
Foi João, o miúdo, o jovem de Mirandela que só há pouco mais de um ano foi jogar ténis de mesa para a Alemanha (TTF Liebherr Ochsenhausen, o mesmo clube de Tiago Apolónia), que venceu o jogo decisivo. “Não foi a reboque dos outros e misturou-se de forma excelente”, acrescentou Pedro Rufino, que o treino a ele, a Marcos, a Tiago, a João Monteiro e a Diogo Chen — os dois últimos não estão nos Jogos Europeus — quando, em setembro, a seleção conquistou o Campeonato Europeu em Lisboa, na Meo Arena. Agora, conquistadas as duas competições por equipas mais importantes do continente, o que falta a Portugal?
Seguimento. E Pedro explica porquê. “É extremamente importante sentirmos que vem gente atrás destes triunfos. Aquilo que temos de perceber é que vem aí gente que garante um Portugal forte agora e forte daqui por uns anos”, explica, numa frase. Acredita que o país “continuará” a brilhar no ténis de mesa e espera que nenhum treinador volte a ser puxado por um clube para longe da seleção. “A nossa federação não tem um quadro técnico a quem paga e, enquanto assim for, estas situações podem voltar a acontecer. Só espero que não seja comigo”, conclui, sem criticar.
E acaba a lamentar, pois a distância é algo do qual raramente se gosta: “Gostava de os estar a abraçar a todos neste momento.”