A grave epidemia de febre hemorrágica Ébola na África ocidental vai prolongar-se por “vários meses”, declarou hoje o subdiretor-geral para a Segurança Sanitária da Organização Mundial de Saúde (OMS).
É “impossível saber claramente” até onde irá a epidemia, mas “penso que teremos de lidar com esta epidemia durante vários meses”, afirmou Keiji Fukuda, no final de uma cimeira de urgência em Acra, onde estiveram presentes os responsáveis da Saúde de 11 países africanos para debater as medidas de emergência a adotar para lutar contra a epidemia.
A OMS e os países presentes – Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Gâmbia, Gana, Guiné-Conacri, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Senegal, Serra Leoa e Uganda – pediram à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) apoio político e diplomático contra a doença.
Pelo menos 470 pessoas morreram e mais de 760 estão infetadas, no último surto da doença, o mais grave até agora registado, de acordo com a OMS.
A crise sanitária vai ser debatida na próxima cimeira da CEDEAO, que decorre também na capital do Gana, na próxima quarta e quinta-feira.
Na reunião, que começou na quarta-feira e terminou hoje, foi sublinhada a necessidade de os chefes de Estado e de governo da região assumirem um papel determinante para combater a epidemia, destacando o papel da CEDEAL, considerado “essencial para dar apoio político e diplomático”, de acordo com o comunicado oficial.
Os 11 ministros concordaram em reforçar a cooperação para acelerar a resposta à epidemia e eliminar obstáculos, como a falta de comunicação, colaboração, recursos financeiros, controlo da infeção e investigação.
Os países da região exigiram uma ação conjunta, e também externa à zona afetada, para ajudar os países mais afetados – Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa — a tentar evitar a disseminação da doença.
O oeste africano vai mobilizar os líderes políticos, tradicionais e religiosos para aumentar a informação sobre a doença e limitar as crenças e práticas culturais que facilitam a expansão do vírus.
Os líderes africanos comprometeram-se ainda a destinar recursos financeiros e pessoal qualificado para combater a doença.
Os participantes do encontro de Acra reuniram-se para elaborar um roteiro, no qual ficará definida a estratégia contra o Ébola, intercâmbio de informação e colaboração.
A OMS vai estabelecer um centro de controlo regional na Guiné-Conacri, onde primeiro foi registado este surto a 22 de março passado.
Os parceiros internacionais, convidados a participar na cimeira – ONU, UE, Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras (MSF) -, prometeram apoio técnico e financeiro para melhorar a resposta à ameaça do Ébola nos países afetados.
A atual epidemia – um “cocktail” de febres hemorrágicas Ébola, Lassa, Crimeia-Congo – teve origem na Guiné-Conacri, que conta 303 mortos, 193 dos quais atribuídos especificamente ao Ébola.
A Libéria registou 65 mortos (33 atribuídos ao Ébola) e a Serra Leoa 99 (65 atribuídos ao Ébola).
O vírus Ébola, que em poucos dias provoca febres hemorrágicas, seguidas de vómitos e diarreias, foi batizado com o nome de um rio do norte da República Democrática do Congo (antigo Zaire), onde foi registado pela primeira vez em 1976.
A taxa de mortalidade pode ir de 25 a 90% nos seres humanos, consoante as estirpes. Não existe vacina, nem tratamento, sendo apenas possível tratar os sintomas, nomeadamente, com hidratação por via intravenosa dos doentes.
Este vírus, da família dos “filoviridae”, transmite-se por contacto direto com o sangue, líquidos biológicos ou tecidos de pessoas ou animais infetados.
Os rituais funerários, em que familiares e amigos estão em contacto direto com o corpo, têm um papel importante na transmissão da doença.
Esta é a primeira vez que se identifica e é confirmada uma epidemia de Ébola na África Ocidental, sendo que até aqui tinham ocorrido sempre na África Central.